Um dia depois de surpreender e ficar de fora do segundo turno na eleição ao Palácio Piratini por apenas 2.441 votos, Edegar Pretto (PT) iniciou conversas para fortalecer a prioridade máxima da esquerda no segundo turno: eleger Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência.
Consolidado como nova liderança do PT gaúcho, Pretto assumiu a linha de frente da coordenação da campanha de Lula no Rio Grande do Sul, junto do deputado federal reeleito Paulo Pimenta (PT). Existem dois níveis de diálogos para alargar o palanque de Lula no Estado. Um deles é a conversa com PSB e PDT, menos complexa e que já teve início. A intenção é trazer esses dois partidos para a campanha regional de Lula. O outro campo de discussão é mais intrincado e envolve a possível aproximação com o PSDB no segundo turno da eleição presidencial. O partido sustentou a campanha presidencial de Simone Tebet (MDB), terceira colocada na disputa de primeiro turno. Neste caso, o PT gaúcho irá aguardar a orientação nacional antes de agir. Lula reuniu-se com aliados nesta segunda-feira (3), em São Paulo, para discutir as estratégias.
— Lula está coordenando e, a partir do diálogo nacional com os partidos que possam apoiá-lo, queremos nos movimentar e estabelecer a conversa aqui no Rio Grande do Sul. Não vamos nos movimentar sem ter a posição a nível nacional — afirmou Pretto.
Presidente do PT gaúcho, Pimenta viajou nesta segunda-feira para São Paulo e destacou que os movimentos serão articulados, seguindo a estratégia da eleição de Lula. No PT gaúcho há setores que preferem a tese de não se posicionar no segundo turno da eleição ao Piratini entre Eduardo Leite (PSDB) e Onyx Lorenzoni (PL) por considerá-los representantes de um mesmo projeto, sobretudo na área econômica. Contudo, com a hipótese de setores do PSDB se aproximarem de Lula em uma frente contra o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), é possível que a orientação nacional seja por indicar voto no tucano no Estado.
— Vamos conversar com os partidos que se posicionam no campo da democracia. Esses movimentos no Estado serão sintonizados com os nacionais. No decorrer da semana, vamos amadurecer os diálogos para que, no momento oportuno, possamos ter a nossa estratégia no Estado no que diz respeito à eleição do Lula e do governo estadual. Não há necessidade de precipitar — afirma Pimenta.
Lula alcançou 48,43% dos votos válidos no primeiro turno. Agora, o entendimento é de que a aproximação com o PSDB, histórico rival, é importante para conquistar os votos que faltam para confirmar a vitória. A relevância do movimento em busca da ampliação dos apoios já causou efeitos no Rio Grande do Sul - Estado em que Bolsonaro venceu com 48% dos votos válidos, ante 42% do petista.
— Eu converso com todos que quiserem conversar comigo — diz Pretto, mantendo a porta aberta para dialogar com Leite.
O PCdoB é um partido aliado do PT que, entre seus dirigentes, tem a leitura de que o campo deve se posicionar na eleição ao Palácio Piratini em favor de Leite. Para o PCdoB, apesar das divergências na pauta econômica, o tucano é um candidato “democrático”. Contudo, a sigla avalia quais movimentos Leite poderia fazer para que os 1,7 milhão de eleitores de Pretto pudessem sentir-se confortáveis — ou menos desconfortáveis — ao votar no candidato do PSDB para derrotar o bolsonarismo. Cogita-se, nos bastidores, um compromisso de valorização do funcionalismo e a manutenção do Banrisul e da Corsan públicos.
O xadrez é truncado e uma parte das lideranças avalia que eventual indicativo de voto em Leite deve ser feito de forma sutil, sem nenhuma participação na campanha ou manifestações ruidosas. O objetivo seria não correr com eleitores de Leite que, na disputa presidencial, preferem Bolsonaro. Outros dirigentes da esquerda avaliam que a única chance de Leite vencer a disputa contra Onyx é partir para o tudo ou nada, abandonar o meio-termo, tomar lado na polarização e assumir uma parceria com Lula no segundo turno.
Em outra frente, Pretto já começou a conversar com lideranças do PSB e do PDT sobre a tentativa de aproximação.
— O Vicente Bogo (candidato do PSB ao Piratini) me mandou mensagem ontem à noite (domingo) pedindo organização conjunta para a campanha do Lula. Troquei mensagem ainda ontem (domingo) com o Ciro Simoni (presidente estadual do PDT). Ele me parabenizou (pela votação) e ficamos de conversar nos próximos dias — relata Pretto.
O PSB indicou Geraldo Alckmin como candidato a vice-presidente na chapa de Lula, mas o diretório da legenda no Rio Grande do Sul pouco se engajou na campanha presidencial do petista depois do fracasso das negociações de aliança para a disputa do Piratini.
Pretto começará ainda nesta semana roteiros pelo Estado para participar de atos e reuniões da campanha de Lula.
— Vamos organizar um calendário de mobilização com os partidos e dividir tarefas. Essa semana boto o pé na estrada e seguirei no mesmo ritmo porque precisamos mudar o projeto nacional. Chega de miséria, fome e desemprego — afirma o petista.