Muitas bandeiras do Brasil, muitos vídeos feitos por celulares, poucas máscaras e animadas conversas sobre modelos de motocicletas deram o tom da concentração para a motociata – ou Cavalgada de Aço, como preferem os manifestantes – em apoio ao presidente Jair Bolsonaro na manhã deste sábado (10) em Porto Alegre, na Fiergs.
Nas rodas de conversa sob um boneco de Bolsonaro inflável e sorridente, pouco se falava sobre o andamento do governo em si. Vindos de toda parte do Rio Grande do Sul, os participantes mais confraternizavam do que se engajavam nos discursos que apareciam em caixas de som e em faixas e camisetas vendidas pelos ambulantes. Neste material, sim, havia manifestações contra o Supremo Tribunal Federal, veículos de imprensa e a recente defesa pelo voto impresso em 2022.
Embora bastante variado, o perfil mais numeroso era o de pessoas como Luiz Carlos Brustolin: aos 68 anos, veio com três amigos desde a longínqua São Borja sobre uma motocicleta Goldwing 1.800, do qual ele fala com empolgação - com elementos como ar-condicionado e airbag, é um modelo único no Estado, segundo o dono. Veio mais pelo passeio do que pela política, mas é um apoiador firme do governo.
– Bem ou mal, acho que o presidente está fazendo alguma coisa. Você vê que a classe social de quem está aqui não é das mais baixas. É quem está fazendo alguma coisa pelo país – declarou Brustolin.
Embora a máscara fosse um elemento raro – mais presente nas bancas de ambulantes do que no rosto dos manifestantes – não se podia dizer o mesmo da vacina contra a covid-19. Todos os manifestantes que conversaram com GZH tomaram ao menos uma dose. Alguns, sob protesto.
– Tomei essa m. da CoronaVac e não posso nem viajar aos Estados Unidos para visitar a família do meu genro – reclama o pecuarista João Luiz Palmeiro, 74 anos, que viajou desde Pelotas em companhia do genro norte-americano.
Palmeiro retirou do bolso o WhatsApp para mostrar um meme em que a vacina produzida pelo Butantan aparece com a taxa de imunização abaixo de uma marca de cerveja sem gelo e de pinga com alho. Ele se mantém apoiador de Bolsonaro sobretudo pela duplicação da BR-116 até o sul do Estado. Com uma camiseta que mostrava Bolsonaro com o uniforme do Capitão América, Palmeiro pilotava uma Harley Davidson, enquanto o genro veio em uma BWM, ambas do pecuarista.
Embora numerosas nas garupas, eram raras mulheres sozinhas como Maria Inês Vescovini, 59 anos, que veio do bairro Jardim do Salso sozinha pilotando uma scooter de 110 cilindradas. Ela vai manter o voto em 2022 em Bolsonaro “para diminuir a corrupção”. Questionada se achava que o presidente poderia ser acusado de prevaricação, apenas chacoalhou a cabeça negativamente.
Sobre as suspeitas de corrupção que recaíram sobre o presidente recentemente, os manifestantes questionados falaram em perseguição para tentar atrelar Bolsonaro a malfeitos de outros escalões, e aí derrubá-lo.
– Se investigassem o Lula como estão investigando o Bolsonaro, encontrariam até o dedo dele – comparou um manifestante de Novo Hamburgo chamado Carlos, de 55 anos, que prefere não dar o sobrenome.
A motociata também reuniu apoiadores que não fariam o passeio de moto. Vieram somente para confraternizar com apoiadores do presidente e abanar para ele quando chegasse de helicóptero – a primeira aeronove, não se sabe se com o presidente a bordo, sobrevoou a Fiergs por volta de 9h20min para frisson do grupo. Entre os apoiadores não motorizados, estava a dupla Neida Ilha, 60 anos, e Jaci Quintana, 70 anos. Ambas sem máscara, circulavam faceiras exibindo uma bandeira que mostra Bolsonaro orando sobre a bandeira nacional. Reprodução de um meme que receberam em um grupo de apoiadores.
– Anota aí. Tias do zap desde 2018 – se orgulhava Jaci.
A manifestação deste sábado foi fichinha perto do esforço pregresso delas pelo presidente. Em 1º de maio, fizeram uma vaquinha para fretar um avião com sonorização em apoio ao governo. Gastaram R$ 6 mil. Às sextas-feiras, dedicam o dia a convencer pessoas na Esquina Democrática da importância do voto impresso.
– Tomamos muito carões, mas 50% nos ouvem. Ultimamente eu só rezo para que ele (Bolsonaro) tenha saúde. Ontem, eu dormi chorando vendo as condições dele. Peço que se der algo, que dê em mim em vez dele – declarou Neida, comentando as dificuldades do presidente de discursar na Serra, na sexta-feira (9), em razão de problemas gástricos.
Ambas estão vacinadas, embora Jaci tenha justificado que pretende viajar em breve aos Estados Unidos:
– Senão não teria feito. Tomamos ivermectina, o remédio do Bolsonaro.
Por volta das 9h40min, o esforço dos organizadores era para convencer os manifestantes a deixar os postos de gasolina e vias para se reunir dentro da Fiergs. O único veto era a mastros de bandeiras e outros objetos que pudessem ser arremessados no presidente. A motociata começou às 10h, com um trajeto de cerca de 70 quilômetros.