Palavra do ministro da Educação, Milton Ribeiro: o presidente Jair Bolsonaro ouviu o áudio no qual ele diz que vai dar prioridade ao atendimento de demandas recebidas por meio de dois pastores aliados do governo e não viu nada demais. Ribeiro ouviu do presidente que ele fica no comando do MEC. Até quando? Talvez até o final do governo, porque aos olhos do presidente é irrelevante que o ministro tenha aberto as portas do ministério a pastores que faziam tráfico de influência, e segundo um prefeito, cobrado propina para liberar recursos públicos.
Bolsonaro nunca deu bola para o despreparo dos ministros da Educação. Para ele, é como se a pasta fosse irrelevante ou se limitasse a barrar o fantasma com o qual costuma assustar seus eleitores: a “ideologia de gênero nas escolas”. O ministro pode ser um inútil, como foram Ricardo Vélez Rodrigues, que saiu sem ter dito a que veio, e Abraham Weintraub, o boquirroto que desprezava as universidades públicas. Para ter o apreço de Bolsonaro, basta que lutem contra os moinhos de vento que seus seguidores enxergam nas escolas.
Enquanto o problema de Ribeiro era apenas a falta de políticas públicas para a educação no pós-pandemia ou a incapacidade gerencial, o centrão ficou quieto, talvez pelo entendimento de que educação não dá voto. Agora, com o surgimento das denúncias de existência de um ministério paralelo comando por pastores com livre trânsito no governo e com a acusação, grave, de um prefeito, de que exigiam propina para liberar recursos, os aliados políticos se alarmaram e passaram a pedir a cabeça do ministro.
A educação pode não dar votos, mas denúncias de corrupção afastam eleitores. Até o procurador-geral da República, Augusto Aras, sempre disposto a passar pano para o governo, mandou abrir uma investigação. Os pastores de outras igrejas, que não gostam de concorrência, também cobram de Bolsonaro o afastamento do ministro.
Convenhamos que, em qualquer país sério, o material já conhecido seria suficiente para uma “exoneração a pedido”, forma elegante de demitir ministros que estão sob suspeita. Há fortes indícios de crime de responsabilidade e só uma investigação profunda vai mostrar até que ponto o ministro pecou por ação ou omissão.
Uma troca de ministro agora, a nove meses do fim do governo, não vai fazer diferença no que importa, que é a educação. Mas se mantiver Milton Ribeiro e e surgirem novas denúncias, os adversários terão farto material para utilizar na campanha.