Concebida para ser uma ação policial permanente, sem número de fases definido nem data para acabar, a Operação Lesa Pátria se tornou a principal investida das autoridades para prender envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro em Brasília. Até agora, a Polícia Federal já foi às ruas três vezes, em cumprimento a 20 mandados de prisão preventiva e 43 de busca e apreensão. Por enquanto, as ações ocorreram em oito Estados - não houve atividade no Rio Grande do Sul.
O objetivo é identificar pessoas que participaram, financiaram ou incentivaram as invasões do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal (STF). Todos são investigados pelos crimes de abolição violenta do Estado democrático de direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime e destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido. Entre os alvos da Lesa Pátria estão personagens marcantes do 8 de janeiro.
Na segunda-feira passada (23), foi preso o homem que destruiu o relógio fabricado pelo francês Balthazar Martinot, presente de Luís XIV à família real e que foi trazido ao Brasil em 1808 por D. João VI. Morador de Catalão (GO), Antônio Cláudio Alves Ferreira foi detido em Uberlândia (MG), após duas semanas em fuga. Filmado no exato momento em que jogava a relíquia histórica no chão, Ferreira foi o único alvo da segunda fase da Lesa Pátria.
A operação havia sido deflagrada três dias antes, mirando oito prisões e 16 buscas e apreensões. Na última sexta-feira (27), já na terceira fase, a PF prendeu 11 pessoas, entre elas Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, a “Dona Fátima de Tubarão”. Vestida com uma roupa estampada pela bandeira do Brasil e toda encharcada, ela aparece em vídeos dentro do STF ameaçando o ministro Alexandre de Moraes.
— Vamos para a guerra. Vou pegar o Xandão — disse Fátima na ocasião.
Outro alvo da terceira fase da Lesa Pátria foi um sobrinho do ex-presidente Jair Bolsonaro. Leonardo Rodrigues de Jesus, conhecido como Léo Índio, teve a casa varejada por agentes federais em cumprimento a mandado de busca e apreensão. Filho de uma irmã de Rogéria Nantes, ex-mulher de Bolsonaro, Léo Índio é muito próximo dos três primeiros filhos do ex-presidente, Flávio, Eduardo e Carlos. Também investigado no inquérito dos atos antidemocráticos, Léo Índio entrou na mira da PF após postar fotos junto à rampa do Congresso Nacional em meio aos ataques às sedes do poder em Brasília.
Todos os investigados na Lesa Pátria terão a conduta analisada pelo Grupo Estratégico de Combate aos Atos Antidemocráticos.
Criado pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, para atuar exclusivamente na apuração aos ataques à sede dos três poderes, o grupo é coordenado pelo subprocurador-geral Carlos Frederico Santos. Cabe a ele descartar ou incluir suspeitos, solicitar mandados e medidas cautelares, bem como processar os responsáveis pelas invasões.
Na sexta-feira, enquanto a PF estava nas ruas, Santos denunciou mais 150 pessoas ao STF. Ao todo, a Procuradoria Geral da República (PGR) já pediu abertura de ação penal para tornar réus 254 manifestantes envolvidos nos ataques. De acordo com apurações preliminares da própria PGR, é provável que o número total de processados seja superior a 400 pessoas. Nos cálculos de Santos, os condenados podem pegar uma pena de quase 30 anos de cadeia.
No total, foram presas 2.090 pessoas pelos atos extremistas, das quais 942 seguem cumprindo prisão preventiva — 55 deles são gaúchos. Grande parte das 1.148 que foram liberadas após audiência de custódia foram obrigadas a usar tornozeleira eletrônica - entre essas pessoas, 46 são do RS. A investida aumentou em 10% a população carcerária do Distrito Federal, afetando a estrutura das unidades prisionais.
Todavia, esse número pode subir. A PF mantém ao menos três inquéritos para apurar as condutas de quem participou dos atos de 8 de janeiro, mesmo sem estar presencialmente em Brasília no dia das invasões.
— A autoridade da lei é maior do que os extremistas — alertou na sexta-feira o ministro da Justiça, Flávio Dino.