Nos últimos quatro anos, o líder do bloco conhecido como centrão no Congresso Nacional, Arthur Lira (PP-AL), solidificou seu domínio tanto na Câmara dos Deputados quanto no cenário político. Durante esse período, o parlamentar ampliou sua riqueza pessoal por meio de investimentos imobiliários, como a compra de uma luxuosa casa de praia em Alagoas, além de aquisições de terras e investimentos bancários.
No ano passado, em sua declaração ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Lira informou que seu patrimônio totalizava R$ 5,9 milhões. Conforme o jornal O Estado de S. Paulo, esse valor representa um aumento de 247% em relação à eleição de 2018, na qual ele declarou possuir R$ 1,7 milhão em bens.
Lira foi eleito como deputado federal pela primeira vez em 2010, quando declarou ao TSE possuir R$ 2 milhões. No entanto, quatro anos depois, ele relatou ter apenas R$ 1,1 milhão. Após essa queda, seu patrimônio começou a crescer novamente. Em 2018, o deputado declarou possuir bens no valor de R$ 1,7 milhão, e no ano passado, esse valor subiu para R$ 5,9 milhões.
Uma investigação conduzida pela Polícia Federal está em andamento para apurar atividades suspeitas de aliados próximos a Arthur Lira em Alagoas. Recentemente, a instituição enviou uma investigação ao Supremo Tribunal Federal (STF) relacionada a fraudes e desvios de R$ 8 milhões na compra de kits de robótica para escolas. Essas aquisições foram realizadas com verbas provenientes do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e mencionam o nome de Luciano Cavalcante, ex-assessor direto do parlamentar, que ocupava um cargo na liderança do PP na Câmara e foi exonerado após a operação.
Lira e o kit robótica: veja as suspeitas e investigações sobre o presidente da Câmara
Ao enviar o inquérito da Operação Hefesto ao Supremo Tribunal Federal (STF), a Polícia Federal (PF) ampliou as suspeitas sobre a participação de autoridades em esquema de desvios na compra de kits de robótica para escolas públicas de Alagoas.
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que não é citado nos primeiros relatórios da investigação, foi implicado depois que os policiais apreenderam anotações manuscritas de uma série de pagamentos a "Arthur". Os registros somam cerca de R$ 265 mil, como revelou a revista Piauí.
Entenda o passo a passo da investigação
- Quando começou a investigar a compra de kits de robótica para escolas públicas de Alagoas, em abril de 2022, a Polícia Federal deu início a um pente-fino nos contratos firmados por 43 prefeituras alagoanas com uma mesma empresa: a Megalic LTDA.
- Os investigadores se depararam com indícios de superfaturamento e direcionamento das licitações. A suspeita é que os editais tenham sido previamente combinados com a empresa para incluir exigências que a beneficiassem e restringissem a concorrência. Os kits foram comprados por valores até 420% acima da média do mercado.
- A PF também encontrou cidades que compraram kits muito além da necessidade. A prefeitura de Girau do Ponciano, por exemplo, tem 1.857 alunos matriculados na rede pública fundamental e contratou oito mil equipamentos.
- O passo seguinte foi reconstituir o histórico da Megalic para descobrir quem está por trás da empresa. O CNPJ está registrado em nome de Roberta Lins Costa Melo e Edmundo Catunda, pai do vereador de Maceió João Catunda (PSD), aliado de Lira.
- A lupa da PF foi então direcionada para as movimentações financeiras da Megalic. Os policiais se debruçaram sobre relatórios produzidos pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e identificaram transferências suspeitas para uma teia de pessoas físicas e jurídicas, o que permitiu ampliar o rol de investigados.
- Um casal chamou a atenção da Polícia Federal: Pedro Magno e Juliana Salomão Dias. Eles teriam vínculos com 25 CNPJs diferentes, o que acendeu o alerta dos investigadores sobre a possibilidade de serem operadores especializados em lavagem de dinheiro. Policiais passaram meses à paisana seguindo os dois e descobriram uma intensa rotina de saques fracionados em espécie em agências bancárias e entregas presenciais em Brasília e em Maceió. O esforço da PF agora é para desvendar os destinatários do dinheiro. Ambos foram presos na Operação Hefesto.
- Foi monitorando o casal que a Polícia Federal chegou a Luciano Cavalcante. A PF descobriu que um dos carros usados pelo casal de operadores para fazer os saques em Maceió ficava na casa do auxiliar e da mulher dele, Glaucia Cavalcante, que seriam os donos do veículo. Em nota, o advogado André Callegari, que defende Luciano Cavalcante, informou que ele conhece superficialmente Pedro Magno e o carro foi emprestado quando Luciano estava fora de Alagoas.
- Ao cruzar os dados das movimentações da Megalic, os investigadores chegaram também a Alexsander Moreira – diretor de Apoio à Gestão Educacional do Ministério da Educação (MEC), ele foi exonerado após a Operação Hefesto. Moreira era responsável pelo setor que avalia o cumprimento de metas do Plano Nacional de Educação (PNE) pelos municípios. Moreira teve R$ 737 mil em movimentações financeiras consideradas suspeitas.
- Outros dois personagens com passagens em cargos públicos estão na mira da investigação. O deputado federal Gilvan Máximo (Republicanos-DF) e o veterinário Laurício Monteiro Cruz, ex-diretor de Imunização do Ministério da Saúde na gestão do general Eduardo Pazuello. Eles foram filmados em restaurantes de Brasília recebendo entregas de Pedro Magno.
O que diz a defesa de Arthur Lira
"Toda movimentação financeira e pagamentos de despesas do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, seja realizada por ele e, às vezes, por sua assessoria, tem origem nos seus ganhos como agropecuarista e da remuneração como deputado federal", afirma em nota.