Apoiadores de Jair Bolsonaro hostilizaram jornalistas nesta segunda-feira (25) em frente ao Palácio da Alvorada. Pouco antes dessas agressões verbais, o presidente, ao passar perto dos repórteres, criticou a imprensa.
— No dia que vocês tiverem compromisso com a verdade, eu falo com vocês de novo — disse, enquanto alguns simpatizantes dele respondiam "Isso aí".
Os xingamentos aos jornalistas que esperam a saída de Bolsonaro na porta do Alvorada diariamente se tornaram comuns, mas, desta vez, a agressividade foi maior. Uma mulher passou pela fila dos jornalistas repetindo:
— Ó o lixo, ó o lixo, ó o lixo. Escória! Lixos! Ratos! Ratazanas! Bolsonaro até 2050! Imprensa podre! Comunistas — berrou a mulher, enquanto outros gritavam repetidamente "mídia lixo".
— Sem vergonha. Vocês não mostram a realidade! — disse uma outra mulher.
— Eu não sei como vocês conseguem dormir à noite. Vocês não representam a população brasileira! Mídia comunista, comprada! Cambada de safados! — gritou um homem.
Nesta segunda-feira (25), como a lotação do bolsão destinado aos apoiadores ao lado da área de imprensa já havia atingido o limite de 35 pessoas, foi criada uma nova área no lado oposto, em frente ao espelho d'água diante do Alvorada. Quando o jornal Folha de S.Paulo chegou ao local, por volta das 7h30min, havia 60 pessoas na fila, e muitos já estavam acomodados no bolsão reservado à militância.
Quando Bolsonaro apareceu, às 8h30min, falou primeiro com os que estavam diante do espelho d´água. Sem máscara, tossiu com a mão na boca e, quando se dirigiu para o lado onde fica a imprensa, vestiu a máscara, de uso obrigatório no Distrito Federal.
Depois que o presidente foi embora, os apoiadores seguiram para o local onde fica um púlpito com os microfones das emissoras de TV. Ao mesmo tempo, a claque que estava no bolsão ao lado da imprensa se aproximou da única grade que a separa de quem está trabalhando.
Com a escalada de hostilidades, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsável pela segurança, havia instalado duas grades, com espaço de uma pessoa em pé entre elas, para separar os dois grupos. O reforço da proteção, no entanto, foi removido e, nos últimos dias, há apenas uma grade e uma fita de contenção, ignorada pela claque.
No início do mês, apoiadores de Bolsonaro reviraram o lixo em frente da sala de imprensa do Alvorada para acusar os jornalistas de sujos. Diante do Palácio do Planalto, jornalistas já foram agredidos fisicamente durante uma manifestação a favor do presidente.
— Vergonha, mídia! Corrupta, comprada, tome vergonha. A Globo é um lixo — gritou uma mulher nesta segunda-feira, enquanto acompanhantes dela chamavam de lixo os jornalistas em geral.
— Vocês da mídia não representam o Brasil, não representam a nossa bandeira. A nossa bandeira tem a ordem e o progresso, cambada de comunistas — bradou um homem.
Sem máscara, uma mulher com camisa verde e amarela, onde se lia "fechados com Bolsonaro" se aproximou dos jornalistas gritando. Na saída, novas agressões verbais. Diante da sala de imprensa, um homem dizia aos jornalistas que ele "teria vergonha de ser parente" dos profissionais. No estacionamento, um grupo se aproximou dos repórteres para pedir desculpas e dizer que não concordava com o comportamento dos outros apoiadores.
O GSI foi informado da redução da segurança e dos ataques desta segunda (25), mas não havia se manifestado até a publicação desta reportagem. Diariamente, jornalistas dão plantão diante da residência oficial da Presidência da República por causa do hábito de Bolsonaro de conceder rápidas entrevistas no local. Há mais de uma semana, no entanto, desde que a crise política se agravou, ele não tem respondido a perguntas e optou por conceder entrevistas apenas a youtubers alinhados a ele.
Na sexta-feira (22), após a divulgação, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), do vídeo da reunião ministerial alvo de investigação, ele fez um pronunciamento de mais de 50 minutos.