No 21º andar do Centro Administrativo do Estado, em Porto Alegre, cinco telas exibem notícias do dia, videochamadas e dados da pandemia em tempo real. Nas paredes, planilhas e anotações em papéis coloridos detalham informações sobre leitos de UTI, respiradores, máscaras, aventais e luvas.
É dali, em transmissões diárias pela internet, que o governador Eduardo Leite anuncia as principais decisões sobre o combate ao coronavírus no Rio Grande do Sul.
Desde o último dia 20, a antiga sala de governança se traveste em gabinete de crise. Na mesa triangular, que ocupa quase todo o QG, caberia o secretariado inteiro, não fossem as medidas de isolamento social determinadas por Leite. Das janelas, avista-se a orla do Guaíba, agora vazia.
Todas as tardes, ele se desloca até o prédio, depois de incontáveis ligações e trocas de mensagens no Palácio Piratini — onde mora e tem seu escritório oficial. A distância entre os dois pontos é de cerca de um quilômetro, percorrida de carro.
Por volta das 14h, em vídeo, Leite presta contas à população e responde a perguntas da imprensa. Não altera o tom de voz e dificilmente perde a linha. Fala sempre de improviso.
— Ele tem tudo na cabeça — resume o vice-governador, Ranolfo Vieira Jr., que acompanha o trabalho de perto.
Na sequência, cabe ao chefe do Executivo iniciar a reunião das 14h30min, a mais importante do dia. Em geral, ele próprio cuida de tudo: conecta o laptop a um dos monitores na parede, abre arquivos e projeta o conteúdo na tela. É objetivo e detalhista — exige ser atualizado de cada detalhe.
Do encontro, participam integrantes do núcleo duro do governo, entre eles o vice-governador, as secretárias da Saúde, Arita Bergmann, do Planejamento, Leany Lemos, e da Comunicação, Tânia Moreira, os titulares da Fazenda, Marco Aurelio Cardoso, e de Governança e Gestão, Claudio Gastal, o procurador-geral do Estado, Eduardo da Costa, o chefe de gabinete, Paulo Moralles, e o chefe da Casa Civil, Otomar Vivian. Parte interage à distância, para evitar riscos.
— Está chegando som aí, Otomar? — brinca Leite, ao começar uma das sessões.
— Tem de ver se está chegando em Brasília, governador — responde o afiado articulador político, em referência às dificuldades enfrentadas para obter ajuda financeira da União.
Os entraves preocupam a todos. Leite tem tentado de todas as formas sensibilizar os interlocutores no Palácio do Planalto. Precisa de recursos para garantir liquidez ao caixa e reforçar as ações sanitárias. Evidências indicam que o quadro tende a se agravar.
— O governador sabe o valor da ciência e ouve muito os pesquisadores. Também sabe que vivemos uma crise de informação no país, tão relevante quanto a da saúde. Melhor errar pelo excesso do que pela falta — avalia o secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia, Luís Lamb, responsável por intermediar o diálogo entre o governo e mais de 40 estudiosos.
A obsessão por estatísticas, modelos matemáticos, gráficos e projeções faz com que os técnicos se desdobrem para municiar Leite — ele pede mais subsídios a cada conversa. As paredes da sala viraram murais. Há um cavalete por perto, onde folhas de papel são rabiscadas com dúvidas, tanto quanto a lousa digital. Responsável pelo comitê de dados do coronavírus, Leany têm trabalhado em dobro com a ajuda de um grupo de servidores especializados. Está satisfeita.
— Qualquer um que tenha um olhar acadêmico deseja exatamente isso: que políticas públicas sejam baseadas em indicadores. É uma dádiva termos um gestor que pensa assim — ressalta a secretária.