Alvo de pressões do Senado, de opositores do governo Jair Bolsonaro e de ao menos 300 diplomatas críticos à atual política externa brasileira, o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo está, mais uma vez, no centro de uma controvérsia.
Agora, o dissenso é com a senadora Kátia Abreu (PP-TO), com quem trava uma briga que acabou resultando em um pedido de demissão. A seguir, relembre cinco episódios recentes em que o chanceler se envolveu em polêmicas.
1) Discurso de posse
Ernesto Araújo já causou polêmica na cerimônia de posse, em janeiro de 2019, com um discurso nacionalista, marcado pelo ataque ao "globalismo", com trechos em latim, grego e tupi e repleto de citações inusitadas. Mencionou, por exemplo, cantores e compositores como Renato Russo e Raul Seixas, e exaltou o escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo.
2) Filho no lugar do chanceler
Em março de 2019, na primeira reunião bilateral de Jair Bolsonaro com o então presidente dos EUA Donald Trump, Ernesto Araújo ficou de fora do encontro. Quem apareceu na foto, no Salão Oval da Casa Branca, foi um dos filhos do presidente brasileiro, Eduardo Bolsonaro. Nesse caso, foi a ausência do chanceler — e não a presença — o que causou polêmica. O Itamaraty minimizou a questão, informando que, após o encontro inicial, houve reunião ampliada, com a presença de todos os ministros brasileiros que integravam a comitiva do presidente, incluindo Araújo.
3) "Comunavírus"
Em abril de 2020, Araújo defendeu a ideia de que a pandemia do coronavírus seria parte de um "projeto globalista" e um "novo caminho do comunismo". Em texto publicado em seu blog pessoal, o chanceler declarou que tal projeto "já se vinha executando por meio do climatismo ou alarmismo climático, da ideologia de gênero, do dogmatismo politicamente correto, do imigracionismo, do racialismo ou reorganização da sociedade pelo princípio da raça, do antinacionalismo, do cientificismo". Ainda de acordo com o ministro, o "comunavírus", "vírus ideológico" que se sobrepõe ao coronavírus, teria feito "despertar para o pesadelo comunista".
4) Discussão com embaixador chinês
Em março de 2020, Araújo entrou na briga envolvendo o deputado Eduardo Bolsonaro e o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, que arranhou as relações do Brasil com um de seus maiores parceiros comerciais. Nas redes sociais, sobre o bate-boca virtual entre o filho de Bolsonaro e o embaixador chinês, o chanceler declarou ser "inaceitável que o embaixador da China endosse ou compartilhe postagem ofensiva ao chefe de Estado do Brasil". Araújo afirmou ainda que o governo tinha "a expectativa de uma retratação".
À época, o filho de Jair Bolsonaro havia insinuado que a China seria a culpada pelo coronavírus e estaria escondendo informações. A afirmação desencadeou reação imediata da representação diplomática da China no Brasil, que classificou as palavras de Eduardo como "extremamente irresponsáveis" e exigiu que o deputado pedisse "desculpas ao povo chinês". Wanming afirmou que quem insiste em atacar o povo chinês “acaba sempre dando um tiro no próprio pé”.
5) É bom ser "pária"
Em outubro de 2020, ao defender o governo Bolsonaro, Araújo disse que, se a atual política externa brasileira “faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”. A declaração, feita durante cerimônia de formatura do Instituto Rio Branco, foi marcada, também, por críticas ao que ele chamou de "covidismo".