O Ministério Público (MP) deflagrou operações, nesta quinta-feira (30), em investigação sobre suposto desvio de recursos públicos no município de Cachoeirinha, na Região Metropolitana, por meio de empresas terceirizadas. A pedido dos promotores e procuradores que atuam no caso, a 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça determinou o afastamento do prefeito Miki Breier (PSB) do cargo — quem assume é o vice, Maurício Medeiros.
Foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão em Cachoeirinha, Gravataí, Charqueadas, Porto Alegre e nas cidades paulistas de São Paulo e Itu. Entre locais estão a sede da prefeitura, a casa do prefeito e os endereços de três empresas — que não tiveram os nomes divulgados — que prestam serviços ao Executivo.
Além de Miki Breier, foram afastados outros sete integrantes do governo, entre eles o secretário da Fazenda, Elvis Sandro Valcarenghi. O afastamento é pelo prazo mínimo de 180 dias. Ainda não foram divulgados os nomes dos demais atingidos pela medida.
A Justiça ainda proferiu as seguintes decisões: proibição de contato entre investigados e desses com servidores públicos e empresários; proibição de acesso dos agentes públicos afastados e empresários à sede da prefeitura; suspensão imediata dos contratos emergenciais referentes aos serviços de coleta manual e mecanizada de resíduos sólidos urbanos firmados com o município; e proibição de contratação das empresas investigadas.
Nas operações — denominadas Proximidade e Ousadia — são investigados crimes de corrupção ativa e passiva, desvio de verba pública, dispensa indevida de licitação, fraude em licitação, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A prefeitura de Cachoeirinha ainda não se manifestou sobre as ações. Breier nega irregularidades (leia mais abaixo).
Esquema que afastou prefeito de Cachoeirinha, Miki Breier, escandaliza pela ousadia
Leia a coluna completa
Investigação em Cachoeirinha
Segundo o MP, houve desvio milionário de recursos públicos, estimado em 45% dos valores contratados, envolvendo os serviços de limpeza urbana, conservação e manutenção de prédios e vias públicas entre 2017 e maio de 2021. Ainda conforme os promotores e procuradores, houve também tentativa de direcionamento da contratação de serviços.
— As provas foram aparecendo com muita qualidade e com muita evidência. Temos todos os tipos de provas nessa investigação. Há claro direcionamento da situação, superfaturamento das obras e devolução de valores dos contratos aos investigados — disse o procurador-geral de Justiça do RS, Marcelo Dornelles, em entrevista ao programa Atualidade, da Rádio Gaúcha.
A Operação Proximidade — que teve a segunda etapa deflagrada agora — recebeu esse nome em razão do vínculo mantido entre Miki Breier e o sócio-proprietário da empresa que prestava serviços de limpeza urbana, conservação e manutenção de próprios e logradouros públicos.
Já a Ousadia — em sua primeira fase — foi batizada porque, conforme o MP, mesmo após a Proximidade ter sido deflagrada, em junho, foram contratados — com dispensa de licitação — os serviços de coleta manual e mecanizada dos resíduos sólidos urbanos e realizada concorrência pública destinada à contratação dos serviços de manutenção da malha viária, drenagem pluvial e rede cloacal, que foi suspensa pelo Tribunal de Contas do Estado — na oportunidade, o MP apontou as irregularidades.
— Era uma coisa quase que inacreditável. As coisas continuavam acontecendo da mesma forma. Chegamos ao limite de não ter mais como aguardar (para realizar a operação) — afirmou Dornelles.
Os fatos que embasaram a deflagração da primeira fase da Proximidade resultaram em denúncia contra Miki Breier e outras seis pessoas.
O grupo foi denunciado por licitação fora das hipóteses previstas em lei para contratar — diretamente, com sobrepreço e superfaturamento — a empresa SKM Empreendimentos e Comércio Eireli para prestação dos serviços de limpeza urbana, pelo prazo inicial de 90 dias e valor mensal de R$ 1.005.061,20. Com essa conduta, segundo o MP, houve prejuízo aos cofres do município na ordem de R$ 3.234.579,64, valor que teria sido desviado.
Operação Proximidade
O MP desencadeou a Operação Proximidade em 1º de junho, com o cumprimento de oito mandados de busca e apreensão em investigação ligada ao desvio de recursos públicos por meio do contrato com a SKM, que prestava serviço de limpeza urbana.
O contrato também foi alvo de uma CPI na Câmara de Vereadores da cidade. Na ofensiva, foi afastado do cargo o então secretário municipal de Infraestrutura, Carlos Leonardo Charão, e um servidor da pasta.
Contraponto
Miki Breier se manifestou por meio das redes sociais. Na postagem, afirma que está tomando "todas as providências" para esclarecer os fatos e se defender da decisão que determinou o afastamento do cargo.
"Sou eu o maior interessado que tudo seja esclarecido em sua plenitude. Tenho convicção de que, ao final, a verdade irá prevalecer", escreveu.
Já o advogado que defende Breier, André Lima, falou ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha:
— Temos certeza da lisura e da legalidade de todas as atividades e atitudes do prefeito — afirmou.
O advogado disse ainda que espera ter acesso ao processo para apresentar a versão da defesa e tomar as medidas cabíveis visando a retomada do mandato de Breier. Ele também negou que o prefeito afastado tenha recebido dinheiro em espécie no esquema, como afirma o MP.