Após a repercussão das recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre a guerra na Ucrânia durante viagem à China e Emirados Árabes, além da recepção formal em Brasília ao chanceler russo, Serguei Lavrov, o porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, refez o convite para que o presidente brasileiro vá a Kiev de modo a "compreender as reais razões" da guerra e a "essência da agressão russa".
O pedido da Ucrânia foi reforçado depois da visita de Lavrov, na segunda-feira (17), onde foi formalizado convite do presidente russo, Vladimir Putin, para Lula participar do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo (SPIEF), previsto para junho.
Em entrevista a jornalistas na saída do Palácio da Alvorada, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, confirmou que Lula recebeu o convite.
— O presidente recebeu o ministro Lavrov para uma visita de cortesia. O ministro Lavrov foi portador de uma carta de Putin para Lula para ir à Rússia para o fórum econômico de São Petersburgo — disse.
A tensão sobre o tema cresceu após o ministro e Lula terem recebido a visita de uma comitiva russa liderada pelo chanceler nesta segunda. Lavrov destacou que Brasil e Rússia partilham da mesma visão sobre a guerra. Vieira, por sua vez, em resposta aos comentários do governo dos Estados Unidos, disse não concordar "de forma alguma" que o país estaria alinhado aos russos, destacando que as duas nações possuem uma "história em comum".
"Ucrânia não precisa ser convencida de nada"
Em uma publicação no Facebook, Nikolenko declarou que a abordagem que coloca vítima e agressor na mesma escala não corresponde à situação real.
"A Ucrânia não precisa ser convencida de nada. A guerra de agressão está sendo travada em solo ucraniano e está causando sofrimento e destruição incalculáveis. Mais do que ninguém no mundo, buscamos o fim da agressão russa com base na Fórmula da Paz proposta pelo presidente (Volodimir) Zelensky", destacou.
O porta-voz ressaltou ainda que a Ucrânia "observa com interesse" os esforços do presidente do Brasil para encontrar uma solução para acabar com a guerra, e reforçou o convite para que Lula visitasse o país "a fim de compreender as reais razões e a essência da agressão russa e suas consequências para a segurança global".
No início de março, Lula conversou com o presidente ucraniano Volodimir Zelensky por videoconferência. Na ocasião, se ofereceu para auxiliar na mediação do conflito e foi convidado a visitar o país.
Reações
Quando ainda estava em solo chinês, Lula afirmou em coletiva de imprensa que era preciso que os Estados Unidos parassem de "incentivar a guerra". A mesma opinião foi proferida em relação à União Europeia (UE). Tanto a reação da Casa Branca quanto da UE foram duras, e o porta-voz de Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, disse que o petista estava "reproduzindo propaganda russa e chinesa" com uma abordagem "profundamente problemática".
Já o porta-voz da Comissão Europeia, Peter Stano, disse que as ações do bloco não alimentaram o conflito.
— A verdade é que a Ucrânia é vítima de uma agressão ilegal que viola a Carta das Nações Unidas — disse.
Em outro momento, já em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, Lula voltou a comentar sobre o conflito e repetiu o argumento que proferiu em maio de 2022, ao atribuir a responsabilidade do confronto entre Rússia e Ucrânia a ambos os países.
— A decisão da guerra foi tomada por dois países — ressaltou.
O presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, por sua vez, divulgou um comunicado pedindo que o Brasil "não traia" as esperanças dos brasileiros descendentes de ucranianos que moram no país. Ele comentou que Lula foi ingênuo em suas declarações.
— Se ele quer ser imparcial e lutar pela paz na Ucrânia, ele tem de ter menos ingenuidade em relação à Rússia porque é um país que, tradicionalmente, não respeita acordos internacionais — completou.
Esta não é a primeira vez que o presidente diz falas polêmicas em relação à guerra. Mesmo antes de vencer as eleições em outubro do ano passado, o petista fez inúmeras declarações sobre o embate.