Foi, no mínimo, um susto. Segundo a CEEE, no entanto, o deslocamento de uma tampa de rede que acabou ferindo uma mulher que passava pelo centro de Porto Alegre no domingo não deve ser motivo de preocupação para pedestres que circulam pelo local.
O engenheiro Jeferson Gonçalves, gerente regional metropolitano da companhia, disse nesta segunda-feira que não houve registro de casos semelhantes, pelo menos, nos últimos 15 anos. Ele garantiu ainda que não há risco de explosões no sistema que atende cerca de 40 mil clientes na Capital.
– A chance é zero (de haver uma explosão). O que pode haver é um curto-circuito que desloque a tampa, mas isso também é uma coisa rara – disse.
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Conforme o engenheiro, curto-circuitos em redes subterrâneas não são eventos tão incomuns. Na maior parte das vezes em que ocorrem, no entanto, são imperceptíveis externamente, porque há sistemas programados para desligar a energia nesses momentos, evitando que o evento tome proporções maiores.
Além disso, segundo Gonçalves, há uma diferença importante entre a rede subterrânea da Capital e o sistema do Rio de Janeiro, onde explosões já feriram diversas pessoas e provocaram a morte de uma mulher no ano passado. Diferentemente da capital carioca, onde as redes de energia são compartilhadas com tubulações de gás, em Porto Alegre elas são exclusivas da CEEE.
– Isso não vai acontecer aqui. Não tem como a caixa voar. Ela pode até se deslocar e provocar algum estilhaço, mas nunca vai chegar a um ou dois metros. O gás potencializa – projeta o representante da companhia estadual, que considera a rede subterrânea da Capital "confiável e segura".
O sistema de energia da área central de Porto Alegre – uma região que abrange da Avenida Borges de Medeiros ao Guaíba e se encerra perto do Arroio Dilúvio – foi construído por norte-americanos na década de 1950. Segundo a CEEE, quatro equipes especializadas dedicam-se a sua manutenção diariamente, e uma telemedição feita com fibra ótica permite identificar situações de risco a tempo de prevenir acidentes.
A companhia não sabe dizer ainda qual foi a causa do curto-circuito ocorrido na caixa de ligação de um prédio à esquina da Avenida Borges de Medeiros com a Rua Jerônimo Coelho. A expectativa é de que a origem do problema seja esclarecida nos próximos dias.
Redes subterrâneas são menos vulneráveis
Apesar do incidente que deixou em alerta parte da população da Capital, as redes subterrâneas de energia elétrica são menos vulneráveis a problemas que as redes aéreas, as mais frequentes em Porto Alegre, segundo especialistas.
O doutor em engenharia elétrica e professor da Unisinos Paulo Ricardo Pereira explica que os curto-circuitos são o problema mais comum desse tipo de rede – e também ocorrem nas aéreas. Eles podem ser prevenidos com manutenção periódica, mas a falta de um acompanhamento rigoroso não é o único fator que provoca esse tipo de evento. Alterações como tubulações de gás, escavações, infiltrações e esgotos irregulares podem afetar os equipamentos enterrados e causar problemas.
Por outro lado, as redes aéreas, além de serem menos protegidas – em muitos casos, os cabos não possuem isolamento – estão expostas e, portanto, mais vulneráveis a fenômenos externos, como acidentes veiculares, quedas de árvores, vendavais e tempestades.
– A rede subterrânea é mais robusta e confiável, porque não está sujeita a tantos problemas e exige menos manutenção. O problema é que custa caro – pondera o engenheiro eletricista.
De acordo com o representante da CEEE, atualmente, o custo de um quilômetro de rede subterrânea é de em torno de R$ 800 mil, três vezes mais do que o de uma rede aérea. No quesito problemas de abastecimento, a conta se inverte. Enquanto os clientes do cabeamento enterrado ficam sem energia, em média, duas horas por ano, o sistema mais comum na Capital falha, em média, de oito a 10 horas em cada residência no mesmo período.