O ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Augusto Heleno, desistiu de prestar depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos atos antidemocráticos. A oitiva havia sido adiada para quarta-feira (19), na Comissão Legislativa do Distrito Federal (CLDF), a pedido do próprio general. Heleno, contudo, procurou o deputado distrital Chico Vigilante (PT), presidente da CPI, nesta terça (18), para avisá-lo da desistência.
Heleno explicou ter sido aconselhado por advogados a não depor. O general disse ao deputado distrital que suas falas poderiam "colocar mais gasolina na fogueira". Vigilante afirmou que o ex-ministro do GSI "teme incriminar o chefe dele", o ex-presidente Jair Bolsonaro. Por causa da desistência de última hora, a CPI não deverá ouvir ninguém nesta semana.
A CPI foi instalada na CLDF para apurar os ataques ocorridos na capital federal em 8 de janeiro. Manifestantes bolsonaristas depredaram prédios públicos e invadiram o Supremo Tribunal Federal (STF), o Congresso Nacional e a presidência da República. O grupo extremista contestava o resultado da última eleição, em que Luiz Inácio Lula da Silva saiu vitorioso, e clamava por um golpe de Estado sob o pretexto de "intervenção militar". Mais de 2 mil pessoas foram presas.
Heleno é peça-chave na investigação dos atos antidemocráticos. O ex-ministro de Bolsonaro é apontado como o mentor intelectual da tentativa de golpe e suspeito de ser conivente com os extremistas. Chico Vigilante ainda acusa integrantes do GSI de terem participado da depredação no dia 8 de janeiro.
Heleno é autor de uma série de falas que foram usadas por bolsonaristas para contestar as eleições. O general já criticou ministros do STF, disse que "bandido não sobe a rampa" — em referência à posse do presidente Lula em 1º de janeiro de 2023 — e chegou a participar de manifestações antidemocráticas durante o governo Bolsonaro.
Procurado via aplicativo de mensagens, Heleno não respondeu sobre o motivo de ter desistido de prestar depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos.
Na próxima semana, a CPI deverá ouvir a coronel Cíntia Queiroz de Castro, da Polícia Militar do Distrito Federal (MPDF). Também estão marcados para as sessões seguintes depoimentos de outros policiais e de empresários, bem como do general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, então chefe do Comando Militar do Planalto durante as invasões golpistas em 8 de janeiro.