O ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, disse nesta quarta- feira (27), em Porto Alegre, que o ministro da Economia, Paulo Guedes, está "perturbado" e falando "com o fígado, e não com o cérebro". A declaração ocorreu durante entrevista coletiva na sede da Federação de Entidades Empresariais do RS (Federasul), pouco antes de uma palestra sobre realizações do governo Jair Bolsonaro.
Onyx reagiu a uma afirmação de Guedes durante audiência com parlamentares realizada na véspera, em Brasília. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o titular da Economia criticou Onyx afirmando que o colega de Esplanada desperdiçava tempo inaugurando campos de futebol Brasil afora e entregando medalhas em campeonato de várzea.
— Acho que o ministro Paulo Guedes talvez esteja chateado com alguma coisa e esteja falando com o fígado, e não com o cérebro. O campo de futebol que eu inaugurei era um centro nacional de atletismo que o PT prometeu para as Olimpíadas e ficou pronto três anos depois. É um centro de excelência para atletas brasileiros que vão disputar Pan-Americano e Olimpíadas. O ministro Paulo Guedes sabe como é que ele resolve as coisas comigo: é falando diretamente. Eu lamento que ele esteja, talvez, um pouco perturbado nesse momento, mas tenho certeza que logo logo ele retorna para o eixo. O trem volta para o trilho, e o Brasil vai para a frente — reagiu Onyx.
O gaúcho também atacou o relatório final da CPI da Covid, no qual teve o indiciamento pedido por incitação ao crime e por crimes contra a humanidade, nas modalidades extermínio, perseguição e outros atos desumanos. Para ele, as conclusões da comissão "não passam de uma grande palhaçada".
— É uma narrativa sem nenhuma comprovação fática nem jurídica. Não tem solidez alguma — afirmou.
O ministro criticou ainda duas outras iniciativas do Congresso. Questionado sobre a emenda à PEC dos Precatórios que prevê fundo eleitoral de R$ 5 bilhões em 2022 e mais R$ 16 bilhões em emendas parlamentares, ressaltou que respeita a autonomia do Legislativo, mas que espera um veto de Bolsonaro a qualquer medida que supere os gastos eleitorais de 2020.
Onyx também se declarou contrário à iniciativa que permitiria ao Congresso indicar o corregedor-nacional do Ministério Público. A proposta foi rejeitada pela Câmara na semana passada, mas o presidente da Casa, Arthur Lira (PP- AL), pretende colocá-la em votação novamente.
— O Ministério Público sabe da minha posição histórica em defesa da autonomia e da independência. É muito importante que se tenha liberdade de ação, com responsabilidade. Se eu estivesse lá, votaria contra.
O ministro reforçou ainda o desejo de deixar o DEM, partido ao qual está filiado há 24 anos, tão logo a fusão com o PSL seja homologada pela Justiça Eleitoral. Salientando que se manifestou contra a criação do União Brasil, criticou os correligionários lembrando uma declaração do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o partido, proferida na campanha eleitoral de 2010:
— Fizeram o que o Lula não conseguiu: extirpar o DEM da política brasileira.
Tá na Mesa
Onyx está na Capital para reinaugurar o formato presencial do Tá na Mesa, um dos mais tradicionais eventos políticos e empresariais do Rio Grande do Sul. As palestras foram retomadas com redobrados cuidados sanitários.
Com capacidade para 350 pessoas, o salão nobre da Federasul teve a lotação limitada a 95 pessoas, em função dos protocolos. Apenas autoridades e convidados permaneceram no local. As mesas, que antes serviam 10 pessoas, também tiveram a ocupação reduzida. A imprensa assistiu à palestra por um telão, em uma sala três andares abaixo.
Intitulada "Razões para acreditar num novo Brasil", a palestra começou com o ministro resgatando escândalos dos governos petistas, como o mensalão e a corrupção na Petrobras. Em seguida, enumerou iniciativas do atual governo, como medidas de liberdade econômica e a recente geração de 313 mil empregos formais em setembro.
— Fome, miséria e desemprego matam mais do que qualquer doença — afirmou, ao criticar as medidas de isolamento social que paralisaram a atividade econômica no início da pandemia.
Ao final da palestra, Onyx respondeu a perguntas da plateia. Manifestou ceticismo ante a aprovação de uma reforma tributária, disse acreditar na manutenção da desoneração da folha de pessoal e, questionado sobre a possibilidade de o governo criar um "colchão" para absorver os aumentos dos combustíveis sem alteração da política de preços da Petrobras, defendeu a privatização da petrolífera.
— É uma empresa curiosa. Quando interessa, ela é pública. Privatiza logo, dá mais transparência — argumentou.