Após depoimento de quase três horas de duração, o ex-presidente Jair Bolsonaro deixou por volta das 17h30min desta quarta-feira (5) a sede da Polícia Federal (PF), na região central de Brasília, onde foi ouvido pela primeira vez sobre os três pacotes de joias dados de presente pelo governo da Arábia Saudita em viagens oficiais ao Exterior e trazidas ao Brasil.
Bolsonaro, que chegou ao local por volta das 14h30min e entrou por uma garagem dos fundos do prédio, em carro discreto, saiu sem falar com a imprensa.
No Twitter, Fabio Wajngarten, ex-ministro das Comunicações do governo Bolsonaro, disse que o depoimento do ex-presidente "transcorreu de maneira absolutamente tranquila, tendo respondido a todas as indagações feitas pela PF. Foi uma ótima oportunidade para esclarecimentos dos fatos".
De acordo com o portal g1, Bolsonaro afirmou em depoimento que ficou sabendo da existência das joias sauditas milionárias em dezembro de 2022, mais de um ano após elas terem chegado ao país, mas que não lembra quem o avisou. E que está "convicto" de que não praticou irregularidades.
Além de Bolsonaro, prestaram depoimento nesta quarta-feira — de forma simultânea, em Brasília, São Paulo e no Rio de Janeiro — o tenente-coronel Mauro Cid, que era ajudante do antigo chefe do Executivo, e outras oito pessoas, entre elas, o ex-assessor especial Marcelo Camara e o ex-chefe da Receita Federal Julio Cesar Vieira.
O inquérito da PF apura se o ex-presidente, ao ficar com as joias, cometeu o crime de peculato — quando um funcionário público se apropria de dinheiro ou bens dos quais tem posse em razão de seu cargo.
Sem mobilização de apoiadores
Em Brasília, a PF reforçou a segurança em torno do prédio para onde foi marcada a oitiva e isolou o estacionamento público no local. Havia a expectativa de que apoiadores de Bolsonaro se manifestassem em frente à sede da PF para prestar apoio, mas somente um homem vestido com a camiseta da seleção brasileira de futebol apareceu no local, conforme o jornal Estadão.
O prédio o depoimento foi realizado é o mesmo atacado por bolsonaristas em dezembro do ano passado sob o pretexto de libertar um indígena da militância de extrema direita que havia sido preso por ordem do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes.
Relembre o caso
No dia 3 de março, foi revelado que uma comitiva do então presidente Jair Bolsonaro, liderada por um ministro, tentou ingressar no Brasil, em outubro de 2021, com um conjunto de joias avaliado em cerca de R$ 16,5 milhões, que seriam um presente do governo da Arábia Saudita para o ex-presidente e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
A Receita Federal apreendeu os objetos no aeroporto de Guarulhos, pois os itens precisavam ser declarados ao ingressar no Brasil e não poderiam ser considerados itens pessoais, caso contrário, deveria ser pago imposto de importação. Sem esclarecer a destinação, até os últimos dias de seu governo, Bolsonaro tentou reaver as joias, sem sucesso. O pacote apreendido continha um conjunto com colar, anel, relógio e um par de brincos de diamantes avaliados em R$ 16,5 milhões. As joias são da marca suíça Chopard.
Quando ainda estava nos Estados Unidos, Bolsonaro reclamou que estava sendo acusado por um presente que nem tinha chegado a ele.
— Me acusam por um presente que não recebi, nem a primeira-dama — declarou, em 4 de março, alegando ainda que não tinha usado a estrutura da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir a buscar as joias em Guarulhos:
— Não mandei nenhum avião da FAB. Para de maldade. Nunca abusei de autoridade com ninguém.
Além disso, um segundo pacote também foi trazido ao Brasil e recebido no Palácio da Alvorada, contendo um relógio, uma caneta, abotoaduras, um anel e um masbaha (peça semelhante a um rosário, mas muçulmano) da marca suíça de diamantes Chopard, que foram trazidos ao país por uma comitiva do Ministério de Minas e Energia, em outubro de 2021, no retorno de um evento no país do Oriente Médio.
Um terceiro kit de joias, que inclui um relógio Rolex de ouro branco cravejado de diamantes, foi devolvido pela defesa do ex-presidente no início da tarde de terça-feira (4). Ao terminar o mandato em 2022, Bolsonaro levou consigo esse terceirto pacote com valor estimado em mais de R$ 500 mil. Compõe ainda esse conjunto uma caneta da marca Chopard prateada, com pedras encrustadas, um par de abotoaduras em ouro branco, com um brilhante cravejado no centro e outros diamantes ao redor, um anel em ouro branco com um diamante no centro e outros em forma de “baguette” ao redor, uma “masbaha” de ouro branco com pingentes cravejados em brilhantes.