A primeira reunião ministerial de 2022, agendada para esta quinta-feira (17), em Brasília, começa a definir o cenário eleitoral em muitos Estados. Ao menos nove ministros deixarão suas pastas até 2 de abril para concorrerem em outubro. Três a governos estaduais, entre eles Onyx Lorenzoni (PL), que deixará o ministério do Trabalho para a disputa no Rio Grande do Sul, cinco ao Senado e um à Câmara dos Deputados. Há ainda o asterisco sobre o nome do ministro da Defesa, Walter Braga Netto (sem partido), cuja possível saída, conforme apontam analistas, sugere que ele poderá ser indicado como vice na chapa de reeleição encabeçada por Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com o senador gaúcho Lasier Martins (Podemos), que, apesar de afastado da base do governo, acompanha as movimentações, após a reunião será dada a largada para as nomeações da “minirreforma ministerial”. Ele acrescenta que, ao contrário de outras oportunidades, não há casas de apostas formadas para especular nomes conhecidos para vagas no período tampão (durante o período eleitoral).
— Os nomeados devem ser os secretários-executivos (das pastas), que já atuam nos ministérios, mas, agora, guindados à titularidade. Até porque boa parte dos nomes mais conhecidos também está envolvida nas eleições, o que deixaria margem só para algum senador eleito em 2018 e que não tenha concluído o mandato de oito anos — diz Lasier.
O cientista político Carlos Borenstein concorda, mas lembra que, mesmo com indicações de substitutos imediatos, algumas pastas suscitam mais o interesse dos partidos, sobretudo no Centrão, bloco que reúne siglas como PL, PP e Republicanos. Dos 23 ministérios, 12 titulares estão sem partido (a maioria militares), quatro são do PL, dois do União Brasil (UB), um do PP, um do Republicanos, um do Patriotas, um do PSD e um do PSC.
O UB – fruto da fusão entre PSL (partido pelo qual Bolsonaro foi eleito em 2018) e DEM – e o PSD (que busca convencer o governador Eduardo Leite a deixar o PSDB para disputar o Palácio do Planalto) ainda não definiram seus rumos no âmbito nacional. Além disso, na Agricultura, a ministra Tereza Cristina (UB) é cotada para concorrer ao Senado, mas pelo PP.
Agora é que vão se verificar as futuras coligações, pois não há motivo para manter ministros, ainda que técnicos, de partidos que não apoiarão a reeleição
RODRIGO GONZALES
Analista político da UFRGS
De acordo com o analista político da Universidade Federal do RS (UFRGS) Rodrigo Gonzales, o momento é ideal para cobrar definições dessas siglas que mantêm vivas as candidaturas próprias à Presidência. Ou seja, além da dança nas cadeiras dos ministérios, antevê movimentação nas alianças:
— Agora é que vão se verificar as futuras coligações, pois não há motivo para manter ministros, ainda que técnicos, de partidos que não apoiarão a reeleição. Aqueles com intenção de candidatura deverão deixar os cargos em definitivo. É um ponto crucial para o governo definir se estará ou não com Bolsonaro nas urnas.
Ministérios com visibilidade
Diante do cenário eleitoral, Borenstein explica que estão no topo das atenções os ministérios que mexem com obras e dão publicidade maior. É o caso do Desenvolvimento Regional, ocupado por Rogério Marinho (PL), uma das apostas para o Senado pelo Rio Grande do Norte, e que deverá atrair o desejo do Centrão.
Segundo o analista, a sigla que controlar a pasta ganha visibilidade, ainda que o quadro seja técnico. O mesmo vale para o Trabalho, relevante porque está no cerne da geração de empregos. Na Agricultura, diz Borenstein, PP, PL e Republicanos tendem a disputar a área em razão da visibilidade junto aos agricultores.
A cadeira do Ministério da Cidadania, ocupada por João Roma (Republicanos), um dos possíveis postulantes ao governo da Bahia, também é considerada bandeira fundamental para Bolsonaro e deve atrair a cobiça dos partidos governistas. Isso porque, nas pesquisas eleitorais, dentro da segmentação de renda mensal de até um salário mínimo, a vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é maior sobre Bolsonaro.
A ideia, avalia o Borenstein, é que o programa de distribuição de renda Auxílio Brasil, ex-Bolsa Família e rebatizado na gestão Bolsonaro, contribua com o atual presidente, enquanto nos segmentos de alta renda o duelo segue mais equilibrado entre os dois pré-candidatos melhor posicionados nas pesquisas.
