O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, embarcou nesta terça-feira (11), por volta das 7h30min, em viagem para a China. Inicialmente, a visita estava agendada para ocorrer em março, mas precisou ser adiada em razão de Lula ter sido diagnosticado com uma pneumonia.
Esta será a terceira viagem oficial de Lula ao gigante asiático: a primeira foi em 2004, e a segunda, em 2009. Esta visita ocorre após um convite do presidente chinês, Xi Jinping. Na comitiva brasileira também estarão ministros, parlamentares e empresários.
A China segue sendo o maior parceiro comercial brasileiro. Por isso, estarão em pauta a consolidação de acordos bilaterais envolvendo temas como agronegócio e tecnologia, mas os representantes dos dois países também devem tratar de cooperações no campo das mudanças climáticas e até na promoção da paz internacional, debatendo possíveis soluções para a guerra na Ucrânia.
Confira abaixo os principais pontos da viagem da comitiva brasileira à China, que inclui ainda uma parada nos Emirados Árabes Unidos.
Agenda
O primeiro compromisso oficial de Lula na China está previsto para ocorrer no dia 13, em Xangai. Na cidade, o chefe do Executivo nacional acompanhará a cerimônia oficial de posse de Dilma Rousseff como presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), dos Brics.
No dia seguinte, o presidente da República chega a Pequim. Na capital chinesa, Lula se encontrará com o presidente Xi Jinping.
Na programação da viagem antes do adiamento, também estavam previstos encontros de Lula com o primeiro-ministro da China, Li Qiang, e com o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji, que ainda não foram confirmados para esta visita.
Já no dia 15, o presidente brasileiro inicia o seu retorno ao Brasil, fazendo escala em Abu Dhabi. Na capital dos Emirados Árabes Unidos, Lula terá reunião oficial com o xeique Mohammed bin Zayed Al Nahyan. Também está previsto um encontro com os gestores da companhia de investimentos Mubadala e da Autoridade de Investimentos de Abu Dhabi (AIAD).
Principais temas que serão tratados na viagem
A agenda bilateral entre os representantes dos dois países abrangerá temas como agronegócio, comércio, infraestrutura, reindustrialização, transição energética, tecnologia e inovação, vestuário e mudanças climáticas.
Diferentemente da viagem aos Estados Unidos, em que não foram anunciados acordos, desta vez, em Pequim e Xangai, o governo brasileiro deve assinar pelo menos 30 iniciativas. O foco destes acordos deverá ser nos setores do agronegócio, de satélites, 5G, nanotecnologia, computação quântica e tecnologia da informação.
De acordo com Celso Amorim, também entre os objetivos da viagem está atrair investimentos chineses e discutir projetos de infraestrutura e governança global.
— A China é um parceiro fundamental para o Brasil. Temos com a China uma parceria estratégica. É um país fundamental na política mundial hoje. Acabou de demonstrar isso fazendo algo que parecia muito difícil, que é a paz entre a Arábia Saudita e o Irã, países que têm uma rivalidade muito grande. A China é hoje um dos países que mais emitem CO2. O clima terá uma importância, mas também vamos falar sobre investimento, infraestrutura, governança global — afirmou.
Do lado brasileiro, há interesse em ampliar o atual patamar de US$ 70 bilhões de investimentos chineses em setores estratégicos, como energia e infraestrutura. O comércio bilateral, na ordem de US$ 150 bilhões, é favorável ao Brasil, com superávit de US$ 28 bilhões no ano passado. Os produtos principais são commodities, soja e minério, mas também se busca aumentar esse relacionamento com exportações de alto valor, como aviões.
Há acordos em diversas áreas sendo levantados pelo Itamaraty para a viagem. Uma possibilidade seria expandir a cooperação espacial, com o lançamento de um novo satélite produzido em parceria. O programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (Cbers) já produziu e colocou em órbita seis satélites. O primeiro lançamento ocorreu em 1999, e o último em 2019. Os investimentos passam até agora dos US$ 300 milhões.
