As cenas de invasão registradas em prédios públicos na tarde deste domingo (8) já vinham sendo anunciadas por grupos bolsonaristas nos últimos dias. A preparação para o ato de hoje era organizada há semanas, e desde domingo os protestantes se reuniam no Distrito Federal. Com poucas medidas de controle ou contenção tomadas por parte de autoridades locais, milhares de manifestantes invadiram e vandalizaram sedes do Palácio do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF).
Ao menos desde sábado (7), diversas caravanas com apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro passaram a chegar em Brasília. Simpatizantes do político, que está de férias nos Estados Unidos, foram convocados pelas redes sociais e prometiam protesto para este domingo.
Conforme o jornal Estadão, relatórios de inteligência obtidos indicavam que ao menos cem ônibus com 3,9 mil pessoas chegaram a Brasília no sábado. Na manhã deste domingo, uma equipe do jornal O Tempo flagrou o momento em que mais manifestantes desciam de ônibus vindos de diferentes Estados, para engrossar as manifestações.
Os golpistas se reuniam em frente ao QG do Exército, onde grupos estão acampados há pelo menos dois meses. Nesta manhã, eles passaram a pedir que fossem transferidos para a Esplanada.
Autoridades não divulgaram quantos ônibus e caravanas com manifestantes chegaram a Brasília nos últimos dias, nem informaram estimativa de quantas pessoas iriam participar dos atos. O grupo é contrário ao resultado das Eleições 2022, em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito.
Conforme divulgado por colunistas do Metrópoles, o protesto estava programado para começar na Praça dos Três Poderes, neste domingo. Em áudios divulgados pelo veículo na quinta-feira (5), golpistas prometiam manifestação com "sangue nos olhos", afirmando que iriam invadir o Congresso.
— A ideia é essa: não é ir para ficar com paz e amor, não. É para entrar, não é com flor. É tudo ou nada, (entrar) sabendo que vai levar borrachada e pode levar uns tiros. Tem que estar sabendo que vai para isso mesmo, para já ir com sangue nos olhos. Um milhão de gente (sic), carreta, caminhão... Ah, a Polícia Federal vai fechar a rua. Se fechar vamos passar por cima. Coloca as carretas na frente. É nosso país. Nós que é o Exército, nós que é o povo (sic) — diz a mensagem divulgada.
A escalada de violência por parte de manifestantes pró-Bolsonaro teria ocorrido depois que o grupo percebeu que os protestos, realizado nos últimos meses, em frente a quartéis do Exército pelo país não tiverem o efeito desejado — que a instituição não permitisse que Lula tomasse posse.
Uma decisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF, gerou mais revolta, no sábado. O magistrado cassou uma decisão judicial, de primeira instância, que autorizava a obstrução de via em uma avenida em Belo Horizonte. Ali, bolsonaristas estavam reunidos em frente ao Comando da 4ª Região Militar. A determinação acolheu um pedido da Procuradoria-Geral do Município. Moraes determinou a "imediata desobstrução" da avenida e das "áreas do seu entorno, especialmente junto a instalações militares".
Lula não estava em Brasília durante as invasões. O presidente viajou mais cedo, neste domingo, à cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, para verificar estragos e transtornos causados pelo excesso de chuva na região. Em pronunciamento após os atos golpista, o presidente anunciou a intervenção federal na Secretaria da Segurança Pública do Distrito Federal. Ele afirmou que voltará para Brasília ainda neste domingo e visitará os prédios públicos vandalizados.
Já Bolsonaro segue nos EUA, para onde viajou em 30 de dezembro, dois dias antes do fim de seu mandato, em uma manobra feita, segundo críticos, para não passar a faixa presidencial à Lula durante a posse.
Críticas a autoridades
Após a invasão dos espaços públicos nesta tarde, pessoas e autoridades passaram a criticar a falta de controle e repressão de grupos durante a manifestação.
Na noite de sábado, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse ter assinado portaria que autoriza a atuação da Força Nacional em Brasília diante de "ameaças veiculadas contra a democracia". Segundo ele, a unidade irá auxiliar as forças federais de segurança que já atuam na capital do país.
A medida autoriza a atuação da Força Nacional por três dias, até segunda-feira (9), e permite que agentes atuem na proteção da ordem pública e do patrimônio público e privado entre a rodoviária da capital federal e a Praça dos Três Poderes, o que não foi suficiente.
A falta de medidas tomadas pelo governo do Distrito Federal também foi criticada. Nesta tarde, o governador do DF, Ibaneis Rocha, determinou a exoneração do secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, após as invasões. Ex- ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Torres vem sendo acusado nas redes sociais de fazer "vista grossa" aos grupos bolsonaristas. Ele também teve a prisão decretada pela Advocacia-Geral da União.