Há 25 anos, a urna eletrônica surgia no Brasil como uma saída para reduzir ao máximo a possibilidade de intervenção humana no processo eleitoral. Passado esse período, a invenção genuinamente brasileira segue sem nenhuma fraude comprovada no currículo, mas continua sendo alvo de controvérsia — desta vez, uma proposta de emenda à Constituição pretende tornar obrigatória a impressão de comprovantes do voto, que possa ser conferidos pelo eleitor.
A seguir, confira como funciona o equipamento, onde ele é usado e quando foi adotado pela primeira vez. Mais abaixo, veja ainda perguntas e respostas sobre o sistema desenvolvido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Se hackers conseguem invadir até o sistema da Nasa, por que não conseguiriam entrar na urna eletrônica?
A urna não está conectada à internet nem em nenhum dispositivo de comunicação. A única forma de um hacker invadir o equipamento, segundo o TSE, seria rompendo os lacres físicos e quebrando as mais de 30 barreiras de segurança do sistema, mas, ainda assim, seria impossível violar um aparelho sem deixar rastros.
A tecnologia da urna é da Justiça Eleitoral ou da empresa que fabrica o equipamento?
O projeto é 100% nacional e pertence ao TSE. A fabricação das urnas, cujo contrato é da empresa que vence o processo licitatório, é acompanhada por técnicos do tribunal.
É verdade que Brasil, Cuba e Venezuela são os únicos países a usar urnas eletrônicas?
Não. Esse é um boato que circula no WhatsApp. Segundo o Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Social (IDEA Internacional), 23 países usam urnas eletrônicas. A lista inclui nações de sólida tradição democrática, como Suíça, Canadá e Estados Unidos (em alguns Estados). Na América Latina, México e Peru também usam o sistema. Na Ásia, além de Japão e Coreia do Sul, há o exemplo da Índia, que é a maior democracia do mundo em número de eleitores (mais de 800 milhões) e usa urnas semelhantes às brasileiras, mas adaptadas à sua realidade.
Se o voto eletrônico é tão confiável, por que os Estados Unidos não adotou no país inteiro?
Cada um dos 50 Estados do país tem autonomia sobre a forma de votação. Parte adota o voto eletrônico, sendo que sete usam urnas semelhantes às brasileiras (sem impressão de voto). Estados que não adotam o sistema consideram os custos envolvidos altos e confiam no sistema tradicional. O equipamento utilizado no Brasil não é visto em uso em outros países por se tratar de um projeto nacional, de propriedade do TSE, que não pode ser comercializado.
Quais são os principais mecanismos de segurança?
São três principais mecanismos: assinatura digital e resumo digital, que são técnicas criptográficas, e segurança em camadas. A assinatura digital é usada para garantir que o conteúdo (ou arquivo digital) tenha a integridade verificada. Se for violado, a assinatura fica inválida. Já o resumo digital, uma espécie de síntese de cada arquivo de dados e programas, é publicado automaticamente no portal do TSE. Se alguém tentar violar a urna, o resumo é alterado. A segurança em camadas é o encadeamento de barreiras à ação de hackers. Qualquer ataque ao sistema causa um efeito dominó e a urna trava.