Pelo motivo errado (ou irrelevante), o ex-governador Eduardo Leite virou um dos assuntos mais falados da política nas redes sociais e na imprensa nacional nas últimas horas. No Twitter, Leite publicou no início da tarde de segunda-feira (18) uma foto em que aparece conversando com o deputado Paulinho da Força, presidente do Solidariedade. Na legenda, escreveu:
“Encontrei há pouco o @dep_paulinho, presidente do Solidariedade para uma boa conversa sobre o Brasil e a necessária construção de convergências na agenda política do país”.
Só que Paulinho deu a sua versão do encontro, também pelo Twitter, com a mesma foto acrescida de um terceiro personagem: o deputado Aecio Neves (PSDB-MG), praticamente irreconhecível, grisalho e com vários quilos acima do que ostentava antes da pandemia. Na legenda, escreveu:
“Estive hoje com o meu amigo e deputado Aécio Neves e com o ex-governador Eduardo Leite (RS). Leite me explicou sobre sobre o seu trabalho para ser candidato a presidente da República pela terceira via".
Interpretação dos jornalistas e das redes sociais: Leite esconde Aécio ao compartilhar foto com Paulinho da Força.
Leite se defendeu dizendo que recebeu a foto de Aécio e resolveu dar destaque a Paulinho — como se o sindicalista fosse um nome acima de qualquer suspeita. Paulinho, convém lembrar, estava comprometido com o ex-presidente Lula, mas foi vaiado por antigos adversários do sindicalismo e resolveu desembarcar. Poderá estar na terceira via, poderá fechar com Jair Bolsonaro, poderá voltar aos braços de Lula. Convicção é com ele mesmo.
Todo esse barulho acabou por ofuscar o essencial, que deveria ser a preocupação para os tucanos que sonham com Leite na Presidência da República: os erros cometidos pelo ex-governador gaúcho na ânsia de se viabilizar como candidato. O primeiro foi esquecer o conselho que todas as mães dão aos filhos ainda pequeno: cuidado com as más companhias. O segundo, ignorar a filosofia de almanaque: “dize-me com quem andas e direi quem tu és”. O terceiro, atropelar os ritos do PSDB, atraindo para si a pecha de “traidor” ou de “mau perdedor”, por tentar subverter o resultado das prévias.
É fato que ninguém ganha eleição sem conversar com quem pensa diferente e que na política não anda fácil encontrar companhias de biografia imaculada, mas desde a prévia do PSDB Leite vem flertando com o perigo em nome de um projeto de poder. Não adianta dizer que os outros também estão cercados de más companhias: quem quer ser diferente, deveria cercar-se de pessoas que inspirem um pouco mais de confiança do que Aécio e Paulinho. Se Leite esqueceu o que os dois fizeram nos verões passados, o Google pode ajudar a refrescar a memória.
João Doria, o vencedor da prévia tucana, tem alto índice de rejeição, os companheiros de partido não cansam de dizer que faz qualquer negócio pelo poder. Uma coisa foi Leite aliar-se a Tasso Jereissati para, numa disputa legítima, tentar derrotar Doria. À época, contou com Aécio para conquistar votos em Minas. Seguir com o ex-senador conhecido por pedir mesada ao dono da Friboi passa uma péssima imagem para quem entrou no jogo em 2021 como um político jovem, moderno e cosmopolita e corre o risco de ficar marcado como parceiro de velhacos. Aos 37 anos, com uma carreira pela frente, Leite deveria, no mínimo, pensar nas fotos que poderá se arrepender de ter tirado e publicado.
Atualização:
No momento em que o texto acima foi publicado, já estava atrasado: Paulinho da Força se reuniu com o ex-presidente Lula e com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e anunciou apoio. Em seu perfil no Twitter publicou foto com os dois e escreveu:
“Me reuni hoje com o ex-presidente @LulaOficial e a presidente do PT, @gleisi, que deixaram claro a importância do apoio do Solidariedade e a construção de uma ampla aliança com outros partidos para as próximas eleições presidenciais”.