O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta segunda-feira (15) que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, não foi "muito prudente" nem deu "um bom recado" ao ter participado neste domingo (14) de uma manifestação em Brasília a favor do governo e contra o Supremo Tribunal Federal (STF).
Em entrevista à Band News, o presidente disse que o ministro não estava representando o governo federal ao ter comparecido ao protesto e que a sua presença criou "mais um problema" que ele tem buscado contornar.
— Eu acho que ele não foi muito prudente em participar da manifestação, apesar de não ter falado nada demais ali. Mas não foi um bom recado. Por quê? Porque ele não estava representando o governo. Ele estava representando a si próprio. Como tudo o que acontece cai no meu colo, é um problema que estamos tentando solucionar com o senhor Abraham Weintraub — disse.
Bolsonaro afirmou ainda que não coordena ou convoca manifestações e que ele só participou de protestos pacíficos a favor de seu governo. Ele ressaltou que as crises recentes entre os Poderes são resultado de uma "constância em fustigar o governo".
Na entrevista, o presidente não foi questionado sobre a reunião que teve minutos antes com o próprio Weintraub.
Integrantes do governo disseram a ministros do STF que o titular da Educação deverá ser demitido em um gesto de paz à Corte.
Ao mesmo tempo, o presidente busca uma saída honrosa para seu ministro, como um cargo no Planalto ou uma função diplomática no Exterior.
Magistrados do STF acreditam inclusive que o ministro da Educação pode acabar sendo preso se continuar atacando as instituições, como tem insistido em fazer, como informou a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo.
No ato, Weintraub comentou o inconformismo de um dos interlocutores que afirmou pagar impostos para os "corruptos" roubarem.
— Já falei a minha opinião, o que faria com esses vagabundos — ressaltou o ministro.
O termo "vagabundos" foi usado por ele em referência aos magistrados do Supremo Tribunal Federal (STF) em reunião ministerial do dia 22 de abril.
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, aliados de Bolsonaro dizem acreditar que Weintraub sabe que seu caso não terminará bem no STF e, como não há muito a ser feito, optou por fazer barulho para que, caso seja condenado, seja visto como mártir da causa ideológica bolsonarista, criando a narrativa de que é mais uma vítima do Supremo.
Mesmo no Judiciário, porém, o recado do Planalto é lido com ceticismo. Faz um mês que a cúpula do Congresso e parlamentares do centrão também pressionam pela saída de Weintraub.
Até a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, em que o ministro xinga os integrantes do STF de vagabundos e diz que eles deveriam ser presos, Bolsonaro estava decidido a demiti-lo, segundo parlamentares e interlocutores do núcleo jurídico do governo que buscavam o acerto para a saída de Weintraub como um gesto de paz ao Supremo.
O vídeo da reunião e a convocação para um depoimento feita por Alexandre de Moraes em seguida, porém, deram sobrevida ao titular da Educação. Weintraub ganhou mais adeptos entre a base mais fiel do bolsonarismo. Se demitisse o ministro, dizem seus aliados, e cedesse ao STF, o presidente criaria um problema sério com parcela de seus eleitores. Desde então, interlocutores do Judiciário têm conversado com aliados de Bolsonaro para construir uma solução.