Depois de fazer acusações sucessivas de fraude das urnas eletrônicas sem apresentar provas, todas amplamente desmentidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente Jair Bolsonaro classificou como "vital" para a democracia a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar indícios de irregularidades que ele aponta nos equipamentos. No entanto, o chefe do Executivo ponderou que não sabe se obterá assinaturas no parlamento para a abertura do colegiado.
Em entrevista à Rádio 93 FM, do Rio de Janeiro, Bolsonaro voltou a pedir transparência e a defender o voto impresso nas eleições do país. Em acusações ao TSE, Bolsonaro reafirmou que a urna eletrônica não é auditável. A afirmação, no entanto, já foi rebatida pelo próprio órgão eleitoral, que afirma que todo o processo eleitoral é auditável e seguro. Além das auditorias internas, cidadãos, partidos políticos, fiscais de partidos, candidatos, OAB e Ministério Público podem realizar a fiscalização durante as etapas do processo.
Bolsonaro voltou a acusar o TSE de acobertar a invasão ao sistema eleitoral da Corte que continha os códigos usados nas urnas eletrônicas, como fez na noite de quarta-feira (4), e de ter apagado "as pegadas" deixadas pelo hacker. Conforme justifica, um hacker teve acesso às chaves criptografadas das urnas eletrônicas. Segundo ele, a comprovação da ação do TSE é que o órgão rebateu o presidente "com mentiras e fake news" às suas declarações em transmissão ao vivo nas redes sociais na última quinta-feira (29).
— Mas não rebateu inquérito da PF sobre invasão hacker — disse.
Na noite de quarta-feira, o TSE disse que o programa da urna eletrônica "simplesmente não roda" se for adulterado.
Bolsonaro alega que a tecnologia da urna eletrônica é a mesma desde 1996 e, por isso, precisa ser modernizada.
— Se um banco utilizasse a mesma tecnologia desde 1996, ninguém iria confiar — compara. — Eleições democráticas têm que ser igual à história de mulheres certas: não basta ser mulher, tem que parecer honesta.
Agora investigado no inquérito das fake news do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente reforçou também os ataques contra o presidente da Corte, o ministro Luís Roberto Barroso.
— Por que o ministro Barroso joga todas as fichas contra o voto auditável, contra o voto impresso, contra o voto democrático? Obviamente que tem algum interesse que eu não consigo entender ou decifrar qual seja — afirmou.
Bolsonaro repete que a articulação do ministro a favor do voto eletrônico tem como objetivo eleger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.
Nas acusações, o presidente disse ainda que "Barroso chegou ao STF porque defendeu um terrorista, o Battisti". Cesare Battisti foi condenado à prisão perpétua na Itália, que pediu a extradição para que ele cumprisse pena naquele país. Na época, Barroso atuou de forma a favor de Battisti. Em 2009, o STF entendeu que a decisão sobre extraditar ou não o italiano cabia ao presidente da República. Em 2010, o então presidente Lula negou a extradição.
Nas críticas feitas ao ministro, o chefe do Executivo sugeriu novamente uma manifestação da população em São Paulo para um apelo contra Barroso.
— Não podemos ter eleições duvidosas em 2022. É preciso contagem pública dos votos — afirmou.
Ameaça a Moraes
Após o ministro Alexandre de Moraes, do STG, ter acolhido notícia-crime enviada pelo TSE para que o presidente seja investigado no inquérito das fake news, o chefe do Executivo realizou ataques tanto ao magistrado quanto ao presidente da corte eleitoral, Luís Roberto Barroso.
O presidente classificou Moraes como sendo "a própria mentira dentro do STF". Para o presidente, o ministro faz "ações intimidatórias" e "joga fora da Constituição". Em ameaça, Bolsonaro afirmou:
— A hora dele vai chegar.