Presidente da Frente Parlamentar Evangélica na Câmara, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) defendeu que a atuação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura no Ministério da Educação (MEC) seja investigada e, se forem comprovadas irregularidades, que ambos sejam punidos. O parlamentar pediu ainda que o titular da pasta, Milton Ribeiro, preste esclarecimentos sobre as denúncias.
— Não podemos prejulgar pessoas, pois podemos correr riscos. Esperemos que a cada novo fato, nova história, o ministro venha a público esclarecer detalhe por detalhe. Se algum desses pastores envolvidos praticou qualquer ato ilícito, devidamente apurado, e se for comprovado alguma prática criminosa, que seja punido a vigor da lei — disse Cavalcante em entrevista ao Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, nesta quinta-feira (24).
Reportagens dos jornais O Estado de S. Paulo e da Folha de S.Paulo revelaram a existência de uma espécie de "gabinete paralelo" no MEC que faria cobrança de propina a prefeitos em troca de recursos para construção de creches e escolas públicas nos municípios. O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de uma investigação contra Ribeiro e os dois pastores.
Na entrevista, Cavalcante disse que conversou com o ministro da Educação e pediu que ele esclareça os fatos. Apesar de reconhecer a gravidade das denúncias, o deputado defendeu a manutenção de Ribeiro no cargo, avaliando que ele faz um trabalho "melhor do que os anteriores" que estiveram na posição no governo Bolsonaro.
— Não podemos responsabilizar (o ministro) por suas agendas ou por atos de terceiros. São acusações graves. Entretanto, foram falas de prefeitos que terão que provar como isso aconteceu. O próprio prefeito que acusa sobre a barra de ouro disse "eu não dei, eu não fiz", então ele vai ter que provar como e quando isso se deu — afirmou.
— Os esclarecimentos do ministro ontem são satisfatórios, é o que ouvi dos meus colegas de bancada. Até o momento eu manteria o ministro no cargo sim — completou.
O deputado, no entanto, lembrou que Ribeiro não foi indicado para o cargo pela bancada evangélica — o atual ministro da Educação foi escolha pessoal do presidente Jair Bolsonaro. Cavalcante afirmou ainda temer que a imagem dos evangélicos seja manchada pelo episódio.
— Isso mancha a comunidade. Não é salutar. Incomoda a todos nós (evangélicos). Não é ético quem não nomeou a pessoa para o cargo, ou quem não recomendou, ter que ficar neste momento eximindo opinião sobre o que devem essas pessoas fazerem ou não. Isso diz respeito somente ao Executivo e não a nós que estamos apenas no parlamento — concluiu.
Ouça a entrevista com o deputado federal Sóstenes Cavalcante na íntegra:
Crimes investigados
Na quarta-feira (23), o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao STF a abertura de uma investigação contra o ministro da Educação, Milton Ribeiro, e os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura pela atuação deles no MEC.
A investigação do ministro envolve os crimes de corrupção passiva, tráfico de influência, prevaricação e advocacia administrativa. Ribeiro teria cometido os delitos ao permitir o aparelhamento religioso da estrutura do ministério com a criação de um gabinete paralelo operado pelos pastores evangélicos.