É enganoso que o FBI (Departamento Federal de Investigação dos Estados Unidos) tenha vindo ao Brasil investigar os atos antidemocráticos de 8 de janeiro a pedido de parlamentares dos Estados Unidos. O órgão não tem jurisdição para fazer investigações em solo brasileiro. O pedido feito por deputados estadunidenses ao presidente Joe Biden, citado no post verificado, é para averiguar se houve, em solo norte-americano, alguma ação de organização dos atos golpistas no Brasil.
Conteúdo investigado
Em vídeo publicado no TikTok, homem afirma que agentes do FBI teriam desembarcado no Brasil para investigar os atos de 8 de janeiro em Brasília a pedido de parlamentares do Partido Democrata estadunidense. A ação estaria “causando pânico no governo Lula”. A peça de desinformação acrescenta que a vinda do FBI ao país teria motivado o comparecimento do ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara Federal, bem como o retorno do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Brasil.
Onde foi publicado
TikTok.
Conclusão do Comprova
É enganoso que o FBI (Federal Bureau of Investigation), a Polícia Federal dos Estados Unidos, tenha desembarcado no Brasil para investigar os atos de 8 de janeiro, como afirma vídeo viral no TikTok. A embaixada norte-americana esclareceu ao Comprova que “os representantes dos Estados Unidos não têm mandato ou jurisdição para conduzir operações em território brasileiro”.
No site da instituição, o FBI esclarece que só faz investigações em outros países mediante convite. O secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, afirmou à BBC News em janeiro que o Brasil não solicitou formalmente cooperação para investigação.
O homem que aparece no vídeo afirma que a suposta vinda do FBI ao Brasil teria sido desencadeada por um pedido de deputados do Partido Democrata dos Estados Unidos.
Como publicaram a BBC News e o Washington Post, um grupo de 46 deputados democratas assinou uma carta enviada ao presidente estadunidense Joe Biden pedindo que o país tomasse medidas para evitar servir de “refúgio” ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, que, à época, estava nos EUA. Os parlamentares associam ações de Bolsonaro à invasão do dia 8 de janeiro ao Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.
A carta tem uma citação ao FBI, mas não implica na vinda de agentes norte-americanos ao território brasileiro:
“Pedimos que o FBI e outras agências relevantes de aplicação da lei dos EUA investiguem quaisquer ações que tenham sido tomadas em solo dos Estados Unidos para organizar este ataque ao governo brasileiro”, diz o documento.
Ou seja, a investigação solicitada seria para averiguar se os atos antidemocráticos foram organizados e/ou coordenados por pessoas que estavam nos EUA.
Diferentemente do que aponta o vídeo desinformativo, não foi por causa da suposta vinda do FBI ao Brasil que o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, prestou esclarecimentos à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania da Câmara dos Deputados.
Os objetivos da convocação eram esclarecer as mudanças na política de controle de armas do governo federal; explicar as ações adotadas no âmbito de seu ministério e do governo após os ataques ocorridos no dia 8 de janeiro; esclarecer a visita que fez ao Complexo da Maré; além de fazer um balanço dos primeiros meses de atuação à frente do ministério, citando prioridades e diretrizes para o resto do ano.
Ao Comprova, o Ministério da Justiça disse que “a hipótese constitui um disparate” e que “tal investigação pelo FBI não existe e é juridicamente impossível”.
Como não houve vinda de agentes do FBI ao Brasil, esta também não foi a motivação para a volta do ex-presidente Bolsonaro ao país, como afirma o autor do conteúdo de desinformação.
Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor.
Alcance da publicação
O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. Até o dia 10 de abril de 2023, a postagem no TikTok havia sido vista 359,9 mil vezes e recebido 16,7 mil curtidas e 1,3 mil comentários.
Como verificamos
Primeiramente, buscamos no Google por “FBI desembarca no Brasil para investigar” e “FBI desembarca no Brasil para investigar atos golpistas de Brasília”. Encontramos checagens de conteúdos similares feitas por outras agências de fact-checking (Lupa e Boatos.org).
A busca também retornou uma reportagem da BBC de janeiro deste ano relacionada ao tema. Na sequência, pesquisamos por “Flávio Dino CCJ” e encontramos o link do vídeo da audiência, na íntegra, da qual o ministro participou recentemente na Câmara.
Por fim, a partir das pistas obtidas após a leitura dos conteúdos, enviamos e-mail à assessoria de imprensa da Embaixada dos Estados Unidos e ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Também tentamos contato com o autor do vídeo viral.
O que diz o responsável pela publicação
O Comprova tentou contato com o autor do post a partir de uma conta no Twitter que leva o mesmo nome do perfil que publicou o vídeo no TikTok, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação.
O que podemos aprender com esta verificação
O autor da postagem enganosa usa artifícios para gerar a ilusão de importância e urgência em quem vê o vídeo, como a expressão “Bomba!”, logo no início, acompanhada de trilha sonora dramática. Esses elementos servem para prender a atenção da pessoa que entra em contato com a peça de desinformação e para impulsionar o compartilhamento do post, que parece apresentar uma informação “bombástica”, “exclusiva”.
Outro sinal de que o vídeo não se baseia em informações confiáveis é que, em nenhum momento, o autor cita a fonte do conteúdo que está divulgando.
Por que investigamos
O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp (11) 97045-4984.