Expectativa é de que haja continuidade nas pastas
De acordo com o professor da Escola de Administração da UFRGS Aragon Dasso, do ponto de vista das políticas públicas, não se deve esperar por grandes mudanças na gestão dos ministérios. E, segundo ele, a continuidade se dará, sempre que possível, dentro das mesmas cotas partidárias já existentes:
— Com os ministérios nas mãos de quadros do segundo escalão que já compunham as pastas, evita-se que sejam travadas brigas entre os partidos, ao mesmo tempo em que a sigla ou grupo político que as controla segue com o privilégio do aparelhamento desse determinado espaço de poder. Essa é a tendência.
Com os ministérios nas mãos de quadros do segundo escalão que já compunham as pastas, evita-se que sejam travadas brigas entre os partidos, ao mesmo tempo em que a sigla ou grupo político que as controla segue com o privilégio do aparelhamento desse determinado espaço de poder
ARAGON DASSO
Professor da Escola de Administração da UFRGS
Na mesma linha, Carlos Borenstein ressalta a importância na movimentação do atual ministro da Defesa, o militar Walter Braga Netto. Caso ele deixe a pasta, diz o analista, há claro apontamento de que Bolsonaro pretende repetir a fórmula de 2018. Na ocasião, disputou a eleição com outro militar em sua chapa, Hamilton Mourão, que, agora, deverá concorrer a uma vaga ao Senado pelo Rio Grande do Sul.
Tal sinalização sobre Braga Netto também serviria, conforme acrescenta o analista político Rodrigo Gonzales, como um recado para acalmar os ânimos entre os partidos aliados que pretendem postular a indicação do vice de Bolsonaro. Segundo ele, nesse caso, os partidos de maior porte do Centrão deverão ser contemplados com mais ministérios, o que daria início a um novo “xadrez” no processo de construção da candidatura.
As movimentações: veja quem deverá disputar os governos estaduais
Ministério da Cidadania
- João Roma (Republicanos) deve disputar o governo da Bahia
A pasta: é considerada uma das mais visadas porque concentra o programa Auxílio Brasil e pode ampliar a penetração junto ao eleitorado de baixa renda
Ministério da Infraestrutura
- Tarcísio de Freitas (sem partido), anunciou que vai concorrer ao governo de São Paulo
A pasta: desperta as atenções porque não está vinculada a cota de nenhum partido e responde pela inauguração de obras, principalmente, de rodovias
Ministério do Trabalho e da Previdência
- Onyx Lorenzoni (PL) é um dos postulantes ao governo do Rio Grande do Sul
A pasta: é considerada relevante porque reúne a temática da geração de empregos, que deverá ser uma das grandes pautas do pleito em 2022
Pretensões ao Senado
Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
- Damares Alves (sem partido), sonda PTB e Republicanos para disputar o Senado no Amapá
A pasta: concentra políticas públicas alinhadas com pautas ideológicas, religiosas e de costumes, bastante apreciadas pelas siglas do campo da direita
Secretaria de Governo
- Flávia Arruda (PL) pretende concorrer ao Senado pelo Distrito Federal
A pasta: coordena projetos, obras e serviços na articulação de secretarias. É considerada indissociável do PL, partido do presidente
Ministério do Turismo
- Gilson Machado (PSC), conhecido como Sanfoneiro, deve concorrer ao Senado por Pernambuco
A pasta: em baixa por algum tempo em razão da pandemia, retomou campanhas e puxa o interesse de nomes ligados às capitais de Estados do Nordeste
Ministério da Agricultura
- Tereza Cristina (União Brasil) deve concorrer ao Senado no Mato Grosso do Sul, mas pelo PP
A pasta: em razão de indefinições sobre o futuro do União Brasil, o ministério deve trocar de partido. Se o PP confirmar a ida de Tereza Cristina para a sigla, deve ficar com a pasta
Ministério do Desenvolvimento Regional
- Rogério Marinho (PL) disputará o Senado no Rio Grande do Norte
A pasta: concentra obras, entrega de maquinários e convênios com municípios. É considerado um dos ministérios de maior visibilidade pela abrangência dos projetos
Pretensões à Câmara
Ciência e tecnologia
- Marcos Pontes (PL) concorrerá a deputado federal por São Paulo.
A pasta: ocupada pelo ex-astronauta, foi considerada uma decepção em projetos, concedendo visibilidade ainda que reduzida apenas ao titular
Fonte: analistas consultados pela reportagem