O homem suspeito de ter agredido um casal homossexual durante festa de formatura realizada na Associação Leopoldina Juvenil, em Porto Alegre, veio a público na manhã desta quarta-feira (9) para negar as acusações. O uruguaio naturalizado brasileiro Pablo Gustavo Beis Irigoyen, 55 anos, pai da formanda, afirmou que na verdade teria tentado ajudar a levantar do chão a suposta vítima, o empresário e psicólogo Marcus Vinicio Beccon, 53 anos, que teria tropeçado e caído sozinho.
Beis apresentou sua versão em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha. Ele contou que Beccon interpelou-o três vezes durante a festa, para reclamar que havia convidados jogando água nele e para pedir providência em relação a isso.
– Eu disse: "Não leva a mal, a festa está boa, vamos nos divertir". Ele saiu muito a contragosto. Dois, três minutos depois, ele volta e diz: "Tem de descobrir quem jogou água para expulsar". Pedi a ele: "Releva isso, olha o chão todo molhado, está todo mundo molhado". Ele respondeu que foi um ato homofóbico – relatou Beis.
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Segundo o pai da formanda, na terceira vez Beccon veio de dedo em riste, alterado, acusando a família de "homofóbica".
– Eu disse: "Acho que tu estás exagerando, cara". Nisso, o namorado puxou ele. Ele tropeçou e caiu. Uma duas pessoas tentaram levantá-lo. Eu tentei levantá-lo. Quando ele olhou que era eu, se jogou de novo – afirmou Beis.
O pai da formanda disse que não viu nenhum beijo entre Beccon e seu namorado, o universitário Raul Weiss, de 22 anos, o que foi apontado pelas supostas vítimas como estopim do conflito. Beis disse que Beccon o provocou:
– Durante três vezes ele me perturbou e foi mal educado. Me provocou durante três vezes. Talvez ele queria que eu fosse violento, que eu batesse nele. Eu não bati nele, não toquei nele, não xinguei ele. Tentei apaziguá-lo. O clube alugado era extensão da minha casa, estou pagando por aquele espaço. O mundo não gira no umbigo dele. Tudo o que ele está dizendo ele vai ter de provar.
Pablo Augusto Beis Irigoyen afirmou também que Beccon e o namorado não foram expulsos da festa e disse que a família se sentiu bombardeada por ataques sofridos nos últimos dias:
– Tu trabalhas o tempo todo, tu juntas um dinheirinho, consegues dinheiro emprestado para fazer uma festa. Não tinha espírito de porco na festa, como dizem, tinha espírito de família. Boa parte da mídia já nos condenou. É desagradável, é ruim, minha filha estar dopada. Acha que ela consegue dormir como? Disseram que eu sou um gay enrustido, que minha filha é uma galinha, que meu filho de 12 anos é um viado. Quem nos defende? Ninguém nos defende.
Beis disse que demorou até esta quarta-feira para se pronunciar sobre as acusações, que vieram a público no fim de semana, porque queria apurar se outros convidados teriam ofendido ou acusado o casal gay.
– Quem está com a verdade não tem pressa – sentenciou.
Ao final da entrevista ao Timeline, Beis fez um pedido a um dos apresentadores, David Coimbra:
- Queria pedir para o David que faça uma matéria sobre os homens héteros, trabalhadores, pais de família, que esses não têm representatividade nenhuma.
Denúncia de agressão
Na madrugada de sábado, pouco depois de deixarem o Leopoldina Juvenil, Beccon e Weiss foram ao Palácio da Polícia e registraram a ocorrência 10952/2017. Os namorados indicaram Beis como um dos homens que teriam agredido Beccon com tapas e chutes, logo após ele receber um beijo de Weiss no salão de festas. O casal era convidado da filha de Beis, que na noite da última sexta-feira comemorou no Leopoldina Juvenil sua formatura na Faculdade de Direito da PUCRS.
Na ocorrência, o casal afirma que, logo após o beijo, um grupo de convidados teria se aproximado e jogado bebida neles. Beccon teria pedido providências ao pai da formanda. Nesse momento, conforme relatado na ocorrência, Beccon "foi puxado para um canto por dois indivíduos, os quais não conseguiu identificar, que passaram a lhe agredir, inclusive tendo o sr. Pablo Gustavo Beis Irigoyen participado das agressões, com chutes, pontapés, socos e tapas na cara".
O boletim também reproduz relato feito por Beccon de que, durante a agressão, teriam retirado dele seu Iphone. O aparelho teria sido devolvido no dia seguinte, por intermédio de uma amiga da formanda.
Beccon acredita ter sido vítima de homofobia e, além da ocorrência criminal, pretende processar os supostos agressores. Ele realizou exame de corpo de delito no Departamento Médico Legal e publicou nas redes sociais fotos de lesões nos braços, que teriam sido provocadas pelas agressões. Ele disse ontem que o beijo que teria desencadeado a violência foi "um selinho".
Em entrevista a Zero Hora, o empresário forneceu uma descrição mais detalhada da suposta agressão:
– Ouvi a palavra vagabundo, aí me pegaram pelas costas, me arrastaram pelo salão por uns dois metros, na frente de todo mundo, e me deram chutes e tapas. Enquanto davam tapas, tentei pegar meu celular, mas o pai da formanda arrancou-o de mim. Davam aqueles tapas de mão aberta e diziam: "Viado! Vagabundo!". E o pai dela dizia: "Aqui não é lugar para vocês, eu te falei". O Raul tentava chegar perto, me socorrer, senti a mão dele tentando me puxar, mas foi segurado. Disseram: "Cala a boca ou tu vais apanhar também". Então eu vi que deixaram a mãe da formanda entrar no meio do grupo. Eu disse: "Vou processar vocês". Vi que ela fez cara de apavorada. Depois eu soube que ela é advogada. Ela falou: "Larga ele". Foi aí que me soltaram.