É falso o post segundo o qual um “general da Marinha” teria aplicado sanções contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) porque o governo autorizou que navios iranianos atracassem na costa brasileira.
A publicação usa um vídeo de uma cerimônia na Assembleia Legislativa de São Paulo em comemoração ao Dia do Marinheiro, em 16 de dezembro de 2022 – ou seja, quando Lula sequer havia assumido e não poderia ter dado tal autorização, que ocorreu em 2023. Além disso, o chefe do Executivo é o comandante supremo das Forças Armadas, então, não poderia ter recebido uma sanção de alguém abaixo dele.
Conteúdo investigado: Post no Facebook com legenda afirmando “Urgente: General da Marinha Aplica Sanções em LUL4 Por Navios Iranianos”. O vídeo em questão mostra, porém, uma cerimônia na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) aparentemente sem relação com a questão dos navios iranianos.
Onde foi publicado: Facebook.
Conclusão do Comprova: Post mente ao afirmar, na legenda, que um general da Marinha teria aplicado sanções a Lula por navios iranianos. O vídeo usado no conteúdo é de uma cerimônia em comemoração ao Dia do Marinheiro, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), em 16 de dezembro de 2022, quando o petista sequer havia assumido como presidente ainda. A decisão de aceitar que embarcações vindas do Irã atracassem em águas brasileiras foi tomada pelo governo brasileiro em janeiro.
O post também erra ao afirmar que um oficial da Marinha pode aplicar sanções ao chefe do Executivo. Conforme o artigo 142 da Constituição, as Forças Armadas, das quais a Marinha faz parte, ficam “sob a autoridade suprema do presidente da República”. Portanto, não cabe a qualquer integrante da Marinha, Exército ou Aeronáutica aplicar sanção a alguém que está em posição hierárquica superior.
Além disso, o post utiliza o termo “general da Marinha”, referindo-se a um posto que não existe na Marinha, como mostra o site da Marinha do Brasil. General é uma graduação dada a integrantes do Exército, enquanto que, na Marinha, o posto equivalente é o de almirante de esquadra, vice-almirante ou contra-almirante.
Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma falsidade.
Alcance da publicação: O Comprova investiga os conteúdos suspeitos com maior alcance nas redes sociais. O vídeo com a informação falsa teve 63 mil visualizações, 1,4 mil compartilhamentos e 4,4 mil curtidas até o dia 10 de março.
O que diz o responsável pela publicação: Contatado pela reportagem via mensagem direta no Facebook, o Canal Direita Cristã não respondeu até a publicação deste texto.
Como verificamos: O Comprova analisou os discursos proferidos no vídeo postado. Ao final do seu discurso, o vice-almirante Guilherme da Silva Costa agradece ao deputado Castello Branco (PL-SP) pela homenagem aos marinheiros. Em seguida, a imagem em plano aberto foi verificada em pesquisa pelo Google Lens e se confirmou tratar de um evento no Plenário Juscelino Kubitschek, da Alesp. O Comprova também entrou em contato com a Marinha e o Ministério de Relações Exteriores.
O vídeo
O vídeo da postagem investigada aqui mostra, além do discurso do vice-almirante Guilherme, a participação de um mestre de cerimônias em um púlpito com o logo da Alesp. A partir de 4 minutos e 20 segundos, há discurso do presidente do Sociedade Amigos da Marinha de São Paulo (Soamar/SP) e representante do Iate Clube de Santos, Mario Walace Simonsen. Ele inicia sua fala dizendo que a cerimônia se dá em comemoração ao Dia do Marinheiro, em alusão à data de nascimento do almirante Joaquim Marques Lisboa, Marquês de Tamandaré e patrono da Marinha do Brasil, no dia 13 de dezembro.
Segundo o site da Alesp, o ato solene foi promovido pelo deputado Castello Branco (PL-SP). O vídeo completo da cerimônia está no canal oficial da Alesp no YouTube. Os discursos completos foram verificados e não há qualquer alusão aos navios iranianos e nem mesmo ao presidente Lula, se tratando apenas de falas elogiosas à história da Marinha e da corporação.
Navios iranianos no Brasil
Em 13 de janeiro, o governo brasileiro concedeu permissão para que os navios de guerra iranianos Iris Makran e Iris Dena atracassem no porto do Rio de Janeiro entre 23 e 30 de janeiro, como mostra publicação no Diário Oficial da União (DOU).
Dias depois, o Brasil cedeu à pressão do governo dos Estados Unidos, que não tem relações diplomáticas com o Irã, e recuou da permissão, que coincidiria com a visita de Lula a Joe Biden, em Washington.
Depois, em 23 de janeiro, o governo brasileiro autorizou a vinda dos navios entre 26 de fevereiro e 4 de março.
A decisão foi criticada pelo governo Biden, que a considerou “lamentável”, embora soberana, conforme o jornal Folha de S. Paulo publicou.
O Comprova tentou contato com o Ministério das Relações Exteriores, mas não obteve resposta. Em entrevista ao canal GloboNews, Maria Laura Rocha, secretária-geral do órgão, afirmou que a vinda das embarcações se deu por conta da comemoração dos 120 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Irã e que “as tensões entre Estados Unidos e Irã são problema desses países".
Ela também pontuou que isso não deve causar atrito nas relações do Brasil com o governo norte-americano.
— Quando você tem um bom relacionamento de verdade, você pode discordar em algumas coisas — declarou.
O que podemos aprender com esta verificação: Desinformadores costumam apresentar seus conteúdos com expressões que chamam a atenção, como a palavra “bomba”, utilizada no conteúdo verificado aqui. Então, devemos considerar que posts que começam dessa forma, se não são de veículos profissionais, devem logo suscitar dúvidas. Desconfie e busque pelos termos usados na publicação em sites de busca.
Outro ponto de atenção é que o perfil escreve “Lul4”, com um número quatro no lugar da letra “a”, e não Lula. Quando vir conteúdos assim, desconfie também, já que esta é uma tática usada por quem quer desinformar. Ela é utilizada para evitar que as publicações sejam facilmente encontradas, mantendo-as fora do radar dos algoritmos das redes sociais e, assim, dificultando que sejam removidas ou tenham alcance reduzido.
Por que investigamos: O Comprova monitora conteúdos suspeitos publicados em redes sociais e aplicativos de mensagem sobre políticas públicas e eleições no âmbito federal e abre investigações para aquelas publicações que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações pelo WhatsApp (11) 97045-4984.