A Polícia Federal investiga a ida do ex-ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro, Anderson Torres, à Bahia, na véspera do segundo turno das eleições presidenciais de 2022. A viagem, à época, foi justificada para reforçar a atuação de policiais federais no combate a crimes eleitorais, como compra de votos.
No entanto, há suspeita de que Torres tenha viajado para pressionar a PF local a barrar eleitores na região onde Lula, candidato do PT, tinha mais votos. As informações foram divulgadas pelo site G1 e pelo jornal O Globo.
Sem agenda prévia, Torres viajou para a Bahia acompanhado do então diretor geral da PF, Marcio Nunes. No local, ele orientou o superintendente da PF na Bahia, Leandro Almada, para coibir, em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal, crimes eleitorais.
Conforme jornalistas da Globonews e do jornal O Globo, a viagem de Torres à Bahia ocorreu um dia após o ex-deputado federal Roberto Jefferson ter atirado e lançado granadas contra policiais federais que foram à casa dele, no interior do Rio de Janeiro, para cumprir um mandado de prisão. O motivo foi um vídeo que o ex-parlamentar publicou na internet em que ofendeu a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF). Na época, Torres foi escalado por Jair Bolsonaro para ir até a casa de Jefferson para acompanhar o caso, mas recuou.
No dia 30 de outubro, segundo turno das eleições, o então diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, comandou diversos bloqueios em rodovias no Nordeste, supostamente a título de fiscalizar eventuais irregularidades em veículos, o que dificultou a chegada de eleitores aos locais de votação.
Na noite anterior, o ministro Alexandre de Moraes havia proibido a PRF de realizar qualquer operação que pudesse afetar o transporte de eleitores. Vasques é investigado pelas operações, e foi exonerado do cargo no final de 2022.
Desde o dia 14 de janeiro, Anderson Torres está preso, investigado por suposta omissão no controle dos atos antidemocráticos de 8 de janeiro. Ele estava no cargo de secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, mas deixou o país, com destino aos Estados Unidos, dias antes dos atos golpistas.
Em nota, o advogado de Anderson Torres, Eumar Novacki, informou que assumiu a defesa do ex-ministro há poucos dias, e que a equipe está “estudando o processo e preparando uma defesa estritamente técnica”. “Os autos do inquérito são extensos e, por este motivo, não vamos nos precipitar com comentários de qualquer natureza ou emitir posicionamento sobre quaisquer fatos, sejam eles novos ou não. Nossas manifestações serão feitas nos autos”, informa.
A reportagem entrou em contato com a Polícia Federal e aguarda retorno.
Repercussão
A notícia repercutiu entre ministros do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Paulo Pimenta, disse, em rede social, que “o cerco está fechando”.
“Primeiro encontraram a minuta do golpe na casa de Anderson Torres. Agora, a PF achou um relatório com as urnas favoráveis a Lula no gabinete do ex-ministro, locais exatos onde a PRF fez blitz no 2º turno. Bolsonaro precisa pagar pelos seus crimes!”, afirmou, fazendo referência à minuta de decreto para alterar o resultado das eleições de 2022 apreendida pela PF na casa de Torres, no início deste ano.
Também em post em rede social, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, afirmou que foi “achado o plano de boicote às eleições: Bolsonaro, através do ministro Anderson Torres e do Chefe da Polícia Rodoviária Federal, executaram um plano de bloqueio da chegada dos eleitores do Lula nas urnas no Nordeste”.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que, desde janeiro, a Polícia Federal “está levando adiante todas as investigações necessárias e cabíveis”.
“Sem espetáculos impertinentes e com estrito cumprimento da lei. Os resultados são informados na medida em que seja legalmente possível”, acrescentou Dino.