Havia um clima de certa frustração no ar, um sabor amargo da conquista que escorreu por entre os dedos, mas Edegar Pretto (PT) estava com o semblante leve após a apuração de 100% das urnas na eleição para governador do Rio Grande do Sul neste domingo (2).
Pretto alcançou surpreendentes 26,77% dos votos válidos, fruto de uma arrancada na reta final que ganhou vida após o comício de Lula (PT) em Porto Alegre no dia 16 de setembro, quando o Largo Glênio Peres e a Praça Montevidéu ficaram lotados. Pretto ficou apenas 2.441 votos atrás do ex-governador Eduardo Leite (PSDB), em uma apuração eletrizante em que, até o final, o petista teve chance de virar o placar sobre o tucano.
— Foi no detalhe. Acertamos muito e erramos muito menos. Saímos maiores do que entramos. Se um dia houve antipetismo, hoje é página virada. O campo progressista e de esquerda no Rio Grande do Sul tem nova configuração. Eu continuarei na linha de frente para eleger Lula no segundo turno — afirmou Pretto.
Ele sai da eleição afirmado como a nova liderança do PT gaúcho, em um processo de passagem de bastão em que os petistas históricos do Rio Grande do Sul estão, aos poucos, se retirando das disputas eleitorais. Pretto anunciou que a tarefa imediata é estabelecer o diálogo com o PDT e o PSB no Rio Grande do Sul para convidá-los a integrar a coordenação regional da campanha de Lula.
— Edegar é uma liderança nova e tivemos o desafio de fazer a troca geracional. Tivemos de apresentar o Edegar e dizer que ele era o candidato do Lula — diz Mari Perusso, coordenadora-geral da campanha, valorizando o terceiro lugar e o equilíbrio na disputa com Leite.
Pretto agradeceu a Olívio Dutra (PT), que ficou em segundo lugar na eleição ao Senado, e lembrou do seu pai, o ex-deputado Adão Pretto, já falecido e um dos principais nomes da esquerda ligada ao campo na história democrática.
— Olívio foi candidato muito mais pela nossa necessidade do que por sua vontade — disse o petista, em tom de homenagem.
O presidente do PT no Estado, deputado federal reeleito Paulo Pimenta, classificou a votação de Pretto como “extraordinária e consagradora”. Ele lançou como missão, agora, ampliar a campanha de Lula no Rio Grande do Sul no segundo turno da eleição presidencial.
Foi no detalhe. Acertamos muito e erramos muito menos. Saímos maiores do que entramos. Se um dia houve antipetismo, hoje é página virada. O campo progressista e de esquerda no Rio Grande do Sul tem nova configuração.
EDEGAR PRETTO
Terceiro colocado na corrida ao Piratini
Pimenta ainda valorizou a votação da federação PT-PC do B-PV, que elegeu 12 deputados estaduais e sete federais. São as maiores bancadas da Assembleia Legislativa e da Câmara Federal.
A federação, mas sobretudo o PT, terá uma tarefa pela frente: discutir o que fazer no segundo turno no Rio Grande do Sul. Na manifestação pós-apuração, em comitê político na Cidade Baixa, em Porto Alegre, Pretto não tratou do assunto. Não houve espaço para perguntas da imprensa. No PT, há entre altos dirigentes a opinião de que Leite e Onyx têm projetos semelhantes, sobretudo no campo econômico. Essa linha dá o indicativo de neutralidade e foco total na eleição de Lula. Já no PC do B, existem lideranças que defendem um posicionamento no pleito estadual, pendendo para Leite com o argumento de que ele é um democrata.
Mari diz que o PT, principal partido da federação, terá de discutir a questão, mas a opinião pessoal da coordenadora-geral da campanha de Pretto é pela neutralidade.
— Minha avaliação é de que devemos fazer a campanha do Lula. Leite e Onyx têm o mesmo projeto — afirma Mari.
Apuração coberta de expectativa
Durante a apuração, uma grande militância se juntou na Rua Lima e Silva, zona boêmia de Porto Alegre, e acompanhou a votação por um telão. Houve festa quando Lula ultrapassou Jair Bolsonaro (PL) com a força do Nordeste e abriu vantagem na dianteira. A expectativa por uma virada de Pretto sobre Leite permaneceu até o fim.
Candidato a vice-governador na chapa de Pretto, Pedro Ruas (PSOL) estava uma pilha de nervos. Sentado em uma área externa no fundo do comitê, tinha o semblante eletrizado e não tirava o telefone da orelha. Não falava nada, apenas escutava. Ao final, Ruas lamentou a derrota por “detalhe” e valorizou a votação alcançada. Ele destacou ter sido um acerto a aliança entre PT e PSOL, que ocorreu pela primeira vez no Rio Grande do Sul.
— É muito difícil traduzir o orgulho que sinto de ter trabalhado sob o teu comando (se dirigindo a Pretto). Não estar no segundo turno por 2.441 votos não é questão de erro. Temos razão em ter feito a unidade do campo progressista e das esquerdas — afirmou Ruas, um dos mais abatidos com o resultado.
Após a manifestação, Pretto e demais lideranças da coligação foram até um caminhão de som que estava na Avenida Lima e Silva para discursar à militância, que aguardava em bom número.