Em Brasília, para efeito público, quase tudo foi festa no casamento do DEM com o PSL, que aguarda apenas a homologação do Tribunal Superior Eleitoral para assumir a identidade de União Brasil e o número 44. Nos bastidores, a maionese azedou, porque foram colocados na mesma mesa políticos que trabalham abertamente por uma terceira via e outros que morrem de amor pelo presidente Jair Bolsonaro. De olho em uma futura aliança, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, prestigiou a convenção.
No Rio Grande do Sul, as rusgas começaram antes da lua-de-mel. Principal líder do DEM no Estado, o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, votou contra a fusão, aprovada por aclamação. Onyx foi o único voto contrário, embora outros três ministros do governo Bolsonaro tenham participado da convenção — Tereza Cristina (Agricultura, do DEM), Anderson Torres (Justiça, do PSL) e Flávia Arruda (Secretaria-Geral-de Governo, do PL).
A direção estadual do DEM, presidida pelo secretário de Desenvolvimento Econômico de Porto Alegre, Rodrigo Lorenzoni, que é filho de Onyx, divulgou nota quatro parágrafos escancarando o desconforto. A nota começa dizendo que “neste dia 6 de outubro, em convenção conjunta, DEM e PSL optaram pelo caminho da consolidação da fusão tratada pelas cúpulas partidárias nacionais dos dois partidos, procedendo com a apresentação do novo estatuto e a mudança substancial do programa do partido”.
A nota diz que “neste momento de incerteza”, os líderes do DEM reafirmam o compromisso com os valores e princípios que sempre nortearam as ações do partido, bem como com o desejo de "apresentar à sociedade gaúcha quadros políticos identificados com os ideais liberais-conservadores da centro-direita".
O último parágrafo incendiou a ala que não está fechada com Bolsonaro. Diz o texto: “Certos de que encontraremos um caminho comum para seguirmos apoiando o presidente Bolsonaro e o ministro Onyx Lorenzoni, pedimos a todos os filiados dirigentes partidários que nos mantenhamos unidos como estamos desde a nossa fundação”.
— Um partido não é uma capitania hereditária. O ministro Onyx Lorenzoni e o filho dele falam por eles, não pelo conjunto do partido — reagiu o deputado Thiago Duarte (DEM), que defende abertamente uma terceira via, em entrevista à coluna.
Minutos depois, o deputado divulgou nota reforçando a afirmação de que “a posição do ministro Onyx Lorenzoni, em nome próprio e da delegação do Rio Grande do Sul, votando na convenção nacional contra a fusão de DEM/PSL, e a criação da União Brasil 44, não representa a posição todo o Democratas do Rio Grande do Sul”. Segundo Thiago Duarte, prefeitos, vereadores, líderes políticos, sociais e filiados não foram consultados pelo ministro ou pela executiva regional do DEM.
“Um partido político, para ser efetivamente representativo das forças sociais, não pode pertencer a uma família, chame-se ela Bolsonaro ou Lorenzoni”, fustigou.
Da orientação nacional do UB dependerá o destino dos deputados gaúchos - quatro federais e seis estaduais. Onyx quer ser candidato a governador, mas não abre mão de estar no palanque de Bolsonaro. Como a cúpula do novo partido está inclinada a buscar outro caminho, os incomodados poderão se retirar e acompanhar Bolsonaro no partido que ele escolher ou migrar para outros que estejam dispostos a apoiar a reeleição.
Se ninguém sair, o novo partido nasce com 83 deputados — a maior bancada na Câmara Federal —, oito senadores e quatro governadores. Com essa bancada, terá o maior volume de recursos do fundo partidário e do eleitoral. Mesmo que ocorra uma debandada, para efeito de distribuição dos recursos vale o número de deputados eleitos em 2018. Dos parlamentares da bancada gaúcha, a maioria tende a sair se a opção for lançar candidato a presidente ou apoiar um dos opositores de Jair Bolsonaro.
Políticos de peso estão sendo convidados a integrar a nova agremiação. Entre eles, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que está com um pé fora do PSDB, mas inclinado a entrar no PSD. A ex-senadora Ana Amélia Lemos, que deseja concorrer ao Senado, é um “sonho de consumo” dos dirigentes do UB.
A intenção inicial é lançar candidato a governador em pelo menos 12 Estados. A direção será compartilhada entre antigos dirigentes do PSL e do DEM. A presidência ficou com Luciano Bivar, que já comanda o PSL. O ex-prefeito de Salvador ACM Neto (DEM), candidato ao governo da Bahia, será o secretário-geral. A chave do cofre ficou com Maria Emília Rueda, irmã de Antônio Rueda, vice-presidente do PSL e braço-direito do Bivar.
Aliás
União Brasil é masculino ou feminino? Essa é uma resposta que os caciques do partido nascido da fusão DEM-PSL terão de dar. É o mesmo problema da Rede, feminino como substantivo, masculino como partido.