Depois de um dia inteiro de conversas reservadas com seus assessores, o presidente Jair Bolsonaro decidiu nesta quarta-feira (12) trocar o comando da Casa Civil e demitir o ministro da Cidadania, Osmar Terra (MDB). Onyx Lorenzoni (DEM) assume o lugar do colega gaúcho e, para o seu posto, deve assumir o general Walter Souza Braga Netto, convidado pessoalmente pelo presidente para gerenciar o time ministerial. A pasta, a partir da nomeação, terá o caráter político esvaziado.
Idealizado por Bolsonaro e por seu pequeno grupo de conselheiros com voz ativa no Palácio do Planalto, o rearranjo na Esplanada foi discutido à exaustão entre integrantes do governo.
À tarde, o clima era de incerteza no terceiro e no quarto andar no prédio da Presidência e na sede da pasta comandada pelo emedebista, já que a intenção de mudança nos titulares da Esplanada — embora noticiada pela imprensa durante a tarde — não havia sido confirmada pelos envolvidos. Os assessores foram avisados da troca de comando dos ministérios por volta das 19h.
— Onyx está feliz — respondeu um assessor após ter sido questionado sobre o semblante do ministro.
Durante a tarde, a iminente queda de Terra e a transferência de Onyx para o Ministério da Cidadania tornou caótico o ambiente do gabinete. Naquele momento, poucos conseguiam falar com Onyx, que tentava entender a lógica das mudanças pensadas por Bolsonaro e por assessores presidenciais mais próximos.
— Pela primeira vez desde o início do governo a chance é real de mudança. Até hoje, tudo o que rolou foi intriga e boato. Agora me parece diferente — disse uma pessoa das relações pessoais de Onyx que acompanhou a fritura sistemática do ministro dentro do governo.
Por volta das 16h30min, o chefe da Casa Civil foi chamado pelo presidente para ir até o seu gabinete. Logo depois, os dois desceram juntos para o segundo andar do Palácio do Planalto para participar da solenidade do Programa Lixão Zero, do Ministério do Meio Ambiente. Os dois saíram sem falar com a imprensa.
Perguntado sobre a situação de Onyx por jornalistas que gritavam pedindo uma manifestação, Bolsonaro ficou quieto. O silêncio sobre o episódio permaneceu, e a troca de ministros continuou sem confirmação oficial do Planalto ou de Bolsonaro.
Logo após o evento no Planalto, foi a vez de Terra ser chamado ao quarto andar, onde foi informado que sairia da equipe ministerial. Durante todo o dia, o emedebista reafirmava publicamente em eventos e à imprensa que continuaria titular do Ministério da Cidadania. Logo após ter almoçado com Bolsonaro, ao meio-dia, publicou no Twitter um vídeo ao lado do presidente falando sobre a política do governo para combater as drogas. A pretensão era mostrar que a paz reinava entre eles.
Entre outros fatores, a iminente demissão está atrelada à fila para a concessão do Bolsa Família e à investigação da Policia Federal (PF) envolvendo empresa de tecnologia contratada pelo Ministério da Cidadania acusada de fraude e usada, segundo a PF, para desviar recursos no Ministério do Trabalho no governo Michel Temer. Ninguém do MDB intercedeu a favor de Terra dentro do Planalto.
Já Onyx vinha perdendo espaço no governo desde o ano passado. Foi retirada dele a responsabilidade pela articulação política. Depois, sem ser avisado, teve um assessor de comunicação e o seu adjunto, Vicente Santini, exonerados da Casa Civil. A primeira demissão de Santini ocorreu após ele ter usado avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para ir até Davos, na Suíça, e, após, para a Índia.
O general Braga Netto, indicado para ser o substituto de Onyx, foi interventor federal no Rio de Janeiro em 2018, no auge da deflagração de ações criminosas na cidade. A exoneração e a nomeação dos assessores do presidente devem ser publicadas no Diário Oficial da União nos próximos dias.