Sob pressão de aliados descontentes, o presidente Jair Bolsonaro deu sequência às articulações pela aprovação do nome do desembargador federal Kassio Nunes Marques, indicado por ele como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) na última sexta-feira. Bolsonaro rechaçou a insatisfação dos conservadores preteridos pela governabilidade.
O presidente voltou a defender no domingo (4) o currículo do advogado piauiense, nome celebrado por ícones do Centrão, e alvo de um tiroteio vindo de segmentos evangélicos e olavistas, e que desapontou militares e empresários liberais.
Apesar do desgaste, o Palácio do Planalto busca agora apoio ao indicado no Congresso, enquanto o desembargador deverá iniciar o "beija-mão" dos senadores. Kassio Nunes deve começar a se reunir com alguns senadores em grupo. Uma das articuladoras é Katia Abreu (PP-TO). A primeira ideia é buscar os líderes de bancada e partidos.
— Para otimizar a tarefa vamos tentar algumas pequenas reuniões. Muitos querem ajudar. Não sou a única. Ele é carismático — elogiou a senadora, que já esteve com o desembargador, em recepção de Eduardo Braga (MDB-AM), potencial relator do processo de indicação.
No sábado (3), Bolsonaro participou de uma "confraternização" fora da agenda com o escolhido. A noite de pizza e futebol teve a presença do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que deve marcar agora a sabatina de Kassio Nunes.
O anfitrião do encontro de sábado à noite foi o ministro Dias Toffoli, último presidente do Supremo, e um dos integrantes da Corte mais auscultados por Bolsonaro, ao lado de Gilmar Mendes. A deferência na comunicação prévia à dupla sobre a intenção de indicar Kassio Nunes provocou insatisfação do atual presidente da Corte, ministro Luiz Fux, que ao tomar posse sinalizou um desejo de mais distanciamento político do Planalto. Bolsonaro ignorou o incômodo. O presidente demonstrou compartilhar da intimidade do indicado, com quem já disse "ter tomado muita tubaína", no convescote de sábado à noite.
Presentes ao encontro negaram que tenham tratado de assuntos de trabalho na reunião. Eles assistiram à vitória do Palmeiras sobre o Ceará por 2 a 1, em partida válida pelo Campeonato Brasileiro.
O ex-ministro da Defesa e da Segurança Pública Raul Jungmann foi outro convidado. O quarteto vibrou cada gol do jogo, em um volume que até chamou a atenção dos vizinhos. Houve até gritos de "Fora, Bolsonaro" nas casas do Lago Norte, bairro nobre de Brasília. Bolsonaro deixou a residência após o fim do jogo. E Toffoli subiu o som do ambiente rock n'roll até a despedida de Kassio Nunes, uma hora depois de Bolsonaro.
A festividade motivou ainda mais questionamentos por parte dos eleitores. E Bolsonaro tratou de responder diretamente a eles nas redes sociais. "Preciso governar. Converso com todos em Brasília", justificou Bolsonaro, ao ser confrontado com imagens que registraram abraços em Toffoli.
Sabatina
A sabatina de Nunes ainda é incerta, mas deve ser agendada por Alcolumbre tão logo o decano Celso de Mello se despeça do STF, em 13 de outubro. Alcolumbre deve se reunir com líderes para definir o calendário na próxima terça-feira (6). Mas o desembargador pode agilizar as conversas de apresentação nos bastidores. Ele tem trânsito no Senado. Sua mulher, Maria do Socorro Marques, foi funcionária de confiança de senadores piauienses do PT e de partidos do Centrão. Na semana passada, passou a assessorar o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS).