As três folhas de papel coladas à entrada da Lotérica Roleta da Sorte, no centro de Porto Alegre, passam quase despercebidas para a maioria das pessoas que circulam pelo local. Mas são os tímidos ofícios que ostentam o principal trunfo da casa: foi dali que saiu um dos ganhadores do mais recente sorteio da Mega Sena, na quinta-feira. Nesta sexta-feira, ele levou para casa o prêmio de quase R$ 14 milhões.
- Encomendei uma faixa grande para pendurar ali (acima do letreiro). Deve chegar amanhã - empolga-se o dono da lotérica, Bernardo Howes.
Desde que assumiu o negócio, em 2012, é a primeira vez que a loja dá tamanha satisfação ao jovem empresário, formado em administração de empresas. Antes de comprar a lotérica, lembra Bernardo, a sorte maior passou perto: um apostador acertou a quina do prêmio mais popular entre os brasileiros.
Se o feito vai virar chamariz de clientes para o local, que recebe cerca de cinco mil apostas por semana, ainda não se sabe. Mas, ao contrário do que muita gente pensa, há uma certeza sobre a chance de o raio da sorte cair de novo na lotérica do centro: ela é exatamente a mesma que a da primeira vez. Quem garante é o matemático Tristão Garcia:
- São eventos independentes. Mas o fato de o lugar ter tido a aposta ganhadora lida com o imaginário das pessoas. Alguém montado na racionalidade nem jogaria, porque sabe que a chance de ganhar é mínima. A pessoa precisa acreditar ser especial para achar que os números que escolheu têm mais chances do que os outros - avalia.
Tristão explica que há um caso em que as chances de a Roleta da Sorte fazer um novo milionário podem, de fato, aumentar. Um crescimento no número de apostadores influenciaria nas probabilidades. Isso porque a chance de emplacar as seis dezenas é o total de combinações possíveis dividido pelo número de jogos simples, ou seja: mais apostas - desde que não sejam repetidas - representam mais oportunidades.
Assim, caso 2 mil pessoas resolvam fazer uma fezinha por lá e todas elas sejam diferentes entre si, a chance de algum apostador da casa acertar é uma em 25 mil. Bem mais animador, mas só para o dono da lotérica. Para o apostador simples - aquele que faz uma aposta de seis números -, ganhar na loteria continua difícil: uma chance em cada 55 milhões.
Velha conhecedora das frustrações que advêm da busca pela sorte grande, a professora Vanilda Parizotto, que aposta regularmente há cerca de cinco anos, não conseguia esconder a decepção por não ter sido a felizarda da vez:
- Eu jogo aqui toda semana... Conferi e não fui eu - disse, cabisbaixa.
Apesar disso, Vanilda, que ganhou cerca de R$ 300 em um sorteio na mesma lotérica anos atrás, não desiste. Na fila do caixa, tinha em mãos bilhetes da Quina, Dupla Sena e Lotofácil.
Já Elisângela Iokman, 39 anos, foi ao local, perto de seu trabalho, só para pagar contas. Para a auxiliar de serviços gerais, que não costuma fazer jogos, a motivação dos apostadores será menos por uma eventual superstição que pela necessidade:
- Na crise em que a gente está, tem que apostar mesmo.
Sorte dupla
Os dois bilhetes premiados do concurso 1.730 da Mega Sena foram comprados em lotéricas do Rio Grande do Sul. Segundo a Caixa Econômica Federal, foram duas apostas simples - uma em Porto Alegre, outra em Santa Maria. Cada um dos bilhetes renderá aos apostadores R$ 13.940.874,15.