Na fachada da prefeitura de Cachoeirinha está escrito "Confiança que transforma". Essa confiança foi quebrada pelo prefeito Miki Breier (PSB), agora afastado por decisão judicial sob suspeita de desvio de recursos públicos.
O mais incrível da Operação Ousadia, deflagrada na manhã desta quinta-feira (30), é o que o nome diz: mesmo depois de ter o celular apreendido na Operação Proximidade, de junho, e de saber que estava na mira dos promotores, o grupo continuou operando como se não houvesse amanhã.
A suspeita é de superfaturamento nos serviços de limpeza urbana, com pagamento de propina ao prefeito, uma mesada estimada em R$ 40 mil. O Ministério Público tem imagens que mostram Breier recebendo maços de dinheiro em espécie, em sacolas e malas.
A empresa terceirizada "quarteirizava" os serviços.
O procurador-geral de Justiça, Marcelo Dornelles, disse à Rádio Gaúcha que ao receber as primeiras informações da Promotoria de Prefeitos ficou chocado por conhecer Miki Breier de longa data, como deputado estadual e prefeito. Um promotor disse à coluna que todos demoraram a acreditar nas primeiras denúncias, porque o político tinha "aquela imagem de padre, ligado às causas sociais".
O avanço das investigações não deixou dúvidas: Breier foi gravado recebendo dinheiro da empresa que prestava serviços de limpeza.
Além do prefeito, foram afastados oito integrantes do primeiro escalão suspeitos de participar de uma organização que ignorou as recomendações da Procuradoria-Geral do Município e firmou contratos emergenciais que favoreciam o desvio de recursos públicos.
A contratação de empresas de fora do Estado, algumas de fachada, é, segundo Dornelles, um subterfúgio usado por prefeitos para tentar dificultar a investigação do Ministério Público. Da mesma forma, o pagamento de propina em dinheiro vivo é uma tentativa de dificultar o rastreamento do dinheiro.
Principal líder do PSB no Estado, o ex-deputado Beto Albuquerque reagiu de forma cautelosa à operação que afastou Breier da prefeitura:
— Cabe a todos nós aguardar os desdobramentos desta situação. Conhecer mais o processo, suas provas e fundamentos. Lamento muito o ocorrido. Sempre tive muita confiança no amigo Miki. O negócio é aguardar os desdobramentos na Justiça e a defesa dele se pronunciar. Não nos cabe julgar nem absolver.