Alvo da operação da Polícia Federal (PF) contra fake news, deputados aliados ao presidente Jair Bolsonaro reagiram nesta quarta-feira (27) e classificaram como ilegais as investigações. Eles não são alvo de mandados de busca e apreensão, mas o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que sejam ouvidos em 10 dias e que suas postagens em redes sociais sejam preservadas.
Trata-se dos deputados federais Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP), Daniel Lúcio da Silveira (PSL-RJ), Filipe Barros (PSL-PR), Junior do Amaral (PSL-MG), Luiz Phillipe Orleans e Bragança (PSL-SP), além dos deputados estaduais Douglas Garcia (PSL-SP) e Gil Diniz (PSL-SP).
"Toda pessoa que respeite a lei tem a obrigação de repudiar essas buscas no âmbito de um inquérito ilegal e inconstitucional, sem fato determinado e já arquivado pela PGR. Se você aplaude a ação ilegal contra seu adversário, não adianta reclamar quando ela se voltar contra você", escreveu a deputada Carla Zambelli, em uma rede social.
Carla está no centro de outra polêmica, sob suspeita de ter informações prévias sobre operações da Polícia Federal contra governos estaduais, como a que ocorreu na manhã desta terça-feira (26), no Rio de Janeiro. Na noite de segunda-feira (25), em entrevista à Rádio Gaúcha, a deputada disse ter conhecimento de que investigações contra governadores estavam em andamento, por conta dos gastos para combater a covid-19, e que em breve operações seriam lançadas. Ela nega que tenha tido informações privilegiadas.
Carla ainda cobrou que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), coloque para análise os pedidos de impeachment que tramitam contra Moraes. O presidente do Senado não se manifestou.
"Estamos vivendo um estado de exceção, ironicamente sob os aplausos dos que acusam o Presidente @JairBolsonaro de querê-lo. Está na hora do Sr. @davialcolumbre cumprir seu dever constitucional e analisar com carinho os pedidos de impeachment contra o responsável por esse absurdo."
Ao todo, a PF cumpre 29 mandados de busca e apreensão no chamado inquérito das fake news, que apura ofensas, ataques e ameaças contra ministros do STF. O ex-deputado Roberto Jefferson, o empresário Luciano Hang (dono da Havan), assessores do deputado estadual paulista Douglas Garcia (PSL) e ativistas bolsonaristas estão entre os alvos.
O principal foco da operação é um grupo suspeito de operar uma rede de divulgação de notícias falsas contra autoridades, além de quatro possíveis financiadores dessa equipe. As ordens foram expedidas por Moraes, relator do caso, e estão sendo executadas no Distrito Federal, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina. A investigação corre em sigilo.
A deputada Bia Kicis, um dos alvos da operação, disse também por uma rede social que a Polícia Federal não esteve na sua casa.
"Acordei com a notícia de que a PF estava na minha porta. Não está! Mas está na casa do @allantercalivre do @tercalivre e do Rey Bianchi. Apreenderam celular e computador do Allan. Parece que o luciano_hang tb é alvo.#InqueritoIlegal".
Filho do presidente da República, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) considerou a operação como uma "ordem ditatorial". Ele não é alvo da operação desta quarta-feira.
"Informando-me sobre este lamentável fato. Aos que acreditavam que o Brasil teria medidas autoritárias após as eleições de 2018 acertaram, só não contavam que a ordem ditatorial não viria do presidente que eles tanto xingam de ditador", escreveu em rede social.
Já o deputado estadual Douglas Garcia, um dos investigados, disse que a operação é inconstitucional.
"Polícia Federal no meu gabinete: a perseguição do inquérito inconstitucional 4.781 estabelecido pela ditatoga com o intuito de criminalizar a liberdade de expressão e a atividade parlamentar."
O deputado estadual Cabo Junior Amaral também repudiou a operação. "PF está na casa do @allantercalivre e em outros endereços cumprindo ordens de busca e apreensão do inquérito inconstitucional que corre no STF. O crime? "Ofensas" à corte!"