A fila para a sessão de autógrafos do músico e escritor Humberto Gessinger, que lança na Feira seu quarto livro, Nas Entrelinhas do Horizonte, cruzava a Praça de Autógrafos na noite dessa terça, indo até em frente ao Memorial do RS. Foi uma das maiores filas registradas até o momento na 58ª Feira do Livro.
A estudante Laura Vinholes conta que se interessou pela literatura de Gessinger ao ler um livro emprestado por uma amiga.
- Estou lendo o primeiro capítulo do novo livro enquanto espero na fila. Parece muito bom - conta Laura.
Já o estudante Lucas Selger diz que se tornou fã de Humberto por influência do irmão, fanático por Engenheiros do Hawaii.
- Acabei de comprar o livro para o Humberto autografar para o meu irmão que está trabalhando agora. Já li outro livro dele, o 366 Variações sobre o Mesmo Tema, é mágico - confidencia Lucas.
No começo da fila Daniela chamava a atenção segurando um disco dos Engenheiros do Hawaii. Ela conta que O Papa é Pop foi o primeiro vinil que ganhou, aos 7 anos de idade.
- Gosto muito do Humberto e sempre leio o blog dele. Acho que ele traduz muito bem algumas ideias que também tenho e não consigo expressar - afirma Daniela.
Bate-papo
Mais cedo Humberto Gessinger participou de bate-papo com o público que lotou a Sala dos Jacarandás do Memorial do RS. Contemplando o horizonte embalado pela trilha sonora que o tornou um dos ícones do rock brasileiro, Humberto, líder do Engenheiros do Hawaii e integrante do projeto Pouca Vogal com Duca Leindecker, aventura-se na literatura há algum tempo. Nas Entrelinhas do Horizonte foi inspirado em textos que o músico publica em seu blog, o BloGessinger. O livro envolveu o desafio de transformar em crônicas os posts do blog.
- A arte sempre passa pelo filtro da razão. A literatura é baseada em memórias e isso é inesgotável. Cada vez chegar é possível chegar mais perto delas. O público tem me dito que se sente mais próximo de mim com os livros - diz Gessinger, que afirma que o exercício de escrever no blog tem feito que ele possa lapidar sua escrita.
O músico e escritor conta que tenta postar no blog sempre no mesmo horário (à meia-noite de segunda para terça), pois considera a questão do tempo real muito relevante.
- Tento não me influenciar pelos comentários das pessoas. Na arte temos que buscar as coisas dentro da gente e correr o risco de que ninguém vá gostar daquilo. Acho tão bom lançar meus textos no blog na meia-noite de segunda pra terça. Parece que só malucos vão ler - diverte-se Gessinger.
Questionado sobre o gênero de literatura que produz, que não se enquadraria em nenhuma convenção, Gessiger afirma que começou o blog de uma maneira anárquica, postando alguns poemas, e que aos poucos sua escrita foi mudando.
- Depois de um tempo comecei a escrever alguns textos diferentes e achei q tinha inventado uma forma de literatura, até que as pessoas começaram a se referir àquilo como crônica. É muito diferente tu chegar a um formato que já existe do que sair de um formato que já existe. O texto vai se formatando por si só - avalia o músico.
Humberto afirma que seus leitores são as pessoas que já o conheciam como músico.
- Acho muito interessante essa convergência da minha música, que dialoga com a minha escrita. Pretendo seguir nesse caminho onde a primeira pessoa está ali, as pessoas sabem quem tá falando - reflete Gessinger.
O músico afirma que tenta evitar temas densos, porém universais, da literatura, como amor e morte.
- Eu ando olhando pra baixo para ver as pegadas que deixo no chão. Tento pensar em coisas pequenas e tirar conclusões dali. Tem muitas lembranças no que lancei até agora, mas nunca é uma lembrança que se esgota em si - avalia Gessinger.
Perguntado sobre se pensa em tornar-se colunista de jornal e escrever sobre temas do cotidiano, Humberto responde que não vê a si mesmo como alguém que escreve sobre assuntos hegemônicos.
- Os fatos enquanto estão acontecendo não me interessam muito, eu sou um pouco lento - avalia o músico e escritor.
Como não poderia deixar de acontecer com dezenas de fãs na plateia, a conversa enveredou para música.
- Gosto muito de música gaúcha. Acho que a gente tá devendo muito fazer uma mistura entre o regional e o universal aqui no RS. Estou muito a fim de trabalhar com isso e recuperar essas coisas, mas sem fazer de conta que sou um gaudério - conta Humberto Gessinger.
Ele também falou um pouco sobre seus próximos rumos musicais.
- A partir de janeiro vou começar a gravar meu novo disco, um álbum solo que vai sair no ano que vem. Quero gravar com vários núcleos, com gente que tocou comigo na trajetória com os Engenheiros. Quero com gravar com várias pessoas, não quero ter uma banda fixa. Só vou montar uma banda na hora de cair na estrada - antecipa o músico.
Humberto também falou sobre os livros que têm lido e deu dicas de leitura para o público.
- Estou lendo um livro do músico Leonard Cohen, A Brincadeira Favorita. Sempre desconfio de livros escritos por músicos. Tarântula do Bob Dylan, por exemplo, é horrível. Pensei que o livro do Cohen fosse ruim, mas é bem legal. Também estou lendo a autobiografia do Neil Young, que é um livro muito bonito. É um pouco extenso, mas é emocionante - conclui Humberto Gessinger.