Com a disputa presidencial consolidando cada vez mais a polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os partidos que tentam criar a chamada terceira via se reúnem na próxima segunda-feira (25). Em um ambiente de intrigas internas e disputas entre as próprias legendas, o encontro busca o primeiro consenso do grupo, ao estipular os critérios que irão nortear a escolha de um candidato único, marcada para 18 de maio.
Além dos principais dirigentes de MDB, PSDB, União Brasil e Cidadania, desta vez também participam os postulantes de cada agremiação: Simone Tebet, João Doria, Luciano Bivar. Embora seja um dos nomes mais citados para a composição da chapa, Eduardo Leite não estará presente por não ser oficialmente um pré-candidato do PSDB.
Mesmo assim, Leite começou na quinta-feira (21) um périplo pelo país. O gaúcho visitou o Ceará, terra do aliado Tasso Jereissati, e tem na agenda ainda compromissos em Pernambuco, no Rio de Janeiro e no Mato Grosso.
Embora tenha perdido as prévias do PSDB para Doria, Leite é considerado um ativo importante do grupo na montagem da candidatura. O nome dele surge ora como vice de Tebet, ora como cabeça de chapa, tendo a senadora de vice.
Por enquanto, a dupla é a que mais anima os dirigentes partidários, sobretudo diante da alta rejeição de Doria nas pesquisas e da insistência do União Brasil com Bivar, um candidato considerado inexpressivo. A composição com Leite de candidato também seria capaz de atrair o Podemos, partido que ficou à deriva com a migração do ex-juiz Sergio Moro para o União Brasil.
Mais do que a simpatia dos aliados, porém, Leite antes precisa conquistar hegemonia no próprio partido. O gaúcho andou fazendo movimentos considerados erráticos, como apoiar-se em Aécio Neves, um dos quadros mais radioativos do PSDB. Também soou como ingenuidade o encontro mantido na segunda-feira (18) com o deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força, presidente do Solidariedade. No dia seguinte à foto com Leite, Paulinho anunciou apoio a Lula.
Nos bastidores, Doria tenta colar no gaúcho a pecha de mimado e golpista, pela insistência em se tornar candidato mesmo tendo perdido a prévia. Todavia, Doria sabe que seu desafio é balancear os ataques para não ampliar ainda mais o próprio isolamento. Após ter rompido na semana passada com o presidente do PSDB, Bruno Araújo, a ponto de tirá-lo do comando de sua campanha, Doria agora busca uma reaproximação com a cúpula da legenda na tentativa de se manter influente. Estagnado nos levantamentos de intenção de voto, o ex-governador de São Paulo argumenta que Leite seria ainda mais desconhecido nos rincões do país.
Para Doria, a escolha do candidato da terceira via deveria ser feita com base em pesquisas qualitativas, pelas quais seria possível traçar um perfil mais fiel das preferências do eleitor. Ele confia que sua aparição nas propagandas do partido na TV, a partir de terça-feira (26), serão capazes de melhorar seus indicadores. Mesmo que isso não aconteça, o tucano não demonstra intenção de aceitar passivamente ser retirado da disputa. Reservadamente, ventila a possibilidade de recorrer à Justiça para manter-se como candidato do PSDB, escorado num artigo dos estatutos partidários que determina obediência ao resultado das prévias.
Embora não tenha um adversário direto dentro do próprio partido, Simone Tebet enfrenta problemas semelhantes no MDB. Pré-candidata de uma legenda acostumada a abandonar à própria sorte seus presidenciáveis durante a eleição, Tebet está preocupada com uma ala que apoia Lula. Capitaneado pelo senador Renan Calheiros e pelo ex-presidente José Sarney, o grupo é majoritário no Nordeste e boicota explicitamente as pretensões de Tebet.
Como argumento, Calheiros cita a desastrada candidatura de Henrique Meirelles em 2018, que terminou em sétimo lugar, e a consequente redução das bancadas do partido na Câmara e no Senado. Não bastasse a diáspora lulista no Nordeste, no Sul e Sudeste muitos parlamentares emedebistas flertam abertamente com Bolsonaro, ampliando o racha no partido.
Sem unidade interna, coesão externa, tampouco um conjunto de ideias a apresentar aos eleitores que não seja a simples rejeição aos candidatos que lideram as pesquisas, os partidos da terceira via temem um aumento nas defecções. Na recente visita de Bolsonaro ao Rio Grande do Sul, há duas semanas, a comitiva presidencial tinha políticos do PSDB, MDB e União Brasil. Lula, por sua vez, irá lançar a candidatura em 7 de maio em São Paulo reunindo no palco dissidentes do MDB, PDT e PSD.