Ainda, Lula deverá promover uma proposta para que o Brasil participe de um eventual processo de diálogo multinacional para encerrar o conflito entre Moscou e Kiev.
Por que esta viagem é importante para o Brasil?
Em entrevista coletiva após o anúncio oficial da visita de Estado, ainda em março, o porta-voz da diplomacia chinesa, Wang Wenbin, afirmou que o encontro "marcará o começo de uma nova era e um novo futuro para as relações entre Brasil e China, em nível de chefes de Estado".
As conversas irão "promover a associação estratégica integral entre China e Brasil a um novo nível e haverá novas contribuições para a promoção da estabilidade e da prosperidade regional e global", acrescentou Wang.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil, com US$ 152 bilhões de comércio bilateral no ano passado, à frente dos Estados Unidos, US$ 88,8 bilhões. Ainda, o Brasil é o principal destino dos investimentos chineses na América Latina e, ao mesmo tempo, o maior fornecedor de produtos agropecuários para o país asiático.
Além de expandir a relação comercial, Lula busca recuperar o protagonismo internacional do país. Ainda em seu discurso de posse no Congresso, o presidente prometeu retomar a "integração sul-americana" e um diálogo "altivo e ativo" com os Estados Unidos, a comunidade europeia e com a própria China.
Brasil e China também são membros fundadores do Brics, ao qual ainda pertencem Rússia, Índia e África do Sul. Após indicar Dilma Rousseff para presidir o Novo Banco de Desenvolvimento do grupo, Lula estará presente na cerimônia oficial de posse da ex-presidente da brasileira na instituição.
Comitiva
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, não vai integrar a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na viagem à China. Segundo sua assessoria, ele cancelou a participação por orientação médica, já que está se recuperando de uma cirurgia de hérnia umbilical, procedimento considerado de baixa complexidade.
Por outro lado, a presença do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, está confirmada na delegação. A assessoria de comunicação de Pacheco informou que o presidente do Senado acompanhará a comitiva de Lula, salvo ocorra algum imprevisto.
Em ofícios enviados à Câmara e ao Senado, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, convidou 29 deputados e oito senadores para a missão. Cerca de cem empresários brasileiros também deverão fazer parte da comitiva, assim como alguns ministros, incluindo Carlos Fávaro, Camilo Santana e Fernando Haddad.
O deputado federal gaúcho Heitor Schuch (PSB) será um dos parlamentares integrantes da delegação. Schuch foi convidado para a comitiva na condição de presidente da Comissão de Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados.
— A China é um grande parceiro comercial do Brasil, e isso vem de longa data. Para nós gaúchos, isso é muito significativo, em especial quando falamos de grãos, carnes e tabaco. A expectativa é de que consigamos avançar nos acordos para vender aos chineses produtos elaborados — ressaltou Schuch, único parlamentar gaúcho confirmado na viagem.
Quatro governadores também devem acompanhar Lula na viagem: Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte, Carlos Brandão, do Maranhão, Jerônimo Rodrigues, da Bahia, e Elmano de Freitas, do Ceará.
Parada em Abu Dhabi
Após a viagem à China, a comitiva brasileira inicia o seu retorno em 15 de abril, com uma parada em Abu Dhabi. Na capital dos Emirados Árabes Unidos, Lula também terá compromissos oficiais.
O primeiro será um encontro com o xeique Mohammed bin Zayed Al Nahyan. Na ocasião deverão ser abordados temas da agenda bilateral entre os dois países, incluindo comércio, investimentos, crise climática, transição energética e cooperação em segurança internacional.
No país do Oriente Médio, ainda estão previstos encontros com os gestores da companhia de investimentos Mubadala e da Autoridade de Investimentos de Abu Dhabi (AIAD), com objetivo de buscar investimentos em infraestrutura no Brasil. Ainda nos Emirados, poderá ocorrer uma reunião com os organizadores da COP 28, que será realizada entre novembro e dezembro no país. Já no dia 16, a comitiva retorna a Brasília.