A prisão de quatro oficiais do Exército e um policial federal por suspeita de conspiração para assassinar altas autoridades da República une a esquerda gaúcha na defesa de punição e divide a direita. Enquanto alguns parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro pregam cautela e guardam silêncio, outros pedem apresentação de provas e levantam suspeitas sobre a investigação federal.
Vice-presidente da República no final de 2022 — época em que teria sido deflagrado o plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes —, o senador Hamilton Mourão (Republicanos) disse à Zero Hora que não irá se manifestar. Atualmente o político gaúcho de maior proximidade com Bolsonaro, o deputado federal Luciano Zucco (PL) também preferiu não falar.
— Vou analisar os fatos antes de me posicionar — justificou Zucco.
Já o presidente do PL no Estado, Giovani Cherini, credita a operação da PF a uma suposta tentativa do Judiciário de proteger a gestão de Lula. Cherini afirma que as informações reveladas por Moraes são “coisas requentadas para esconder as barbáries do governo”.
— Que tipo de prova tem para fazer uma acusação desse tamanho? Se uma pessoa faz uma conversa no WhatsApp ameaçando alguém, isso não caracteriza crime. Não é infração penal imaginar, pensar, combinar alguma coisa, mesmo que constitua crime. Não é crime preparar a realização do ilícito penal sem que haja o início de sua execução — argumenta Cherini.
Para o deputado, as manifestações violentas vistas no país nos últimos anos, como a depredações em Brasília em 8 de janeiro de 2023 e as bombas jogadas contra o STF na semana passada, são uma resposta da população a supostos desmandos da Corte.
— Tudo que se planta aqui, se colhe aqui. A Justiça tem de ser imparcial. O dia que isso acontecer, o Brasil será pacificado – disse o parlamentar, ressaltando que não defende manifestações violentas.
Bibo Nunes (PL) prefere aguardar provas mais robustas porque o país “vive um mar de incertezas”. Bibo afirma ainda que jamais houve tentativa de golpe de Estado e que não há provas de participação de Bolsonaro em qualquer conspiração.
— Sou contra qualquer violência. Vivemos um momento conturbado e se alguém cometeu algum ato contra o país que seja punido. É preciso esperar as investigações para se chegar à verdade. Há uma tentativa de se implicar Bolsonaro, mas até agora prova cabal não existe — diz Bibo.
Na esquerda, o entendimento é de que os episódios apontados na investigação são graves e precisam de punição exemplar. Para o deputado Miguel Rossetto (PT), a revelação do plano durante o encontro do G20 no Rio reforça a necessidade, perante a comunidade internacional, de o país mostrar que não tolera ameaças aos fundamentos da democracia e à vida de seus representantes máximos legitimamente eleitos.
Líder do PT na Assembleia Legislativa, Rossetto também afirma que o Congresso deve descartar de vez qualquer discussão sobre anistia.
— O país está diante de uma escolha: a democracia ou a barbárie. De um lado, temos a democracia, as liberdades e a luta por justiça social. Do outro, o crime, o submundo e a violência contra o presidente da República, o vice e um ministro do STF. Não há qualquer hipótese de anistia. O Brasil deve à sua população e ao mundo, aqui representado pelas lideranças globais do G20, uma resposta de que país quer ser — sustenta o parlamentar.
Vice-líder do PSOL na Câmara, Fernanda Melchionna entende que a PF precisa ampliar a investigação. Para a deputada federal, o inquérito deve priorizar agora a busca pelos financiadores e autores da suposta trama golpista. Melchionna cita, por exemplo, o fato relevado pela PF de que houve uma reunião para tratar da investida contra Lula, Alckmin e Moares na casa do general Braga Neto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro.
— Eles contavam tanto com a impunidade que chegaram a imprimir o plano de assassinato de Lula de dentro do Palácio do Planalto, ainda durante o governo Bolsonaro. É preciso punir os mentores intelectuais desta trama, membros da alta patente do exército, da PF e políticos envolvidos.