Quando tinha dois anos, Maria Eduarda, hoje com 14, arrancou o celular das mãos do pai e jogou o aparelho em um chafariz em Gramado. Era a forma de expressar sua inconformidade com o excesso de dedicação do pai ao trabalho, já que, onde quer que esteja, o deputado Ernani Polo (PP) não desgruda do telefone para não deixar ninguém sem resposta.
O homem que aos 45 anos assume nesta segunda-feira (3) a presidência da Assembleia Legislativa é um workaholic confesso, que na definição da esposa, Alessandra, “está sempre ligado na tomada”. A relação dos dois já completou a maioridade: são 21 anos juntos, 15 de casamento, e dois filhos. Além de Maria Eduarda, o casal tem um menino de oito anos, Eduardo.
— Ele é uma pessoa generosa, que já admirava antes de começarmos a namorar. Sempre foi muito trabalhador. É um homem emotivo, que se magoa facilmente — define Alessandra.
Polo já avisou à mulher que o novo cargo vai subtrair ainda mais tempo da família e que, dificilmente, conseguirá levar as crianças à escola, às 7h30min. Alessandra entendeu o recado: pelos próximos 12 meses, as horas de convivência serão escassas. Ela não se importa. Apoia a carreira do marido e estará ao lado se decidir concorrer a outros cargos no futuro:
— Acho que ele vai longe.
A política está no DNA dos Polo. O pai, Alvorindo, foi duas vezes prefeito de Santo Augusto, no Noroeste. O filho concorreu a vereador em 2000 e fez 1.098 votos, a maior votação da história do município. No primeiro ano de mandato, assumiu a presidência da Câmara. Foi nessa condição que deu posse à mãe, Iracer, como viceprefeita da chapa encabeçada pelo tio, Florisbaldo Polo. Dona Iracer conta que, desde muito cedo, o filho mais velho se interessava pelas conversas de adultos e dava sinais de gosto pela política:
— Onde havia pessoas reunidas, lá estava ele, escutando. Sempre gostou de gente, de reuniões. Depois que foi trabalhar na Assembleia, como assessor do deputado Jerônimo Goergen, encontrou a vocação dele. Quando concorreu a vereador, fez a maior votação proporcional do Estado.
Aos 16 anos, assumiu a propriedade familiar
Antes de ir para a vida pública, Polo trabalhou na roça. No turno inverso da escola, ajudava o pai e a mãe plantando milho, capinando, cortando soja, tratando dos animais, tirando leite. Aos 12 anos, já dirigia o trator Valmet da família, operava a plantadeira, fazia de tudo na chácara dos pais, no interior de Santo Augusto.
Estava com 16 anos quando o pai assumiu a prefeitura e a mãe foi cuidar da assistência social. Por ser o primogênito, ficou responsável pela administração da propriedade. Ajudado pelos irmãos Ângela, Andréia e Flávio, tinha de tomar conta do tambo de leite e da lavoura. Fez curso de inseminação artificial e passava o dia envolvido com a lida do campo. À noite, estudava. Fez curso de Técnico em Contabilidade e começou a estudar Agronomia em Ijuí, mas não terminou o curso. Trocou pelo Direito, concluído na Ulbra, mas sempre se considerou mais agricultor do que advogado.
— Eu saí da roça, mas a roça não sai de mim — brinca o deputado, que, no recesso, volta às origens e ajuda o pai e o irmão Flávio na lavoura e no tambo de leite.
Depois de coordenar duas campanhas de Goergen, concorreu a deputado estadual em 2010 e, com 38.767 votos, ficou na segunda suplência. Assumiu o mandato no ano seguinte e, em 2014, foi eleito deputado com 57.427 votos. O colono de Santo Augusto virou secretário da Agricultura do governo José Ivo Sartori e usou os conhecimentos para implementar programas de apoio ao setor primário.
Em 2018, sua votação aumentou para 67.248. Foi o oitavo mais votado da Assembleia e o segundo do PP. No acordo para o rodízio na presidência, coube ao PP o segundo ano e Polo foi indicado ao cargo.
Atenção ao desenvolvimento
Com bom trânsito entre os colegas de diferentes partidos, Ernani Polo assume a presidência disposto a trabalhar por uma agenda de desenvolvimento e de modernização do Estado. Uma de suas bandeiras é a simplificação dos processos, para remover as travas que atrapalham investimentos.
— Temos de acabar com o preconceito contra quem quer empreender e ajudar o governo a criar as condições para atrair investimentos — sintetiza.
Uma das preocupações é melhorar a posição do Rio Grande do Sul no ranking brasileiro de competitividade. A base teórica do trabalho que Polo quer realizar com sua equipe é um estudo do Centro de Liderança Pública (CLP), organização que tem como propósito engajar a sociedade e desenvolver líderes políticos para enfrentar os problemas mais urgentes do Brasil.
Como o rodízio no comando do Legislativo é montado de forma a garantir a continuidade, Polo vai manter iniciativas da gestão de Luis Augusto Lara (PTB), como o programa Cresce RS, de monitoramento de projetos que dependem de alguma ação do Estado para deslanchar, e a campanha Valores que Ficam, de estímulo à doação de parte do Imposto de Renda devido para instituições do Rio Grande do Sul.
Lara está convencido de que a Assembleia ficará em boas mãos:
— Polo é um ser humano do bem. Uma pessoa qualificada, agregadora e de diálogo.