Ministro das Comunicações do governo Lula, Juscelino Filho apresentou informações falsas à Justiça Eleitoral para pagar, com dinheiro público, 23 viagens de helicóptero feitas durante a campanha dele a deputado federal, no ano passado. Conforme informações divulgadas nesta terça-feira (31) pelo jornal O Estado de S. Paulo, o político informou que os voos foram feitos por "três cabos eleitorais", mas os nomes apresentados são de um casal e da filha deles, de 10 anos, que moram em São Paulo — e que dizem não conhecer Juscelino.
Com essa lista de passageiros, o agora ministro justificou o pagamento de R$ 385 mil do Fundo Eleitoral.
Outra reportagem, também publicada pelo Estadão, apontou que Juscelino Filho direcionou R$ 5 milhões do orçamento secreto para asfaltar uma estrada de terra que passa em frente à fazenda dele em Vitorino Freire, no Maranhão — cidade cuja prefeita é irmã do político. A propriedade também abriga uma pista de pouso para o avião particular do político e um heliporto.
"Cabos eleitorais"
Citados na planilha que Juscelino entregou à Justiça Eleitoral do Maranhão, o empresário Daniel Pinheiro de Andrade e a mulher, Angela Camargo Alonso, negaram ter relação com a campanha do então deputado do União Brasil.
— Isso aí está errado, provavelmente é uma fraude. Não tenho nenhuma ligação com campanha nem com político no Maranhão. Usaram meu nome, da minha família, da minha filha — afirmou Andrade.
O empresário disse ainda que voou há cinco meses com a Rotorfly Táxi Aéreo, a mesma empresa usada por Juscelino, mas da cidade de São Paulo para Campos do Jordão.
— Não tem nada a ver com o Maranhão. Provavelmente, usaram meu nome e puseram na comprovação de despesas. Eles pegaram a lista de passageiros do voo que eu voei e replicaram — disse.
Os documentos sobre a contratação da Rotorfly Táxi Aéreo, que listam os nomes dos passageiros, foram enviados à Justiça Eleitoral pelo ministro em formulário fora do padrão, com rasuras e misturando informações digitadas e escritas a mão. Os planos de voo indicam registros de sobrevoo em que as cidades de origem e destino são as mesmas.
Com a lista falsa de passageiros, o ministro justificou o pagamento de R$ 385 mil do Fundo Eleitoral para a campanha. Os dados foram apresentados a partir de questionamento da Justiça Eleitoral, que desconfiou do vínculo dos passageiros com o comitê do parlamentar.
"Todos os voos foram feitos em prol da campanha eleitoral, bem como todas as pessoas que constam nos relatórios prestaram serviços diretamente à campanha", assinalou a defesa do ministro na prestação de contas.
Escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para comandar um dos principais ministérios, com orçamento de R$ 3 bilhões, Juscelino era um deputado federal do baixo clero até 2022, eleito para o terceiro mandato. Nunca teve influência em discussões nacionais, muito menos no setor de radiodifusão. Tinha, porém, força no centrão. Nos últimos quatro anos, apresentou seis projetos de lei, entre eles o que estabelece o Dia Nacional do Cavalo, animal criado em suas terras.