Ciente das resistências que perduram entre aliados, o governo do Estado aproveitou a virada do ano para implementar uma nova estratégia de articulação do pacote de ajuste fiscal, instituindo um calendário quase diário de reuniões com deputados e negociando um projeto de cada vez. A ideia do Palácio Piratini é garantir a aprovação, ainda em janeiro, senão de todas as medidas, ao menos da maior parte delas.
— Estamos debatendo cada projeto e veremos com o governo se será possível fazer os ajustes (pedidos pelos deputados). Senão, teremos de fazer a contabilidade dos votos — disse o líder do governo na Assembleia, Frederico Antunes (PP).
Ponto sensível do pacote, as mudanças para as carreiras dos militares entram na pauta de negociações desta quinta-feira (9). Caberá ao vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, acompanhado de secretários e técnicos do governo, tentar diluir as resistências de parlamentares às mudanças nas alíquotas de previdência dos militares. O MDB, maior bancada aliada e fiel da balança, diz ainda ter dúvidas sobre a constitucionalidade da proposta.
— Queremos ter tranquilidade sobre o aspecto jurídico dos projetos. O líder do governo criou uma metodologia de intensificar os trabalhos até semana que vem. Teremos oportunidade de esclarecer algumas coisas e sugerir outras — indicou Fábio Branco, líder do MDB na Assembleia Legislativa.
Na sexta-feira (10), o líder do governo na Assembleia espera receber do Piratini a nova proposta de plano de carreira dos professores. Esse projeto é o que conta com maior resistência entre aliados e terá que ser alterado emergencialmente para absorver o recém-confirmado reajuste de 12,84% no piso nacional do magistério. A tendência é que a tabela de subsídios dos professores originalmente prevista para 2021 seja antecipada para 2020, no projeto.
— Pelo jeito, esse (projeto) vai ficar fora (da votação extraordinária). Se formos convocados, esse projeto não votaremos — projetou a deputada Silvana Covatti (PP).
Silvana e mais 17 parlamentares da base aliada participaram de encontro com o governador Eduardo Leite, na ala residencial do Palácio Piratini, nesta quarta-feira (8). Durante o encontro, a fala do deputado Gilberto Capoani (MDB) destoou do ambiente ameno e cordial. Em alto e bom som, ele reclamou da falta de contato com a Casa Civil e disse ao governador que é contra o projeto que atinge o magistério. Leite argumentou que, sem a aprovação das medidas, haverá atraso ainda maior dos salários do funcionalismo.
— Mantemos a disposição de votação em sessão extraordinária, mas essa é uma decisão que vai ser tomada ali na frente, observando a construção — disse Leite, à imprensa oficial do Palácio Piratini, após o encontro.
No calendário de negociações, o governo reservou a próxima terça-feira (14) para buscar apoio à proposta de emenda à Constituição que acaba com as vantagens temporais e incorporação das funções gratificadas. O texto, que demanda o maior número de votos entre as medidas do pacote, é a considerado crucial pelo Piratini por acabar com o efeito cascata nos salários dos servidores.
— Entendi que a prioridade do governo é a votação da PEC. Tendo condição de votar a PEC, abre a porta para os demais projetos. Nos próximos dias, veremos se tem condições ou não de votar — avaliou Luis Augusto Lara, presidente da Assembleia, após o encontro com o governador.
Entre os agrados que o governo está disposto a fazer durante a negociação, está a inclusão de projetos de interesse dos parlamentares na pauta da votação extraordinária. O governo desejava ter votado todos os projetos de lei do pacote no fim de dezembro. Sem apoio na base, à época, adiou o calendário e pretende votar os textos entre 27 e 31 de janeiro, em convocação extraordinária.