O anúncio de que o governador Eduardo Leite vai postular uma pré-candidatura à Presidência da República está causando frisson nos partidos que ambicionam disputar o governo do Rio Grande do Sul em 2022. A investida nacional do tucano acelera movimentos de dirigentes, estrategistas e aspirantes ao Piratini.
A ofensiva mais explícita ocorre no MDB. Uma articulação do presidente da Assembleia, Gabriel Souza, com Leite está levando o deputado estadual Edson Brum para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Inicialmente, Souza ofereceu a pasta ao deputado Vilmar Zanchin, mas o parlamentar recusou o cargo, mesmo sob pressão da bancada.
Com a desfeita, o convite foi repassado a Brum, até então um contumaz crítico da gestão tucana. O deputado ainda não confirmou a ida para o governo, mas teria no posto um possível trampolim para uma indicação futura ao Tribunal de Contas do Estado (TCE), antiga ambição.
A construção também encurta o caminho para uma aliança formal entre os dois partidos na eleição do ano que vem. Com Leite recusando-se a disputar a reeleição, e na ausência de um candidato natural no PSDB, um MDB mais forte no aparato político do Estado credencia a legenda à liderança de uma chapa de situação.
Por enquanto, essa vaga está reservada ao deputado Alceu Moreira, presidente do partido no Estado e com forte influência sobre as bases no Interior. Moreira tem agido com discrição, mas flerta com a ideia de uma candidatura majoritária, seja ao Piratini ou ao Senado. O maior entusiasta dessa iniciativa é justamente Souza, que aspira concorrer a deputado federal e herdaria os votos de Moreira no Litoral Norte, base política quem ambos compartilham atualmente.
No PP, esse movimento é monitorado de perto, sobretudo pela família Covatti. A despeito da pré-candidatura do senador Luiz Carlos Heinze ao governo Estado, o clã pretende fazer da deputada Silvana Covatti candidata a vice-governadora na chapa do MDB. Ao lugar de Silvana na Assembleia está sendo preparada a primogênita, Viviana Covatti. Para colocar em pé esse planejamento, o grupo precisa assumir o comando da legenda em setembro, quando acaba o mandato do atual presidente, Celso Bernardi. Essa construção também passa pelo controle dos diretórios municipais, cuja eleição é em maio.
Oficialmente, todos no PP dizem apoiar a manutenção de Bernardi à frente da legenda e a candidatura de Heinze ao Piratini. Essa inclusive foi a posição manifestada em reunião do diretório, segunda-feira, por Silvana e pelo secretário da Agricultura, Covatti Filho.
- Defendemos a candidatura própria e a recondução do presidente Bernardi - afirma o secretário.
Nos bastidores, contudo, há muita reclamação sobre o temperamento considerado explosivo do senador e sua pauta monotemática em torno do agronegócio. Dirigentes e parlamentares também comentam que o momento de Heinze teria sido em 2018, na onda conservadora que elegeu Jair Bolsonaro e diversos candidatos de direita. No próximo ano, avaliam, o eleitor estaria tentado a votar em políticos mais moderados, identificados com a centro-direita e a centro-esquerda.
- Quando fui deputado, meu foco era mesmo mais centrado no campo, mas hoje eu falo e faço muito em várias áreas, como energia e infraestrutura, com projetos sobre usinas de biomassa, aeroportos, portos e rodovias. Não estou preocupado com as críticas, mas com as realizações – reagiu Heinze.
Outro espectador ansioso dessas articulações é o PTB. O partido não esconde a ebulição com a chance de herdar o governo do Estado com a renúncia de Leite, mas tampouco camufla a mágoa por se ver preterido pelo governador nas conversas sobre a sucessão. Não há nenhuma definição sobre o rumo a seguir em 2022, mas a hipótese que começa a ganhar força é o atual vice Ranolfo Vieira Junior concorrer a governador.
Na esquerda, o PT começa a definir seu candidato. Em reunião virtual na terça-feira da semana passada (2), o deputado Edegar Pretto foi convidado a se apresentar como postulante ao governo. Em torno de 25 dirigentes e parlamentares do partido foram unânimes ao citar Pretto como melhor nome do partido para a empreitada. A indicação ainda há precisa da chancela de algumas correntes internas e a ideia é obter consenso até o fim do semestre.
No PDT, cresce a pressão sobre o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan. Os trabalhistas precisam de um palanque forte no Estado para abrigar a candidatura presidencial de Ciro Gomes e apostam na popularidade do cartola, querido pela torcida e cada vez mais incensado no universo da bola. Bolzan também é lembrado como um nome competitivo para o Senado, mas quem priva da intimidade do pedetista diz que ele pode abdicar da política partidária para disputar o comando da CBF.