Quando decidiu morar no Palácio Piratini, o governador Eduardo Leite levou em conta a praticidade e a economia com segurança. A decisão, questionada à época por amigos e familiares que achavam estranho um jovem de 34 anos morar sozinho em um palácio com ares de museu, acabou se revelando providencial na crise do coronavírus.
Dizer que Leite mora no trabalho não é força de expressão. Poucos passos separam seus aposentos do gabinete em que despacha na ala residencial. As jornadas são de 12 a 13 horas diárias, com entrevistas, reuniões virtuais e algumas presenciais com os secretários do núcleo estratégico, entre os quais estão duras mulheres-chave na crise do coronavírus, as secretárias do Planejamento, Leany Lemos, e da Saúde, Arita Bergmann.
O governador não deixa sem resposta mensagens importantes de WhatsApp e só se desconecta do celular nas poucas horas em que está dormindo.
A solidão da vida no Piratini semi deserto, sem contato físico com a família, que mora em Pelotas, é atenuada pela companhia do cãozinho Bento, um Schnauzer miniatura que circula à vontade pela ala residencial.
Bento, que ganhou esse nome em referência a Bento Gonçalves, o herói farroupilha, entrou na vida do governador em agosto do ano passado e agora, nos dias de isolamento, fica com ele até durante as incontáveis videoconferências que substituíram as reuniões presenciais no Piratini. Um assessor conta que o cão é comportado. Praticamente não late e, por isso, não atrapalha.
Todas as noites, o governador pede comida de telentrega. Cada dia de um local diferente, para estimular o pequeno comércio. No início, os restaurantes achavam que era trote quando dava o Palácio Piratini como endereço. Agora virou rotina.
Para proteger os secretários e assessores que ainda circulam pelo Piratini, foram adotados cuidados adicionais com a higiene. Além de dispensers de álcool gel por todos os lados, o sabão dos banheiros foi substituído pelo produto usado nos hospitais.
O que mais mudou na rotina de Leite foram as viagens. Desde o início de março ele não vê os pais que, pela idade, estão no grupo de risco. Se antes eram frequentes os voos para Brasília e São Paulo, agora tudo é tratado por telefone ou pela internet — das reuniões com ministros a entrevistas para os veículos de comunicação do centro do país.
Leite se ressente da falta de exercício físicos, que deixou de fazer por falta de tempo. Com os assessores, comenta que está fora de forma e que, na quarentena, se descuidou da alimentação. A pequena cozinha montada na sua moradia no Piratini antes era repleta de produtos naturais.
Agora, a prioridade é outra: estudar documentos para embasar decisões que ajudem a reduzir os estragos do coronavírus no Rio Grande do Sul.