Jornalista formada pela PUCRS, colunista de Política de ZH e apresentadora do programa Gaúcha Atualidade, na Rádio Gaúcha.

"Punhal Verde e Amarelo"
Análise

Plano que previa matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes tem conexão com atos subversivos

Acampamento em quartéis, queima de carros em Brasília, fala de Braga Netto, atentado contra o aeroporto e quebra-quebra do 8 de Janeiro de 2023 são parte do mesmo enredo

Rosane de Oliveira

Enviar email
Ricardo Stuckert / Divulgação
Alexandre de Moares entrega diploma de presidente para Luiz Inácio Lula da Silva, foto de dezembro de 2022.

A operação Contragolpe também poderia ser chamada de Bola de Neve ou Fio de Novelo. Porque o plano para assassinar o presidente Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o então presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, não é um ato isolado de um grupo de militares aloprados. O plano precisa ser visto no contexto de uma armação que começa com a inconformidade do então presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados com o resultado da eleição.

Relembrando, Bolsonaro enfurnou-se no Palácio da Alvorada, enquanto seus apoiadores foram para os quartéis na esperança de que o Exército decretasse uma intervenção militar. Nos bastidores, segundo a investigação da Polícia Federal hoje revelada, tramava-se, mais do que um golpe de Estado, uma sequência de assassinatos que provocariam uma convulsão social no Brasil, com mais mortos e feridos.

Também de acordo com a investigação, o plano de cometer os crimes no dia da diplomação, onde estariam os três alvos preferenciais, foi orquestrado na casa do general Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro na eleição de 2022. Aqui é preciso relembrar uma tarde chuvosa em Brasília, quando Braga Netto passou pelo cercadinho a caminho do Alvorada e teve uma breve e reveladora conversa com o grupo que ali estava.

Uma mulher reclamou que os apoiadores estavam fazendo a parte deles, protestando debaixo de chuva, e Bolsonaro não fazia nada para mudar o resultado da eleição.

— Ei, senhora. Tem que dar um tempo, tá bom? Vocês não percam a fé. E só o que eu posso falar agora. Eu não posso conversar mais — disse o general.

O mesmo Braga Netto teria chamado o general Torres Freire, comandante do Exército, de “cagão” por não aderir ao golpe.

Mas não foi só isso. Houve o ato terrorista de queimar carros em Brasília e invadir a sede de Polícia Federal para tentar impedir a diplomação de Lula e Alckmin. Houve uma tentativa de atentado ao Aeroporto Juscelino Kubitschek com a colocação de uma bomba em um caminhão carregado de querosene de aviação. Felizmente, o plano deu errado. Se desse certo, seriam incontáveis inocentes mortos às vésperas do Natal de 2022.

O novelo segue sendo desenrolado e o quebra-cabeças ganha novas peças. A delação do coronel Mauro Cid permitiu à Polícia Federal juntar pedaços que ajudam a entender o tamanho da conspiração das figuras envolvidas nesses e em outros atos subversivos que deságuam no 8 de Janeiro.

Os presos na ofensiva desta terça-feira são braços a serviço de um crime contra a democracia e o Estado brasileiro. Faltam os cabeças. Essa operação, somada ao atentado que o homem que detonou uma bomba em frente ao Supremo Tribunal Federal tornam impossível ao Congresso aprovar a anistia aos baderneiros do 8 de janeiro.

GZH faz parte do The Trust Project
Saiba Mais
RBS BRAND STUDIO

Galpão da Gaúcha

08:00 - 09:30