Ao menos quatro empresas de amigos, ex-assessoras e uma cunhada do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, ganharam cerca de R$ 36 milhões em contratos com a prefeitura de Vitorino Freire, no Maranhão. O município, governado pela irmã de Juscelino, contratou as firmas com verbas do orçamento secreto e de emendas parlamentares destinadas por ele.
Há aspectos em comum entre os beneficiados. Todos intensificaram os negócios a partir de 2015, quando Juscelino assumiu pela primeira vez uma cadeira de deputado — três deles foram abertos no início do mandato.
Duas ex-assessoras que trabalharam no gabinete de Juscelino tornaram-se sócias da Arco Construções. Enquanto Anne Jakelyne Silva Magalhães deixou o cargo comissionado na Câmara para ser uma das donas da empresa, Candida Santana fundou a companhia e depois virou assessora do deputado.
O portal da transparência de Vitorino Freire registra que a Arco fechou pelo menos nove contratos, no valor total de R$ 16,2 milhões, entre 2017 e 2022, para a recuperação de estradas, reformas de prédios, locação de caminhões e construção de praças e de uma escola.
Atualmente, a Arco é administrada por Antonio Tito, marido de Candida. Entre os nomes que formam a rede de empresas, Tito é irmão de um outro dono de companhia beneficiada pelas verbas. Na terça-feira (31), reportagem do jornal Estadão mostrou que Diogo Tito ainda é sócio oculto da Mubarak, que ganhou R$ 2,9 milhões para obras de estradas vicinais. Ao todo, a firma acumulou R$ 4,8 milhões em contratos. Na segunda semana como ministro, Juscelino recebeu o empresário no gabinete sem registrar na agenda oficial.
A quarta empresa ligada ao ministro das Comunicações que ganhou contratos com a prefeitura de Vitorino Freire é a Maranhão Asfaltos. A firma tem como sócia-administradora Aline Cavalcanti Fialho Vale, irmã da mulher de Juscelino, Lia Cavalcanti. A companhia ganhou três contratos de R$ 1,3 milhão, entre 2017 e 2018, para o fornecimento de concreto para estradas.
Outra obra executada por empresário ligado ao ministro é o asfaltamento de uma estrada de 19 quilômetros que beneficia oito fazendas da família de Juscelino em Vitorino Freire. O contrato, de R$ 5 milhões, foi firmado com a Construservice, de Eduardo Imperador, amigo do ministro há 20 anos. No total, a firma ganhou R$ 14,1 milhões.
Juscelino Filho ainda apresentou dados falsos à Justiça Eleitoral ao prestar contas de sua campanha a deputado no ano passado. Para justificar um gasto de R$ 385 mil com táxi aéreo, ele apresentou listas de passageiros de voos de helicóptero sem relação com a campanha. Uma família de São Paulo aparece em 23 dos 77 relatórios de viagens pagas com dinheiro público.
Contrapontos
Advogados do ministro Juscelino Filho disseram à reportagem que ele "não é sócio das referidas empresas, assim como não é responsável por contratá-las". "O ministro não pode responder pelo trabalho de terceiros", afirmaram Ticiano Figueiredo e Pedro Ivo Velloso.
A defesa não comentou o fluxo de pessoas entre o gabinete do deputado e as empresas que fecharam contrato com o município de Vitorino Freire. A prefeita Luanna Rezende, irmã do ministro, não retornou o contato.
Ex-sócio da Arco, Julio Neto respondeu "não ter conhecimento" sobre as informações apresentadas. Aline Cavalcanti, da Maranhão Asfaltos, também não retornou o contato da reportagem. Antonio Tito disse que todas as licitações vencidas por sua firma foram legais. Em alguns casos, as empresas foram as únicas concorrentes.