A força-tarefa da Operação Lava-Jato no Rio denunciou nesta sexta-feira (25) o advogado Frederick Wassef, ex-defensor da família Bolsonaro, a sócia dele, Marcia Zampiron, o empresário Marcelo Cazzo, a advogada Luiza Nagib Eluf e o ex-presidente da Federação do Comércio do Rio, Orlando Diniz, por peculato e lavagem de R$ 4,6 milhões supostamente desviados das seções fluminenses do Serviço Social do Comércio (Sesc), do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e da Fecomércio.
A denúncia foi apresentada no âmbito da Operação E$quema S, deflagrada no início do mês para investigar suspeitas de irregularidades na relação entre escritórios de advocacia e o Sistema S do Rio. Na ocasião, o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, colocou 26 pessoas no banco dos réus por suposta participação no mesmo esquema.
As investigações apontaram contratos supostamente falsos firmados entre as bancas e o Sesc, Senac e Fecomércio. "Os serviços arrolados não foram prestados ou foram prestados no interesse exclusivo de Orlando Diniz para, por exemplo, a perseguição de adversários pessoais", diz a Lava-Jato.
O ponto de partida as apurações foi a delação premiada do próprio Orlando Diniz. Em depoimento, o ex-presidente da Fecomércio do Rio contou que buscava "comprar uma solução política" e se "blindar das consequências dos desvios de recursos que vinham sendo praticados" por ele. Para isso, firmava os contratos de fachada como estratégia para justificar pagamentos de vantagens indevidas disfarçadas de serviços que, na verdade, não eram prestados ou eram superfaturados.
O grupo denunciado hoje foi alvo de buscas na fase ostensiva do inquérito. No caso de Wassef, a Procuradoria vasculhou um endereço residencial e outro comercial ligado ao advogado na capital paulista e ainda em seu escritório em Atibaia, no interior de São Paulo, - local onde o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, apontado como suposto operador financeiro do esquema de rachadinhas no gabinete de Flávio Bolsonaro enquanto deputado estadual no Rio, foi preso no âmbito da Operação Anjo.
Segundo a Lava-Jato, Frederick Wassef, Marcia Zampiron e Luiza Nagib Eluf entraram no esquema em 2016 por indicação de Marcelo Cazzo que, na época, era o responsável pelas contratações de serviços jurídicos pela Fecomércio/RJ. O escritório Eluf e Santos teria sido usado como intermediário de pagamentos a Wassef e sua sócia.
A quebra de sigilo bancário do grupo indicou que, entre dezembro de 2016 e junho de 2017, o escritório de Luiza Nagib Eluf transferiu R$2,6 milhões ao escritório de Wassef e R$751 mil diretamente a Marcia.
Em delação, Orlando Diniz contou que precisaram de um escritório interposto, uma vez que a então companheira de Frederick Wassef, Maria Cristina Boner Leo, tinha pendências judiciais, "o que poderia atrair holofotes indesejados para a contratação".
Oficialmente, os contratos indicavam a prestação de assessoria jurídica na realização de sindicâncias administrativas para apurar vazamentos de informações do Sistema S. Mas, segundo a Lava-Jato, o verdadeiro objeto dos serviços foi o monitoramento pessoal de Daniele Paraíso, funcionária do Senac e recém-separada de Orlando Diniz.
"(Daniele) havia recém se separado dele, pessoa a quem o colaborador imputava a pecha de persegui-lo, razão pela qual ele desejava responsabilizar por suspeitas de vazamentos", sustenta a denúncia. "Por tabela, a deflagração dessas apurações internas também tinham o objetivo de garantir que os contratos milionários e que instrumentalizaram outros desvios não viessem à tona", completa a Lava-Jato do Rio.
Com a palavra, o advogado Frederick Wassef
A reportagem entrou em contato com Wassef e aguarda resposta. Após ser alvo da Operação Esquema $, ele divulgou a seguinte nota:
"No dia de hoje foi cumprido um mandado de busca e apreensão em minha residência no Morumbi assustando meus pais idosos que moram comigo e não podem ter contato com ninguém pela questão da pandemia . Nenhuma irregularidade foi encontrada e, por consequência, não houve a apreensão de nada . O mesmo se sucedeu em meu escritório de advocacia: nada foi apreendido.
"Não fui denunciado como os demais advogados e nada tenho que ver com nenhum esquema de Fecomércio . Jamais fui contratado pela Fecomércio ou recebi pagamentos desta entidade . Fui contratado por um renomado escritório de advocacia criminal de São Paulo que tem como dona uma conhecida procuradora do Ministério Público de SP e que sua biografia é um exemplo de integridade , retidão e honestidade, além de ter dedicado sua vida no combate ao crime como atuante promotora e procuradora de justiça que foi .
Todos os meus serviços , de todos os clientes, foram prestados. Meus honorários foram declarados à Receita Federal e todos os impostos pagos na totalidade . Após dois anos e meio de investigação não fui denunciado . Jamais em minha vida pratiquei qualquer irregularidade e nunca fui investigado ou respondi a qualquer processo . Sou aprovado pelo rigoroso compliance de todos os Bancos e de meus clientes .
O delator Orlando Diniz está deliberadamente mentindo a meu respeito a mando de advogados inescrupulosos que estão usando-o como míssil teleguiado para me atingir visando atender o interesse de um outro cliente em comum.
Denunciei no ano passado a uma autoridade pública o esquema e uma engenharia criminosa que estava sendo montada para usar o delator para me atingir e já existe uma investigação em curso apurando tais fatos."
Com a palavra, os demais denunciados
Até a publicação desta matéria, a reportagem havia buscado contato com a defesa dos demais denunciados, mas sem sucesso. O espaço permanece aberto a manifestações.