Enfrentando uma crise crônica de soluços que dificultou seu discurso, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender o voto impresso durante visita ao Rio Grande do Sul nesta sexta-feira (9). Ao falar durante 10 minutos na abertura da 1ª Feira Brasileira do Grafeno, em Caxias do Sul, o presidente disse que "o Brasil não tinha como dar certo no passado" e que hoje tem certeza de que pode mudar o país.
— O que eu mais quero são eleições limpas, para que nós possamos garantir a vontade popular — afirmou, colhendo aplausos da plateia que ocupava um ginásio da Universidade de Caxias do Sul.
Apesar de criticar o sistema eleitoral brasileiro, Bolsonaro não apresentou provas das supostas irregularidades. No fim de junho, o ministro Luís Felipe Salomão, corregedor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), deu 15 dias para o presidente explicar as declarações recorrentes sobre fraudes nas eleições.
Nesta sexta-feira, enquanto Bolsonaro discursava na serra gaúcha, o presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), concedeu entrevista coletiva em que defendeu a democracia e a realização das eleições em 2022:
— Tudo quanto houver de especulações em relação a algum retrocesso à democracia, como a frustração das eleições próximas vindouras do ano de 2022, é algo que o Congresso Nacional, além de não concordar, repudia, evidentemente.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, também divulgou uma nota à tarde na qual afirmou que atuar para impedir as eleições viola a Constituição e configura crime de responsabilidade.
Durante toda a solenidade em Caxias, Bolsonaro tentava conter o mal-estar. Quando chegou ao ginásio, tomava uma garrafa de água e já falava com dificuldade. Sentado entre os ministros da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, e da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, a todo momento balançava a cabeça em gestos de contrariedade.
Bolsonaro evitou menções à CPI da Covid ou às suspeitas de corrupção na compra de vacinas. Exaltou a composição do ministério, em especial Pontes — "o último ministro que ocupou a pasta não sabia a diferença de gravidade para gravidez", provocou — e disse que chegou à Presidência com a ajuda de Deus, mas destacou estar preparado para as intempéries do cargo:
— As pressões que eu enfrento, fiquem tranquilos: o meu couro é grosso.
Usando colete à prova de balas sob uma camisa branca com gravata azul, Bolsonaro desembarcou na cidade às 13h23min, vindo de Pirassununga (SP), onde participou da entrega de espadins a cadetes da Força Aérea. Diferente de outras ocasiões, desta vez, o cerimonial do Palácio do Planalto não comunicou a visita ao governo do Estado. Diante da ausência de convite e da recente troca de farpas entre o governador Eduardo Leite e o presidente, nenhum representante do Palácio Piratini acompanhou a agenda.
Embora houvesse dois helicópteros à disposição no aeroporto, Bolsonaro fez o deslocamento até a UCS por terra. No caminho, reduziu a velocidade do comboio e ficou em pé junto à porta aberta do veículo presidencial, acenando para apoiadores nas calçadas.
O presidente era aguardado desde as primeiras horas da manhã. Antes mesmo das 8h já havia simpatizantes em frente ao aeroporto, empunhando cartazes e vestidos de verde e amarelo. Na cerca ao redor do terminal, ambulantes expunham camisetas e bonés estampados com a foto de Bolsonaro e alusões à campanha eleitoral de 2022.
Um cercadinho montado diante de um dos portões logo foi ocupado por apoiadores ansiosos por uma foto com o presidente.
— Ele é uma pessoa iluminada. Está fazendo um trabalho maravilhoso e espero que esteja inspirado para fazer um governo ainda melhor a partir de 2022 — disse a economista Cristina Schio, 61 anos.
Na chegada à UCS, o presidente visitou a UCSGraphene, maior planta de geração de grafeno da América Latina. Entusiasta do material, um derivado do carbono 200 vezes mais resistente do que o aço, Bolsonaro circulou ainda por estandes de indústrias que usam o produto como matéria-prima. Segurou uma pistola e vestiu um capacete, ambos produzidos com a substância. Ao final, ganhou de presente um par de capacetes.
Bolsonaro estava acompanhado de seis ministros — Ramos, Pontes, Onyx Lorenzoni (Secretaria-Geral), Milton Ribeiro (Educação), Augusto Heleno (GSI) e Tarcísio Freitas (Infraestrutura) —, além de parlamentares gaúchos, muitos dispensando o uso de máscara. O presidente tampouco usou o acessório durante toda a visita.
Após os discursos de autoridades locais e do ministro da Ciência e Tecnologia, Bolsonaro ocupou a tribuna exaltando as inúmeras possibilidades do grafeno. Dizendo que sabia de cor a tabela periódica na juventude e que é admirador das ciências exatas, ele creditou à "ignorância" as críticas que recebe por insistir na defesa do material.
— Essa questão que grande parte dos senhores aqui estudam, se dedicam, realmente se apresenta como algo fantástico. Eu só tenho de cumprimentar a todos da Universidade de Caxias do Sul por se dedicar à causa. O que se apresenta para o mundo na próxima década são bilhões de dólares em comércio de produtos desse material — projetou.
Bolsonaro deixou o local logo após o discurso, sem falar com a imprensa. Na rua, se aproximou de apoiadores que, extasiados, gritavam "mito, mito". Enquanto o presidente cumprimentava a multidão, os jornalistas permaneceram retidos pela segurança e só puderam sair à rua quando ele já havia ido embora.
Da UCS, Bolsonaro seguiu de carro até o aeroporto, onde embarcou em um helicóptero rumo ao Spa do Vinho, em Bento Gonçalves. Mais tarde, ele tem marcado um jantar com empresários da região na vinícola Miolo. O presidente deixa a Serra na manhã de sábado (10), em direção a Porto Alegre, onde participa de passeio de moto com apoiadores e de um almoço com empresários.