Empolgados com o retorno daquele que definem como líder absoluto da direita brasileira, bolsonaristas gaúchos e de outros Estados se prepararam para recepcionar o ex-presidente Jair Bolsonaro na próxima quinta-feira (30), quando está previsto que ele desembarque em Brasília após três meses de viagem aos Estados Unidos. A expectativa é de que cerca de 10 mil pessoas, entre políticos e apoiadores, lotem o saguão do aeroporto Juscelino Kubitschek, na capital federal.
Bolsonaro deve chegar ao Brasil no 89º dia de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, no momento em que o petista enfrenta dificuldade para formar a sua base no Congresso, sofre críticas por falas sobre o ex-juiz e senador Sergio Moro (União Brasil) e pressiona o Banco Central pela queda da taxa básica de juro. Aliados do ex-presidente acreditam que ele poderá unificar a oposição a Lula, mantendo coeso o grupo conservador que o apoiou em 2022.
— Tinha muita gente reclamando (da viagem aos Estados Unidos), mas ele voltando agora vai dar um novo ânimo, principalmente com esse desgaste do Lula, que nunca esteve tão por baixo. Foi uma feliz coincidência — avalia o deputado federal Bibo Nunes, que pretende comparecer à recepção no aeroporto.
Já a deputada federal Daiana Santos (PCdoB) considera que o retorno de Bolsonaro ao Brasil "cria uma incerteza na estabilidade política e democrática" do país. A deputada cobra a responsabilização do ex-presidente por possíveis crimes na gestão da pandemia, pelo caso das joias apreendidas pela Receita Federal e pela suposta interferência na Polícia Federal.
— É fundamental que as autoridades estejam preparadas para lidar com qualquer eventualidade e garantir que a democracia brasileira não seja abalada. As instituições democráticas devem prevalecer, e a justiça deve ser feita para que o país possa seguir em frente.
Além da missão de liderar a oposição, os planos traçados para Bolsonaro no retorno ao Brasil incluem a tarefa de viajar pelo país para fortalecer as candidaturas do PL nas eleições municipais de 2024. A disputa é vista como uma espécie de "teste" e "terceiro turno" pelos bolsonaristas, que apostam na desidratação do apoio popular a Lula e na ampliação do número de prefeituras administradas pelo partido de Bolsonaro.
Sobre 2026, os apoiadores do capitão reformado do Exército dizem que ainda é muito cedo para discutir a sucessão presidencial. De qualquer forma, deputados ouvidos por GZH não escondem a preocupação com a possibilidade de que Bolsonaro seja declarado inelegível em decorrência de processos que correm no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que forçaria a escolha de outro nome no campo da direita para concorrer ao Planalto.
Recepção no aeroporto
Conforme a direção do PL, Bolsonaro deve desembarcar por volta de 7h30min de quinta-feira em Brasília. A expectativa é de que ele seja recebido por uma multidão, a exemplo dos atos de recepção em aeroportos nas campanhas presidenciais de 2018 e 2022. Os deputados do PL dizem que a recepção será "espontânea".
— A vinda do Bolsonaro vai ser um boom, uma festa muito grande. A população vai para o aeroporto. Vai ser mais ou menos como na eleição — projeta o deputado federal Giovani Cherini, presidente do PL gaúcho.
Aliado de primeira hora do ex-presidente, o deputado federal Ubiratan Sanderson (PL-RS) conta que conversou com Bolsonaro na última segunda-feira (27) e ouviu do ex-presidente a garantia de que não haverá nenhuma motociata após o desembarque, como chegaram a cogitar apoiadores.
— Ele volta para ter uma vida comum, de ex-presidente. Terá um papel político no PL, de divulgação das pautas conservadoras Brasil afora — projeta Sanderson.
Por enquanto, não há nenhum evento previsto com a participação de Bolsonaro ainda na quinta-feira, após o desembarque.
Oposição a Lula
Passado o período em que Bolsonaro chegou a ser criticado por aliados pela decisão de ausentar-se do país, a conclusão de bolsonaristas agora é de que o retorno dele fortalece a oposição a Lula e consolida o seu papel como líder da direita. Questionados por GZH, apoiadores gaúchos do ex-presidente são unânimes na avaliação de que a saída do Brasil foi um movimento acertado e de que o retorno acontece em boa hora.
O ex-vice-presidente e senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), por exemplo, considera que Bolsonaro "retorna para assumir sua posição de líder legítimo do maior movimento de massas dos dias atuais".
Sanderson pondera que a saída temporária foi muito importante, "sobretudo num momento em que a efervescência política era muito grande no país".
Já Cherini dá um passo além e afirma que, se Bolsonaro tivesse permanecido no Brasil, poderia estar respondendo por "coisas que não fez".
— Se o Bolsonaro tivesse ficado, onde ele estaria hoje? Tentaram colocar na conta dele um papel apócrifo que encontraram na casa de um ex-ministro — diz Cherini, fazendo referência à minuta encontrada na residência do ex-ministro da Justiça.
A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), adversária histórica de Bolsonaro na Câmara, acredita que o ex-presidente não terá condições de reunir a oposição, pois "estará muito ocupado respondendo aos processos que correm na Justiça contra ele" e "se reunirá mais com seus advogados do que com líderes políticos".
— Bolsonaro saiu do governo pela porta dos fundos do palácio. Deixou um rastro de destruição no Brasil e tirou longas férias nos Estados Unidos. Ele ainda conta com fanáticos como os terroristas de 8 de janeiro. Mas se a oposição o tiver como líder, se esvaziará explicando a corrupção e a destruição que ele promoveu — afirma a deputada.
O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) diz que a volta de Bolsonaro ao Brasil fortalece a polarização:
— A presença do Bolsonaro deveria, sim, servir pra fortalecer a oposição. O problema que a oposição não é de projetos nem de ideias, e sim de narrativas de ódio e de rixa. Esse acirramento da briga entre Bolsonaro e Lula só faz mal para o Brasil. Um se alimenta do extremismo do outro e todos nós perdemos.
Eleições municipais
Como presidente de honra do PL e presidente do PL Mulher, Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle devem viajar pelos Estados brasileiros para promover as candidaturas do partido nas eleições municipais de 2024. No Rio Grande do Sul, o partido pretende lançar candidaturas nas maiores cidades do Estado.
— Teremos candidaturas próprias em todos os municípios que têm TV. O presidente Bolsonaro só estará em campanha se o candidato a prefeito for do PL — observa Cherini.
A intenção dos líderes da legenda é concentrar no PL a força eleitoral e o uso da imagem de Bolsonaro, para que os prefeitos eleitos pelo bolsonarismo sejam efetivamente filiados à legenda. O objetivo é evitar o que ocorreu nas últimas eleições, quando, na avaliação de Cherini, uma série de políticos de outros partidos como Republicanos, MDB e PSDB foram eleitos na carona de Bolsonaro.
Em Porto Alegre, o PL deverá apoiar a reeleição de Sebastião Melo, pois o vice-prefeito Ricardo Gomes é filiado ao partido de Bolsonaro. Além disso, três deputados estaduais são cotados para disputar prefeituras pela legenda no próximo ano. Kelly Moraes cogita concorrer à prefeitura de Santa Cruz do Sul, Claudio Tatsch avalia disputar em Cachoeira do Sul e Paparico Bacchi poderá se lançar em Erechim.