Era uma mesa-redonda sobre o amor em diferentes gerações. Debatiam, irreverentes, os poetas Fabrício Carpinejar e Luiz Coronel. Bem à vontade, o patrono da Feira até segredou que dorme nu.
Terminadas as exposições, o mediador, Celso Gutfreind, convidou a plateia a participar. Logo se levantou Francisco Miron, 24 anos, para a intervenção que ninguém poderia adivinhar. E que foi, também, a mais oportuna possível.
- Tenho uma pergunta, mas queria pedir desculpa porque não é nem para o Coronel, nem para o Carpinejar - esclareceu o videomaker, dirigindo-se para o outro lado da Sala Oeste, no Santander Cultural, enquanto explicava aos presentes que vinha pensando nisso havia muito tempo.
- Alessandra, aceita casar comigo?
Francisco e a namorada, a fotógrafa Alessandra Schmitz Pinho, 23, chegaram à praça horas antes, para comprar livros relacionados às profissões de ambos. Consultaram um folheto de programação e descobriram a atividade com Carpinejar, um dos autores preferidos dela. Depararam com a sala lotada, e tiveram de se contentar com o improviso possível: separados, cada um se acomodou em um canto. "É hoje", pensou ele ao sentar.
Antes do clímax arrebatador, que fez a audiência explodir frenética em aplausos, Francisco sofreu. Por uns 40 minutos, convenceu-se e voltou atrás, convenceu-se e voltou atrás, de que aquele era o momento ideal. Enfim levantou a mão, fez sinal pedindo o microfone. Alessandra, espantada com a súbita desenvoltura do namorado, passou a agitar o dedo em negativa, mexendo os lábios na forma de um "não" suplicante, sem voz, lá de longe.
- Bateu um desespero. Me dei conta de que ia acontecer alguma coisa. Ele é muito tímido, e eu falo pelos cotovelos - explica a agora noiva. - Já viu que, quando você faz uma pergunta para ele, sou eu que respondo? - continuou, tentando comprovar as informações prestadas à repórter.
Tarde demais. Enquanto lamentava a informalidade do short e da camiseta que vestia no dia idealizado em ansiosa antecipação, durante um ano de namoro, Alessandra viu Francisco ajoelhar na sua frente, oferecendo um anel simbólico, confeccionado com um pedaço de papel que estava à mão - que o patrono não desconfie, mas era uma tira arrancada do encarte do seu CD promocional, distribuído na entrada. De pé, respondendo mais a todos que comentavam aos cochichos aquele susto do que ao amado, Alessandra se rendeu:
- Tem como dizer não? Sim, eu aceito!
Veio o beijo apaixonado, e senhoras levantaram para abraçar a noiva, incapaz de conter o choro. Exaltavam o conto de fadas, chamavam Francisco de Romeu.
- Foi uma apoteose. Se alguma coisa podia concretizar aquele debate, era isso - lembra Coronel.
O casamento está marcado para 2013, e Carpinejar já se arrisca com sugestões:
- Não sou muito bonito como cupido. Nasci para ser padre. Deixo o Coronel como padrinho.
Veja um vídeo com o casal que protagonizou o inusitado pedido.