Ao entregar as primeiras 44 casas a vítimas da enchente de maio, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva respondeu as críticas de demora nas ações para mitigar os danos do desastre climático. Em 20 minutos de discurso na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, o presidente se dirigiu pessoalmente ao governador Eduardo Leite logo no início da fala.
— Estou com muitos números aqui, mas não vou utilizar. Isso vai ser resultado de uma conversa minha com o governador em algum momento — disse Lula.
Em tom elevado de voz e se movimentando sobre o palco, Lula citou R$ 32 bilhões de investimentos federais do PAC no Estado, a presença de 32 ministros durante a enchente e os repasses feitos ao agronegócio.
— O agronegócio tá reclamando do que? Nunca antes na história do Brasil o agronegócio teve um Plano Safra como no meu governo. Eu nunca pedi nada. Eles que falem o que quiser, eu ajudo porque a agricultura é importante para esse país — continuou.
De costas ao público e olhando diretamente nos olhos de Leite, o presidente disse que a recuperação econômica do Estado já está em curso, com aumento da arrecadação de ICMS. Sentado, o governador reagiu fazendo sinal de negativo com a mão.
— Toda vez que você olhar para o governo federal, saiba que tem um amigo. Eu não disputo nada com você. Gosto de ser respeitado e respeitar as pessoas — afirmou o presidente.
Diante de uma plateia formada por populares, militantes e integrantes de movimentos sociais, Lula havia ido ao microfone antes mesmo do início do evento. Ao perceber vaias ao governador, pediu respeito.
— Eu queria que a gente se comportasse como se ele estivesse visitando a nossa casa — comparou.
Em discurso antes do pronunciamento de Lula, Leite citou declaração do presidente feita mais cedo, durante entrevista à Rádio Gaúcha, segundo a qual o governador estaria sempre insatisfeito. Em resposta, Leite citou os desafios enfrentados em seis anos de mandato, como atraso de salários, estiagens, a pandemia e a enchente, salientando a necessidade de união.
— Não interessam as divisões políticas que tenhamos, o povo nos uniu. Se é pra divergir, é na bola, a gente não vai na canela — respondeu Leite durante discurso.
Na sequência, Leite disse que apresentava direitos legítimos dos gaúchos. No encerramento, lembrou já ter sido vaiado por simpatizantes do ex-presidente Jair Bolsonaro no governo passado e minimizou os gritos de "Fora Leite".
— O importante é que na eleição a maior parte da política falou "Bora Leite" — disse o governador, que ao retornar às cadeiras das autoridades teve uma rápida altercação com o deputado federal Bohn Gass (PT).
A troca de alfinetadas entre Lula e Leite ocorreu na agenda inicial dos três compromissos presidenciais previstos para o dia em solo gaúcho. A previsão é de que Leite acompanhe os outros dois eventos, no Grupo Hospitalar Conceição e no viaduto da Scharlau, em São Leopoldo.
Entrega de moradias
Na Lomba do Pinheiro, Lula inaugurou um empreendimento do Minha Casa Minha Vida. Durante a solenidade, foram entregues 256 residências.
São 173 apartamentos do condomínio Morada da Fé, na Lomba Pinheiro — 41 deles destinados a famílias atingidas pela cheia de maio —, 80 no residencial Dois Irmãos, no bairro Aberta dos Morros, e mais três unidades do programa Compra Assistida, da Caixa Econômica Federal, esses últimos também para quem teve a casa alagada.
Beneficiada com uma das residências, Marisiania Nolasco fez um relato da luta pela sobrevivência durante a enchente, quando saiu de casa no bairro Sarandi com a água no peito.
— Eu não sei falar bonito, mas vou falar com o coração. A gente saiu dali sem esperança nenhuma do que seria o amanhã. Eu estava trabalhando numa empresa no último mês do contrato temporário. Estava sem casa, sem emprego, e hoje a gente está aqui, vendo que realmente Deus existe — afirmou.
Pouco antes da solenidade, Lula visitou um dos apartamentos de 52 metros quadrados do Morada da Fé. Ao lado de três famílias contempladas, ele percorreu as seis peças do imóvel e posou para fotografias. Depois, se reuniu com autoridades atrás do palco.
No evento, foram assinadas portarias autorizando a construção de empreendimentos do Minha Casa Minha Vida no Estado, com investimento de R$ 186 milhões. Também foi formalizado um acordo com o Ministério Público Federal para acelerar a entrega de outras unidades do programa até o final do ano, totalizando 1.290 habitações.
Da Lomba do Pinheiro, Lula se dirigiu ao Grupo Hospitalar Conceição, onde inaugura o Centro de Oncologia e Hematologia. À tarde, ele faz a entrega oficial do Complexo Viário da Scharlau, em São Leopoldo. Dali, segue de helicóptero para a Base Aérea de Canoas, embarcando na sequência de volta a Brasília.