Em resposta à divulgação de relatório da CPI das fake news no Congresso que identificou, entre junho e julho do ano passado, 2,065 milhões de anúncios pagos pelo governo em canais que registram conteúdo inadequado, o secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten, informou nesta quarta-feira (3) que a pasta teve “99,5% de assertividade” na estratégia de publicidade da reforma da Previdência, ano passado. Ele convocou coletiva de imprensa para explicar a reportagem do jornal O Globo, que divulgou relatório da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.
De acordo com o secretário, o governo pagou por 400 milhões de anúncios e, “assumindo que foi realmente verdade” o relatado pelos deputados e senadores, houve problema em apenas 2 milhões. Esses anúncios colocados em canais com conteúdo inadequado representa cerca de R$ 10 mil de verba pública, segundo o secretário de Publicidade, Glen Valente:
- Não existe nenhum procedimento etéreo em relação a administração do dinheiro público. Se a gente identificar que tem alguma coisa errada, a gente corrige, é assim que funciona.
Tanto Wajngarten quanto Valente explicaram que todos os anúncios foram realizados por agência de publicidade, que contratou a ferramenta do Google chamada AdSense. Eles afirmaram que exigem da agência e do Google que sites impróprios não tenham publicidade do governo. Durante coletiva de imprensa, falaram também que o governo não contrata nem direciona verba diretamente a qualquer tipo de blog ou veículo de comunicação digital. O erro, de acordo com os dois secretários, não foi causado pelo governo, mas por falha no direcionamento da publicidade por meio da AdSense.
- A gente segue a performance da ferramenta. É ela que define de alguma forma onde o indivíduo que a gente tá buscando tá percorrendo qual caminho na internet - disse Valente.
Conforme o jornal O Globo, entre esses canais considerados inadequados pela CPI estão sites que divulgam notícias falsas, oferecem investimentos ilegais e até aplicativos com conteúdo pornográfico. No total, foram identificados 843 canais considerados inadequados que veicularam um total de 2.065.479 anúncios. Entre eles estão 47 sites que divulgam notícias falsas, 741 canais do YouTube que foram removidos pela plataforma por descumprimento de regras, 12 sites com notícias sobre jogos de azar, sete que fazem ofertas de investimentos ilegais e quatro com conteúdo pornográfico.
O documento aponta ainda a necessidade de questionar a Secom sobre o total de anúncios veiculados ao longo de todo o ano de 2019 em relação ao site Terça Livre, do blogueiro Allan dos Santos. O blogueiro afirmou que não recebia dinheiro público, mas os dados da Secom mostraram que seu canal no YouTube recebeu 1.447 anúncios.
Os dados, divulgados na terça-feira (3), constam em um relatório elaborado por consultores legislativos a pedido da CPI. O conteúdo foi obtido por meio da Lei de Acesso a Informação (LAI) e diz respeito ao período 6 de junho e 13 de julho do ano passado.
Nesta quinta-feira (4), o Google se manifestou sobre o episódio:
“O Google tem ajudado parceiros do setor privado e do setor público a usar a publicidade digital para levar suas mensagens a milhões de brasileiros de modo eficiente, com escala e alcance.
Temos políticas contra conteúdo enganoso em nossas plataformas e trabalhamos para destacar conteúdo de fontes confiáveis. Agimos rapidamente quando identificamos ou recebemos denúncia de que um site ou vídeo viola nossas políticas.
Entendemos que os anunciantes podem não desejar seus anúncios atrelados a determinados conteúdos, mesmo quando eles não violam nossas políticas, e nossas plataformas oferecem controles robustos que permitem o bloqueio de categorias de assuntos e sites específicos, além de gerarem relatórios em tempo real sobre onde os anúncios foram exibidos.
Cientes do dinamismo do ecossistema digital, também trabalhamos no aperfeiçoamento de nossas plataformas para oferecer os melhores resultados possíveis para nossos parceiros. Preservar a confiança no ambiente de publicidade digital é uma prioridade.
Agimos diariamente para minimizar conteúdos que violam nossas políticas e impedir a ação de pessoas mal-intencionadas em nossa rede. Somente em 2019, conforme nosso mais recente relatório de transparência, encerramos mais de 1,2 milhão de contas de publishers e retiramos anúncios de mais de 21 milhões de páginas, que faziam parte de nossa rede, por violação de políticas."