No dia seguinte às acusações feitas pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, de que teria atuado em favor de interesses da China na questão do mercado de 5G, a senadora Kátia Abreu (PP-TO) criticou o que chamou de "falta de equilíbrio" do chanceler brasileiro e atribuiu as declarações feitas por ele a "desespero".
— Esse desespero é porque ele não consegue se segurar no cargo, exclusivamente por conta da sua incompetência diplomática. Foi a mesma coisa que fez o (ex) ministro (da Saúde, Eduardo) Pazuello antes de sair, (dizer) que pessoas foram lá e pediram dinheiro pra ele, que o pressionaram por dinheiro, insinuando corrupção. Sempre colocando a incompetência disfarçada de combate à corrupção. Um tanto desonesta essa estratégia, já conhecida no Brasil — afirmou a parlamentar, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade desta segunda-feira (29).
Questionada sobre ter chamado o chanceler de "marginal", a senadora afirmou que se referiu a atitudes "à margem do normal", de pessoas "que não se comportam adequadamente".
— Enquanto cidadão, ele está à margem da ética, do equilíbrio. Marginal porque deixa o Brasil à margem com seu comportamento. Tem toda a inadequação diplomática que um ser humano possa ter. Isso é imperdoável — afirmou.
Já quando perguntada especificamente sobre a acusação de lobby, a senadora voltou a afirmar o que já havia dito em uma nota emitida no domingo (28), alegando que "uma reunião de três horas não pode ser resumida em uma frase".
— Ele pinçou uma frase do meio da conversa, deslocada, que não tem nada a ver. Eu não estou preocupada com a empresa chinesa, mas com as exportações do agro. Quando me contaram que ele estava tentando me influenciar a fazer um decreto proibindo a Huawei, eu fiquei simplesmente muito preocupada. Tive esse aviso de dentro do governo, de que ele estava tentando influenciar (o presidente Jair) Bolsonaro, mesmo não tendo nada a ver com o assunto, dizendo que a Huawei ia praticar espionagem. Eu disse a ele da gravidade, de que ele estava colocando em risco um dois setores mais importantes do país — afirmou.
Na entrevista à Rádio Gaúcha, a senadora preferiu não comentar sobre uma possível saída de Araújo do cargo, afirmando que "não pode interferir".
— O presidente tem o direito de contratar o assessor que quiser, e nós, no Senado, temos a prerrogativa de votar o que acharmos conveniente ou não. Cada um que enfrente suas consequências.